Um mês. Ele estava em uma cidade estranha em que não conhecia ninguém. Longe da família,que ele tanto amava,a um mês,por mim.
- E você está hospedado em um hotel a todo esse tempo Theo? - Indaguei. Uma sensação nova percorrendo minha garganta ao pronunciar o nome dele. Fazia dois anos que eu não pronunciava aquele nome,evitando a todo custo qualquer memória e relação com ele. - Como você está vivendo aqui?.
O sorriso de canto dele se iluminou e abriu ainda mais. Os olhos se tornando risquinho charmosos novamente.
- Eu moro aqui agora. - Disse o moreno. Ainda com um sorriso estonteante e orgulhoso nos lábios. - Trabalho como tatuador no centro da cidade. E aluguei um quarto em um centro de aluguel dirigido por uma senhora,não muito longe dali.
Meus olhos curiosos me traíram,correndo por cada uma das mãos dele,analisando cada desenho escuro ali. As mãos dele seguravam uma sacola maior do que eu carregava,cheia de muitas balas de menta e as batatinhas aceboladas que eram minhas preferidas. Ele a segurava em frente ao corpo com as mãos estendidas, de forma um pouco tímida e não correspondente com sua estatura alta. Eram as mesmas mãos que acenavam toda noite em chamadas de vídeo longas,desenhava caricaturas minhas e fazia sombras de bichinhos com a ajuda de um abajur.
- Você virou tatuador? - Indaguei. Surpresa com minha boca insistindo em ficar aberta e a respiração meio pesada. - Isso é tão legal.
Nossos olhos se encontraram de novo. Meu estômago me traindo e acumulando mais malditas borboletas. Até que um pensamento me atingiu em cheio, eu estava em um relacionamento. E ele era real, mais real do que qualquer coisa entre Theo e eu. Eu acho. Real o suficiente para envolver uma amizade forte entre nossas famílias e laços fortes entre nosso amigos. Nosso circulo social era o mesmo,e eu nem me lembrava da última vez que havia saído sem o Lucas e os amigos dele. Era real,certo?.
- Sim!. - Ele assentiu felizmente. A animação dele me doeu um pouco. Uma nostalgia de nossas conversas sobre o futuro e o que queríamos rondava a minha mente,em pequenos flashes de memória. - Comecei vendendo meus desenhos para outros tatuadores. Fiz um curso e comecei a trabalhar em um lugar perto de casa.
Os olhos escuros brilhavam com aquilo, era o sonho dele, e podia se ver em cada sorriso e detalhe de suas feições que ele amava aquilo.
- Como conseguiu uma vaga do outro lado do país?
Indaguei a ele.
- Eu comprei o studio. - Completou. - O antigo proprietário queria se mudar,e eu queria um lugar aqui, ele fez um bom preço.
Meus olhos saltaram. Mas um alívio percorreu o meu corpo,meus ombros relaxaram ao entender que ele não estava apenas se virando, estava construindo uma vida.
Construindo uma vida?
- Eu fico muito feliz por você estar cumprindo seus sonhos. - Eu disse. Vendo mais um sorriso,e notando subitamente que seus dentes estavam perfeitamente alinhados. Diferente do que eu me lembrava. - O seu sorriso. Sempre foi assim?.
Suas bochechas adquiriram um outro tom de rubor.
- Usei aparelho nos últimos dois anos. - Alegou. Parecendo mais sério, amargo de alguma forma.- E você?. O que tem feito?
Droga.
- Eu estou fazendo curso de artes na faculdade da cidade vizinha. - Me apressei em responder. Ainda sentindo dificuldade com as palavras. - Trabalho em uma casa de idosos e vendo os meus desenhos também.
Por que minhas bochechas estavam tão quentes?
Sua expressão amarga pelo último assunto se dissipou um pouco,dando lugar a um certo entusiasmo.
Eu não podia falar do namoro pra ele naquele momento. Certo?
Ele não merecia isso.
- Você cuida de velhinhos porque se identifica com eles,não é? - Ele indagou risonho. - Sempre regando plantas e tomando chás.
Sorri largo.
- Claro,eles me amam.
Completei. Vendo-o chegar mais perto.
Por que ele estava tão perto?
Theo estava tão perto,que teve de segurar a sacola na lateral do corpo,e não em frente como fazia antes.
Eu me recusei a levantar os olhos em direção ao rosto dele. Mesmo sentindo parte da respiração dele no topo da minha cabeça,e sentindo o cheirinho de menta,que era resultado das tantas balas que ele comia por dia.
Ele deveria ser alto assim?
- Pensei que você tivesse 1,69 de altura.
Sussurrei, ainda olhando para o chão.
Ele riu nasalado.
- Eu cresci em dois anos Lilia. - Ele inclinou a cabeça pra que ficasse com o rosto na altura do meu. - Agora tenho 1,80 de altura.
Arrepio inesperado.
A respiração dele estava perto demais.
O hálito de menta dele estava me deixando tonta.
- Tenho que ir pra casa. - Quero ir pra casa fugir de você e o seu hálito cheiroso!. - Já está muito tarde e tenho que trabalhar amanhã.
Ele tornou a levantar a cabeça,e se afastou alguns centímetros. Mas minhas bochechas continuavam queimando,e o cheiro de menta ainda estava impregnado no meu olfato.
De repente, senti um estalar delicado no topo da minha cabeça.
Um beijo.
O sentimento de culpa me atingiu como um soco no estômago. Lucas tinha me dado um beijo no mesmo lugar a menos de duas horas. Isso não era certo.
- Tchau Lilia. - Ele sorriu e se afastou. Andando lentamente de costas na direção em que tinha vindo,ainda olhando pra mim. - Foi muito bom te ver. Me desbloqueia pra podermos conversar .
Droga.
Eu tinha mesmo bloqueado ele.
- Pode deixar! - Respondi súbita. - Eu amei ver você,
A frase mais verdadeira que eu havia dito o dia todo. E a que eu mais odiava.
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Conectados
RomanceLilia,como a maioria dos adolescentes,tinha encontrado seu primeiro amor pela internet quando tinha seus 17 anos. Mas com o fim daquilo, a garota se sentia pronta para viver um amor mais fácil, com menos mensagens de texto e distância. Dois anos s...