Capítulo XI

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O MENTIROSO.

Quando jovem sempre distorceu a verdade para o favorecer. Como muitos acreditavam no que dizia ele continuou e se aperfeiçoou. Mentir para ele era algo tão natural quanto respirar.

Uma vez convenceu uma menina que era filho do rei, só para que ela lhe desse um beijinho. Certa vez querendo o lanche do colega convenceu que ele morreria se comesse o seu lanche e trocou o seu pobre lanche pelo o dele. Conforme cresceu, cresceu também suas mentiras, e pôs sua habilidade a trabalhar, promessas não cumpridas era sua especialidade. Prometeu riquezas, convenceu as pessoas a investir numa oportunidade única e garantida, todos que acreditaram perderam suas economias. Ficou conhecido e, portanto, ninguém mais dava crédito em suas palavras.

Quando o dia que o rei distribuiu seu tesouro chegou, assim como todos, se decepcionou – fui enganado – pensou ele de primeira. Porém era atento e percebendo como o pó foi se tornando valioso começou a vislumbrar uma oportunidade. Certas noites se olhava no espelho e perguntava a ele:

- Espelho, espelho meu, há alguém que eu não consiga convencer? – Ele se olhava com confiança e convicção e finalmente ele mesmo respondia:

- Não, não há.

É claro que por causa das suas mentiras ninguém sabia onde realmente morava. Trocava de rosto como se trocasse uma camisa, afinal se alguém o reconhecesse poderia ser seu fim. A medida que o tempo passava jogava suas sementes.

- Descobri um jeito certo de aumentar o tesouro, estou procurando um parceiro aceita?

- É sério? É claro que quero participar.

Lá se vai mais um pensava ele.

- Me empresta que te trago o dobro em um ano.

- Mas é claro.

Lá se vai outro. Nunca parava, pois o seu baú rapidamente se esvaziava, era a única coisa que lhe aborrecia. Procurava de todos os jeitos possíveis reter aquele pó mas não conseguia.

Quando o dia chegou estava confiante, checou o baú, não estava cheio, estava abarrotado. Levou o baú na carroça, e usando um rosto que nunca tinha usado se misturou na multidão.

O rei do alto do seu trono aponta para ele e este atravessa a linha com seu baú.

O rei o vendo logo o questiona:

- Por que mudaste de rosto?

Ele assustado pelo rei ter percebido logo responde:

- Nunca mudei o meu rosto majestade, esse é o meu rosto mesmo.

- Por que mentes para mim?

- Não estou mentindo.

- Está sim.

O silencio reinou por um minuto. O mentiroso se sentido acuado logo retruca:

- Não sei o que posso fazer para te convencer majestade de que esse é meu rosto.

- Nenhuma mentira que disser me convencerá, só a verdade.

- Majestade, não é o meu rosto que vai ser julgado e sim o baú. – Disse o mentiroso tentando contornar o assunto.

- É verdade, mas já me irritou antes quando veio buscar o baú com um rosto que não era o seu, e agora, diante de mim, novamente se apresenta com outro rosto.

A multidão ouvindo tudo ficou ouriçada.

- Como é? Ele não é quem aparenta ser? Então, quem é ele?

- Não pode ser! O rei deve estar enganado!

O rei ouvindo tudo, olhou para a multidão irritado, e esta temerosa se cala.

O rei e seu tesouroOnde histórias criam vida. Descubra agora