Fazia dois dias desde a última vez que eu e Lucas havíamos conversado. Dois dias calmos e bons, e uma semana desde que eu e Beah nos reencontramos depois de tantos anos. Já era tarde quando o telefone soou ao meu lado na cama.
- Alô ?
Atendi no automático, esforçando-me para soar imparcial ao frio que percorria minha espinha.
- Lilia, é o Theo.
Eu sei.
- A-ah. - Gaguejei. - Oi Theo, o que foi?
- Quer tomar sorvete?
- Quando?
Questionei abruptamente, ouvindo meus próprios batimentos ao pé do ouvido.
- Agora. - A voz grave ao outro lado da linha soou divertida. - Ou está ocupada?
- Espere um segundo.
Disse, antes de tapar o aparelho com uma das mãos e leva-lo para longe do meu rosto por alguns segundos. Respirando fundo e regularmente, contendo as borboletas que remexiam-se dentro de mim.
Isso é patético.
- Tudo bem, não estou ocupada. - Completo em um tom falso e calmo, após levar o aparelho -celular até um dos meus ouvidos novamente. - Onde ?
- Posso te buscar se quiser.
Suspirei profundamente em ansiedade.
- Pode ser.
- Me inscrevi na peintures et art - Admiti, suspirando o mais fundo que pude. - Só posso estar ficando maluca.
- Por que diz isso? - O maior me cutucou de leve, procurando meus olhos. - É uma boa universidade.
- É do outro lado do pais. - Dei de ombros, desviando os olhos dele, para mirar no céu acima de nós. - Não faço ideia de como viveria tão longe.
- Você dá um jeito, é a garota mais esperta que eu conheço.
Ri com humor.
- Você conhece pouquíssimas garotas Theo.
- Certo. - Ele bufou fingido. - Mas conheço uma ou duas, e você é esperta sim.
- Acho que você ainda vê a Lilia do ensino médio. - Fechei os olhos cansada. - Ela tinha tantos sonhos , energia, e boas notas.
- Você ainda é a Lilia.
- Mas não a mesma. - Me esforcei em engolir o nó de choro que se formava em minha garganta. - Ela ficaria tão decepcionada comigo.
- Quem?
- A eu do passado ou a minha mãe,na verdade,com certeza as duas.
- Sua mãe?
A voz grave soou preocupada.
- Ela queira tanto que a única filha fosse bem sucedida.
A mão grande buscou a minha, e a apertou com um pouco mais de firmeza, quando tentei me desvencilhar do toque único. Os dedos se entrelaçaram aos meus, firmes e confortáveis, trazendo faiscas por toda região.
- Você é. - Ele deu ênfase a afirmação. - Um sucesso Lilia.
- Tinha de ver o rosto dela quando eu disse que queria cursar arte. - Mantive os olhos fechados, inerte na sensação de conforto daquele momento. - Ela ficou de coração partido.
- Não se culpe por isso, nem sempre deixamos todos felizes.
- Sinto tanta falta dela Theo. - Admiti baixinho, apertando mais meus dedos entre os dele, sentindo uma lágrima rebelde rolar pelo meu rosto. - Queria que ela tivesse ficado orgulhosa.
O rosto dele se virou em direção ao meu, que ainda continuava em direção ao céu, mas pude sentir a aproximação dele e a respiração quente mais perto.
- Ela te amava, tenho certeza que no fim de tudo. Quando as coisas ficaram claras de verdade, ela ficou orgulhosa pela filha linda que criou.
Virei meu rosto em direção ao seu, surpresa ao abrir os olhos e vê-lo mais perto do que o esperado. O cheiro do hálito de mente inundou meu olfato, e os olhos escuros brilhavam muito.
- Você acha?
Sussurrei, baixo o bastante para que apenas ele pudesse ouvir.
- Tenho certeza.
Theo sussurrou de volta.
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Conectados
RomanceLilia,como a maioria dos adolescentes,tinha encontrado seu primeiro amor pela internet quando tinha seus 17 anos. Mas com o fim daquilo, a garota se sentia pronta para viver um amor mais fácil, com menos mensagens de texto e distância. Dois anos s...