🌻 Capítulo 13 🌻
A menina não sabia muito bem o que acontecera — ela apenas se lembrava de ter seguido o cão por um longo corredor da caverna. Depois, não se recordou de mais nada, pois adormecera assim que chegaram ao outro lado. Assim que abriu os olhos, viu o céu pintado de rosa e laranja; o Sol ainda escondido em algum ponto da ilha. O pote com o coração estava ao seu lado, e a relva macia e verde sustentava o seu corpo. Quando se sentou, ainda sonolenta, percebeu que estava sob uma árvore repleta de frutos.
Ainda sentada, ela olhou para o belo e já conhecido jardim à sua frente. Nada havia mudado: as flores, os pássaros, as árvores, as abelhas. O Sol aos poucos aparecia no horizonte, e o vento da manhã trazia-lhe o mesmo perfume das flores. Sua estrela preferida estava no céu; e até mesmo a Lua, que aguardava a chegada completa da Grande Estrela. A única coisa diferente era que tudo estava muito úmido e, além do aroma das flores, o cheiro de terra molhada adentrava suas narinas. Portanto, havia indícios de que havia chovido bastante, mas Ana estava completamente seca. A árvore, provavelmente, havia lhe protegido da inevitável tempestade.
— Bom dia, criança — Ana escutou uma voz que reconheceu de imediato. Virou o pescoço, e a cisne surgiu por entre as flores do campo.
— Ah! Você de novo — a menina exclamou, feliz. — Eu consegui! Achei o coração do prisioneiro. Está aqui — ela apontou para o pote.
— Estou vendo! Acompanhei sua jornada. Você se saiu bem. O cão me avisou que você adormeceu logo quando chegaram ao outro lado, e eu tomei a liberdade de trazê-la para cá.
— Estou em seu jardim de novo...
— É o seu ponto de chegada. Não precisa devolver isto? — ela apontou o bico para o recipiente.
— Preciso — ela se levantou rapidamente, pegando o pote com cuidado. — Gostaria de poder ficar mais um pouco aqui, porque é tudo muito bonito, mas eu preciso ir agora.
A cisne balançou a cabeça, erguendo o elegante pescoço.
— Muito bem, minha filha — a ave falou, orgulhosa. — Muito bem.
✮✮✮
Ela fez todo o trajeto de volta, seguindo sempre em linha reta — desviando-se apenas de troncos caídos, emaranhados de plantas e algumas árvores. Um bando de vagalumes surgiu em seu caminho, aparecendo e desaparecendo com suas luzes. A claridade da manhã não penetrava aquele bosque fechado, por isso, Ana conseguiu vê-los com mais clareza; a luzinha que emitiam destacando-se naquele cenário verde-escuro. A menina sorriu para eles, alguns passando tão próximos de seu rosto que ela pôde ver suas asas, seus olhinhos e suas antenas. Quanto mais ela caminhava, mais o bando se multiplicava, espalhando para todos os lados. Ela costumava ver vagalumes em sua casa, mas não tantos de uma vez. Eram como estrelas-voadoras.
Os pequenos insetos brilhantes a acompanharam até que ela finalmente regressou à clareira sobre o penhasco, onde anteriormente estava a prisão do homem. Desta vez, no entanto, as grades estavam quase totalmente destruídas; como se tivessem sido derretidas. A grama ao redor estava escura e chamuscada, e as trepadeiras que antes envolviam as grades estavam caídas no chão. O prisioneiro estava deitado sobre a cama de palha, adormecido. Estava tão imóvel que Ana achou por um momento que ele estivesse morto. Mas ela sabia que não estava, pois a menina sentia o coração do homem pulsando em suas mãos.
Sentado ao seu lado, com o cajado na mão, estava o homem-cervo. Olhava para o humano adormecido como se olhasse um bebê recém-nascido, passando uma das mãos em sua testa pálida. Os passarinhos ainda insistiam em fazer ninho em seus chifres, mas o homem-cervo não parecia se importar nenhum pouco.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Microcosmos
Spiritual🌻 Era uma manhã fria de agosto quando Ana, ao seguir seu gato pelo jardim, é envolvida por uma densa névoa que a leva para um mundo que definitivamente não pertencia ao seu. Neste mundo, uma ilha repleta de bosques, montanhas, belos jardins e um l...