- Vai trabalhar até o horário de sempre? - Questionou Lucas, com as bochechas ainda meio cheias de cereal. - A gente podia fazer alguma coisa juntos,se você quiser.
Dei de ombros,tomando um gole de leite de soja.
- Hoje estou liberada no período da tarde. Mas você vai estar no escritório com certeza.
Ele assentiu.
- Podemos sair para jantar a noite. - Ele parecia meio tenso de repente, desvencilhando seus olhos dos meus. - Na casa de sushi que você gosta.
- Tudo bem. - Olhei de canto para o meu celular acima da bancada, checando o horário. - Me manda uma mensagem quando estiver indo pra lá. Eu tenho que ir agora.
Assim que apanhei minha bolsa e depositei a caneca de leite ainda pela metade na mesa, pude sentir uma tensão eminente e repentina. Isso acontecia as vezes,o clima entre nós esquentava e esfriava da horas em horas. E de repente, estávamos distantes de novo. Mesmo que tivéssemos acabado de acordar um ao lado do outro, quando o dia voltava a correr, as coisas mecanizavam.
O período da manhã passou voando, e de repente já era hora de me despedir e voltar para casa ás uma hora da tarde. Naquele dia, uma estagiaria estava sendo testada,a gerência precisava ver como ela se sairia sem uma supervisora veterana,e por isso me liberaram naquele período. No caminho de volta pra casa, passei em frente ao local em que encontrara Theo pela primeira vez. As lembranças vindo acompanhadas de um frio repentino na barriga. De repente, percebi que não havia o desbloqueado, e nem entrado em contato.
Eu deveria?
É o melhor a se fazer?
Eu poderia apenas deixar pra lá, sumir do mapa e torcer para que não nos esbarrarmos novamente. Mas algo dentro de mim sabia, e tinha a certeza, de que isso partiria o coração dele em pedaços. Eu não conseguiria.
- Por que fez isso? - Perguntei baixinho, com a voz rouca e garganta dolorida pelo choro recente. - Eu não sou mais criança mama!.
- Isso está te fazendo mal pua! - Ela declarou em voz delicada. - Fica o dia inteiro nesse celular e nem tem mais saído com suas amigas, além de não dormir de noite.
Um soluço tomou minha garganta,as lágrimas voltando sem aviso embaçaram minha visão.
- E por que chora tanto? - Continuou a mais velha. A mão delicada indo em direção ao meu rosto molhado. - Você nunca foi apegada as redes sociais, o que está acontecendo com você?
Levantei meus olhos até os dela, e sua expressão se franziu em surpresa, ela me conhecia bem demais. Tinha notado a frequência anormal com qual eu andava falando ao celular, e a forma como sorria diferente. Eu não teria conseguido esconder dela por muito tempo.
-'Oha?
Perguntou ela, os olhos confusos.
Amor?
Deixei as chaves de casa sobre a mesa da cozinha,me desvencilhando daquela lembrança ,os olhos percorrendo o cômodo completamente límpido e em ordem. Ele sempre mantinha tudo limpo. A pia estava vazia e seca, e as canecas e tigelas que usei antes de sair para trabalhar estavam perfeitamente lavadas e organizadas no escorredor. A mesa estava limpa e livre de migalhas, e as cadeiras ao seu redor estavam em seus devidos lugares, que beiravam a simetria.
O som incomodo do toque telefônico soou, e apanhei o celular o mais rápido que pude, atendendo a chamada do número não identificado.
- Alô?
Questionei ao celular, ouvindo uma respiração no outro lado da linha.
- Lilia?
Theo.
Identifiquei a voz grave instantaneamente de forma automática. Mas não consegui dizer nada em resposta, nem uma única palavra ou silaba.
- Eu sei que não quer falar comigo. - Continuou ele. - Não me desbloqueou, nem me ligou. Mas precisamos conversar, você sabe que sim.
Respirei fundo,sentindo uma dificuldade repentina no ato.
- Tudo bem. - Disparei, atropelando meus pensamentos. - Onde?
- Em qualquer lugar. - A voz dele pesou um pouco mais. - Desde que eu possamos ficar sozinhos.
Meu raciocínio me citou o óbvio, teria de ser um lugar onde Lucas não poderia nos encontrar. E toda a cidade era cheia de amigos e conhecidos dele, que acabariam me deletando de qualquer forma. Isso seria difícil de explicar.
- Pode ser na sua casa? - Questionei em voz baixa, o arrependimento pela sugestão me tomando por inteiro. - E-eu te explico o porque depois,eu juro.
- Pode sim. - Permitiu ele, parecendo tão chocado quanto eu pela minha iniciativa.- Me desbloqueia, e eu te passo o endereço.
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Conectados
Roman d'amourLilia,como a maioria dos adolescentes,tinha encontrado seu primeiro amor pela internet quando tinha seus 17 anos. Mas com o fim daquilo, a garota se sentia pronta para viver um amor mais fácil, com menos mensagens de texto e distância. Dois anos s...