Capítulo 5

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Corro, corro como se minha vida dependesse disso, e depende. Agnes já parece cansada, mas no meio da floresta iluminada pela luz da lua descobri que correr faz-me sentir livre, e por mais exausta que esteja eu ainda poderia correr por horas.

Agnes para, colocando as mãos sobre os joelhos ao tomar uma lufada de ar. Paro, juntando-me a ela; Agnes não está apenas cansada, está exausta, e fazem menos de vinte minutos que nos afastamos de Eduardo, o deixamos para trás... Forço-me a pensar em qualquer coisa que não seja ele.

- Tudo bem?

- Sim, só me dê um segundo. - ela ergue a cabeça para o céu, inspirando e expirando profundamente. - vamos.

Concordo, mas antes que voltássemos a nós movermos o barulho de não um, mas o que parecem ser vários animais correndo em nossa direção, pisando em folhas e galhos, pulando por cima de troncos e pedras, rosnando... Agnes me puxa, forçando-me a correr, dessa vez mais rápido que antes.

- O rio não está longe! - grita, sua voz quase encoberta pelos grunhidos que aproximam-se de nós.

Forço-me a correr o máximo que meu corpo permite, tentando desviar de galhos e árvores sem tropeçar por causa do terreno irregular, e mesmo assim, as criaturas parecem ficar cada vez mais perto de nos alcançar. Um uivo próximo faz meu coração já disparado acelerar um pouco mais, todo o meu corpo em pura adrenalina. Olho para o lado procurando por Agnes, mas não a encontro. Medo me faz parar, procuro por ela, grito seu nome, meus olhos vem e vão por cada canto daquela floresta.

- AQUI! - escuto seu grito, perto, mas não perto o suficiente para ser seguro.

Corro até ela - ou até onde acho que ela esteja - escutando as criaturas se aproximando cada vez mais. A encontro caída no chão, parecendo sentir dor. Aproximo-me dela, percebendo seu pé totalmente torcido.

- Consegue se levantar? - pergunto, passando um de seus braços sobre meu ombro.

Ela murmura que sim, colocando força no seu pé bom para levantar-se. Gemidos de dor saem por sua boca quando começamos a caminhar - não correr - tento apressar o passo sem machuca-la, mas isso é completamente impossível. Outro uivo faz os pelos do meu corpo se arrepiarem, e ignorando seus protestos de dor, começo a caminhar com um pouco mais de velocidade.

- Me desculpe... - murmuro em seu ouvido.

- Tudo bem, apenas continue.

Meu ombro dói, porém ignoro, forçando-me a aguentar o peso de Agnes. Aumento a velocidade dos passos, chegando a quase correr. Escuto um barulho diferente, não os rosnados constantes que nos perseguem, mas o som da correnteza, o rio. Apresso-me mais um pouco, até mesmo Agnes parece ignorar a dor em seu pé quando escuta o barulho da água. Vejo o limite da floresta, sinto o cheiro da água misturado a terra, está perto, muito perto, e por um segundo me deixo sonhar, conseguiríamos atravessar o rio e nós salvar, isso é certo. Mas sonhos são feitos para serem destruídos e despedaçados, pois no momento que chegamos ao limite da floresta percebo que seria impossível qualquer um de nós atravessarmos aquela correnteza. A água do rio é escura, parecendo ser fundo, uma correnteza assustadora arrasta tudo que caí nele, pedras afiadas saem do mesmo em alguns locais. Há apenas uma certeza, as criaturas não atravessariam o rio, porque nem nós faríamos isso.

- O que faremos? - pergunto temerosa.

- Eu não...não sei.

Arregalo os olhos, medo fechando aos poucos minha garganta.

- talvez devêssemos seguir pela margem do rio, até...até encontrarmos alguma parte mais rasa ou sem correnteza.

Mas sabíamos que não conseguiríamos fazer isso, pois aquelas criaturas demoníacas nos alcançariam antes disso. Tento pensar em algo, qualquer coisa, talvez se... Minha linha de raciocínio é interrompida quando duas das criaturas saltam de dentro da floresta, parando a menos de seis metros de nós, outras duas saem por trás delas, mas minha maior surpresa é perceber que não são as mesmas bestas que nos atacará antes.

SUPREMA ALCATEIAOnde histórias criam vida. Descubra agora