🌻 Capítulo 10 🌻
Após despedir-se do gato e seguir seu caminho, Ana deparou-se com um problema: uma imensa plantação se estendia adiante; as folhas finas e longas entrelaçando entre si e impedindo qualquer passagem. Além disso, apesar de parecerem inofensivas, as folhas eram cortantes e Ana poderia facilmente se perder por entre elas. Estava ficando cada vez mais escuro, e as primeiras estrelas já podiam ser vistas no céu. Ela começou a andar em paralelo à mata, procurando por alguma abertura pela qual seria possível a travessia.
Ana andou por alguns minutos. Tudo estava silencioso demais — com exceção de algumas cigarras que cantavam às escondidas, orquestrando o início da noite. Até que, para além do som das cigarras, ela ouviu alguma coisa se mexendo por entre as folhas. Ela também escutou o som baixo de água batendo contra a pedra, como se algo grande e pesado estivesse agitando as águas. O barulho tornou-se mais alto à medida que Ana se aproximava. E então, de repente, uma cabeça cinzenta e redonda surgiu acima das altas plantas. Uma enorme tromba se ergueu em direção ao céu, expelindo água em todas as direções — inclusive, na direção de Ana, que não se importou com o banho repentino.
A fronte de um elefante surgiu por entre as folhas, os pequenos e doces olhos castanhos observando Ana com atenção. Não era um elefante muito grande, tampouco um filhote. Ele estendeu a tromba em direção à criança, oferecendo-lhe uma manga vermelho-alaranjada. O animal parecia sorrir, exibindo sua língua cor-de-rosa. Uma de suas presas, que não eram tão longas quanto as de um adulto, era menor do que a outra. Seu corpo cinzento estava quase completamente molhado. Ana pôde ver, atrás do animal, um rio cortar a plantação; tornando o solo ao redor úmido e cheio de lama.
A menina estendeu a palma e aceitou a fruta, apesar de não estar com fome. Ela comeria no caminho. Porém, não sabia para onde seguir; sem nenhuma passagem segura por entre aquela extensa plantação. Seria perigoso para ela atravessar aquele rio que, apesar de estreito, estava agitado e a noite se aproximava cada vez mais rápido.
— Obrigada, senhor elefante — a menina disse, observando a fruta com afeição. — Estou procurando uma trilha para chegar ao outro lado. Já andei muito, mas não achei. Está ficando muito escuro.
O elefante apontou sua tromba para além da plantação, agitando as orelhas.
— Também estou indo para lá! — ele disse. — Mas, infelizmente, não há nenhuma passagem para humanos. Essas folhas podem cortar sua frágil pele, além de ter algumas serpentes por entre elas. Conheço a maioria delas, são minhas amigas. Elas não gostam muito de humanos. Acha-os traiçoeiros.
— Que coisa... — Ana murmurou. — Gostaria de ser um pássaro agora para poder voar ao outro lado. As serpentes não me comeriam, pois elas não têm asas.
— Bem que, de longe, eu achei que você fosse um pássaro. Porém, ao se aproximar, vi que se tratava de uma humana, um filhote ainda. E pensei: filhotes humanos tem muita fome, e em minha casa tem muitas mangas — o elefante falou. — Aproveitei para tomar um banho e desfrutar os últimos dias de verão. E tirar a lama das minhas costas...
— Acho que ainda tem lama nas suas patas — ela apontou para as amplas patas redondas do animal.
O elefante se virou de lado, mostrando-lhe a grande barriga e o lombo quase completamente seco.
— Minhas patas não precisam estar limpas para oferecer-lhe uma carona. Venha, eu a levo para o outro lado. — disse o animal. — Aqui em cima, nem as plantas e nem as serpentes vão machucá-la. Não gosto muito de humanos sobre as minhas costas, mas eu gostei de você.
Ana olhou para cima. Apesar de o elefante não ser muito grande, ainda sim era um elefante. Ela nunca havia montado em um. Ele então posicionou a tromba entre a barriga e seu lombo, o suficiente para que Ana conseguisse apoiar o pé sobre a tromba e ser levada à parte superior do animal. Ela riu, abraçando a cabeça do elefante enquanto se equilibrava.
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Microcosmos
Spiritual🌻 Era uma manhã fria de agosto quando Ana, ao seguir seu gato pelo jardim, é envolvida por uma densa névoa que a leva para um mundo que definitivamente não pertencia ao seu. Neste mundo, uma ilha repleta de bosques, montanhas, belos jardins e um l...