O dia parece ensolarado, mas as nuvens distantes avisam que uma tempestade está a caminho. Ontem à noite, Arthur enfim decidiu que continuaríamos a viajem, após confirmar se todos concordavam. Ele falará com o caçador, que concordou em nós guiar até certa parte do caminho, claro, por uma pequena fortuna em troca. Foi decidido que partiríamos logo ao amanhecer, então resolvi aproveitar a noite dormindo, por mais que quisesse passar ela me "agarrando" com Eduardo. O sol tinha acabado de nascer quando me levantei, usando a água aquecida em uma jarra, lavei meu rosto e escovei os dentes. Vesti um vestido branco de mangas compridas, suas amarras se encontrando nas laterais do busto, junto a um corpete preto com uma saia costurado a ele da mesma cor, Arrumei meus cabelos, prendendo os fios castanhos escuros em uma trança lateral. Por fim pus uma capa vermelha, só então desci para me encontra com meus amigos. Eduardo acordará antes de mim, pois teria que ajudar Arthur e William com o carregamento dos novos suprimentos.
Ao sair me deparo com uma Emma sonolenta, já ao contrário dela, Agnes parece disposta ajudando o pai a alimentar os cavalos. Aproximo-me de Emma, que boceja, e por uma ação involuntária do meu próprio corpo, faço o mesmo.
— Bom dia.
— Bom dia meu pau, queria estar dormindo. — ela boceja novamente, dando ênfase a sua fala.
Sorrio, cruzando os braços sobre meu peito. O leve vento frio da manhã bate em meu rosto, trazendo consigo o cheiro delicioso de orvalho. Tudo parece calmo, isso seria ótimo, se não fosse pelo pressentimento amargo que sinto. À noite tive pesadelos sobre luas sangrentas, pessoas dançavam em volta de enormes fogueiras, pulavam, gritavam, pareciam alegres, seus rostos pintados com algo vermelho, sangue... Arrepio-me ao relembrar o resto do sonho, criaturas medonhas rasgando pescoços, gritos de alegria se tornam gritos de puro terror, a festa acaba.
Viro-me a tempo de ver um homem, parecendo bêbado, conversando com Arthur. Ele cambaleia, segurando no ombro de Arthur para equilibrar-se, mas não perde tempo de tomar um longo gole da garrafa de bebida que carrega em sua mão.
— O caçador. — Emma murmura. — estamos fodidos.
Apenas concordo com a cabeça, ainda concentrada no homem. Uma longa cicatriz corta de sua têmpora até seu queixo, outra vai de sua testa a bochecha, passando por seu olho esquerdo, que parece estar danificado. Ele traja roupas surradas, uma calça cheia de remendos com uma camisa bege que aparenta já ter sido branca um dia, sua bota do pé direito tem um furo onde deveriam estar os dedos, e sua jaqueta não possuí uma das mangas.
Minha visão foca em algo, um pouco mais afastados dos outros, Eduardo e Agnes conversam, ela olha em minha direção me fazendo desviar o olhar ligeiro. Quando volto a observá-los, Eduardo tem suas mãos acariciando os braços de Agnes, em um ato reconfortante. Sinto uma pontada de ciúmes, por mais que não devesse, sei que os dois são primos, até possuem características físicas semelhantes, ainda assim é um sentimento inevitável.
— Ei, — Arthur nós chama. — venham, iremos partir.
Apresso-me, indo até uma das carroças. Penso sobre os ataques, por mais que eu não goste da ideia, tenho que concordar que seria mais seguro continuarmos na estalagem, pelo menos até o fim da lua cheia, ainda assim, não podemos perder esse precioso tempo. Emma se junta a mim na carroça, logo depois vejo Agnes entrar.
— Você vai conosco? — pergunto.
— Ah, sim. — ela senta-se ao meu lado na cama improvisada. — espero que não se incomodem. — sorri.
— Vou aproveitar e dormir um pouco. — Emma abre a boca em um bocejo. — me acordem quando for à hora do almoço.
Ela deita-se na cama, fazendo-nos levantar para lhe dar mais espaço. Decido ir até a frente da carroça, onde Eduardo a conduz. Caminho até a abertura na frente, sentando-me no banco ao lado de Eduardo, que segura os arreios dos cavalos. Percebo que já saímos do vilarejo, mas ainda estamos em uma estrada larga e pavimentada, olho ao redor e vejo o caçador. Ele monta um cavalo, galopando no nosso encalço, com uma garrafa de rum em suas mãos. O homem ainda parece meio tanto, mas com certeza mais sóbrio que antes. Ele percebe que o encaro, diminuindo a velocidade que o cavala anda para aproximar-se da carroça.
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SUPREMA ALCATEIA
WerewolfO que você faria se não lembrasse de nada do seu passado, e o mesmo volta-se para lhe atormentar anos depois? Joana foi encontrada por uma trupe de dançarinos há cinco anos, sem qualquer memória, ela se junta a eles. Quando tudo parecia bem, o passa...