ESTAMOS AFUNDANDO!
E mesmo que me digam o contrário, não acreditarei. A canoa saculeja demais. Água respinga em meu rosto. O frio úmido congela minha pele. Logo estaremos no fundo do rio ou sendo esmagados pela correnteza.
Não tenho coragem de abrir os olhos, um pavor que cresce desenfreado dentro de mim impede-me de abri-los, de respirar, de imaginar algum cenário favorável em minha cabeça.
Se eu morrer aqui, nunca terei respostas para minhas perguntas. A morte dos meus amigos e da minha família terá sido em vão e eu terei de me conformar com isso, pois não há nada que eu possa fazer para conseguir me livrar disso.
Minha respiração fica pesada e ofegante. Sinto dificuldades em deixar o ar entrar. Meu corpo aquece e não de uma forma boa. Sinto que uma chama arde dentro de mim, queimando-me por dentro.
O puro sabor do pavor.
A água escura e gelada.
Mãos pesadas caem sobre meu ombro. Uma delas desliza em movimentos circulares por ele. Há uma certa doçura nisso.
― Kiya ― uma voz me chama. ― Você pode abrir os olhos? ― Os aperto mais.
As mãos pressionam suavemente meus braços e sinto o calor de um corpo aproximar-se um pouco mais.
― Escute com atenção, apenas escute...
O que ele quer dizer com escutar? O quê... E como um estalar de dedos, eu percebo. O barulho e a violência das águas agitadas se foram. A canoa não balança mais como antes.
Passou!
― Abra os olhos ― ele volta a dizer.
Eu os abro lentamente e a primeira coisa que vejo é o seu rosto, as tatuagens circulam sua face e os olhos profundos parecem observar minha alma.
― Você está bem? ― ele pergunta.
Minha voz falha, então apenas gesticulo com a cabeça.
Não.
― Já estamos chegando.
Percebo que ao nosso redor, o rio se alarga, e mais à frente é possível vê-lo terminar em uma lagoa. Ao fundo, montanhas altas emergem diante da floresta, seus picos tão altos que a neve os encobre.
Duas outras canoas nos acompanham, uma de cada lado da pequena embarcação.
Mais à frente, consigo ver pequenas cabanas se espalhando em uma das margens da lagoa. Apenas uma única cabana se assenta na outra margem. Esta parece menor que as anteriores. Deve ser a tal alcatéia.
Não posso dizer que é facilmente visível, percebo que uma pequena linha de floresta tampa parte da visão. Se alguém passasse por ali, pensaria que é apenas uma aldeia abandonada há eras.
O homem à minha frente, Adrik, parece preocupado. Há um vão entre suas sobrancelhas apertadas. Ele parece pensativo enquanto olha para nada em específico.
Meu coração ainda bate forte e minhas mãos não desafrocharam, mas aos poucos volto a controlar minha respiração. Isso nunca havia acontecido comigo.
― Você... ― o lobo murmura. ― se eu soubesse teria feito o caminho terrestre, demoraria dias ao invés de horas mas ...
Ele continua a falar, mas não o ouço. Não. Um zunido tampa meus ouvidos, impedindo-me de escutar.
A embarcação agora aproxima-se de um deque próximo às cabanas. Algumas pessoas começam a se amontoar ali, elas parecem tão assustadas quanto entusiasmadas. Eu mesma estou.
O zunido aumenta, junto com uma pressão. Quanto mais próximos da margem, mais forte meu coração bate. Uma dor aguda começa a se formar em minha nuca e logo se espalha por toda minha cabeça.
Em milésimos de segundos, eu começo a gritar. Eu não escuto, não sinto, mas sei que estou gritando. Algo está me dilacerando, tanto por dentro quanto por fora. Algo que surgiu do nada e não vai parar, não até me derrubar.
Em instantes, tudo se apaga, minha consciência se esvai e a escuridão consome tudo.
🌑🌒🌗🐺🌓🌔🌕
Bem, já faz um tempo ein akqkkq
Me desculpem por ter demorado tanto, foi um período conturbado, e continua sendo, mass.. vou me esforçar um tiquinho mais, prometo :)Eai, oq acharam?
Obs: ainda não sei, nem tenho previsão, de quando o próximo cap será postado
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SUPREMA ALCATEIA
WerewolfO que você faria se não lembrasse de nada do seu passado, e o mesmo volta-se para lhe atormentar anos depois? Joana foi encontrada por uma trupe de dançarinos há cinco anos, sem qualquer memória, ela se junta a eles. Quando tudo parecia bem, o passa...