5. O prisioneiro da ilha

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 🌻 Capítulo 5 🌻

Conforme Ana subia a trilha, ela ouvia uma voz distante e rouca. A menina não entendeu muito bem o que estava sendo dito, mas ela já pôde notar o comportamento irascível do homem. Quando chegou ao final da trilha, escondeu-se atrás de uma árvore para observá-lo com mais atenção.

Como era esperado, o homem estava preso em uma grande cela feita de fortes grades de ferro coberta de heras. Não era uma prisão feia ou desconfortável — pelo menos, não para Ana — pois, além da beleza das flores cobrindo o perímetro do cárcere, ficava sobre um extenso e alto penhasco. O sol se punha lentamente, convidando o homem àquele espetáculo; mas a hera que cobria as grades deixava o interior da cela escuro e sem visão alguma do próprio Sol. Dentro dela, havia uma cama feita de palha e algodão, com um travesseiro aparentemente confortável e uma pequena e generosa fogueira para aquecer seu corpo e sua comida. Apesar disso, o homem gritava, insultando a si mesmo e os objetos inanimados ao seu redor — como vasos, potes e até mesmo uma cadeira, que foi jogada para o lado pelo homem raivoso.

Ana se perguntou porque ele estava tão nervoso, e por um tempo temeu aproximar-se. Mas o homem não podia fazer nada com ela; pelo menos não preso naquele lugar. Quando saiu de trás da árvore e foi em sua direção, o prisioneiro não notou sua presença — estava ocupado demais andando de um lado para o outro, ainda alterado com a pobre cadeira. Ele usava uma calça simples e estava sem camisa, e Ana se assustou quando viu o buraco escuro no centro do seu peito. Foi neste momento que a menina entendeu o que o homem-cervo quis dizer; mas ela não esperava encontrar um homem, literalmente, sem seu coração. Ela ficou confusa e um tanto preocupada — afinal, como as pessoas vivem sem seus corações? Ana aprendeu que sem eles, as pessoas morrem.

No entanto, aquele homem estava vivo e não parecia sentir dor alguma, o que Ana achou muito estranho. Ela ficou em frente à cela, esperando que o homem a olhasse. Mas isso não aconteceu; então, ela decidiu tomar uma iniciativa.

— Olá — ela o cumprimentou. O homem não escutou. Continuou dizendo coisas que não faziam sentido para Ana. Talvez ela tenha falado baixo demais, assim, a menina repetiu mais alto (mais do que ela pretendia): — OLÁ!

O homem deu um pulo e olhou para ela com os olhos esbugalhados. A menina deu dois passos para trás, com medo daqueles olhos tão frios, tão vazios. De início, ele ficou paralisado, encarando-a de forma assustadora. Depois, deu um salto para frente — na direção de Ana — e agarrou as grades da cela. Ela se assustou novamente, mas permaneceu onde estava.

— Você! — o homem gritou, o dedo em riste. — Quem...quem é você?

— Meu nome é Ana — ela disse amigavelmente. — Qual é o seu nome?

— Meu nome! — gritou o homem, olhando para o teto de sua cela enquanto franzia as sobrancelhas. Por trás da expressão rígida daquele rosto, ela viu a dúvida. — Meu nome... Não importa!

— Você esqueceu? — Ana sentiu pena daquele homem. Quis dar-lhe um nome, mas não fazia ideia de qual. Nada vinha na mente da criança; que sempre foi muito boa para escolher nomes.

— Não! — o homem insistiu, arregalando os grandes olhos castanhos. — Quem é você para me questionar, garota petulante?

— Ana Cecília — a criança repetiu, dessa vez falando seu segundo nome. — Tenho dois nomes. Mas as pessoas costumam me chamar de Ana. Mamãe me chama com os dois quando está brava... Ou na escola, quando a professora faz a chamada. Uma delas me chama só de Cecília, pois ela acha muito bonito. Eu gosto do meu nome — ela se aproximou um pouco mais perto da cela, lentamente; como se o homem fosse um animalzinho preso e indefeso que pudesse se assustar. Ana não sentia mais tanto medo dele. — Sua mãe não te deu um nome?

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