Capítulo 05

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    Os meus olhos se abriram lentamente,relutantes pela luz clara que entrava pela janela do quarto. Pouco a pouco a visão do rosto adormecido de Lucas ficando mais clara,o cabelo escuro recaindo sobre os olhos fechados e tranquilos. Até mesmo a respiração dele era quase imperceptível,serena e confortável. Quase tudo nele era sereno e calmo,cada ato ou dizer tranquilo até demais. Ali, frente a frente e tão de perto, tudo nele parecia trazer paz a qualquer um que o visse. A pele clara e sem nenhuma mancha ou imperfeição e as feições delicadas que transmitiam paz por si só. Era impossível olhar para Lucas e não se sentir confortável.

  Uma certa inquietação atingiu a feição antes calma dele, sinalizando que ele estava acordando. Me sentei na cama com delicadeza,para que não o acordasse de forma súbita. Sentindo o peso da culpa cair sobre os meus ombros,pesando de forma cada vez mais árdua. Ouvi o outro ao meu lado se sentar também, mas de frente pra mim. Em seguida,senti uma das mãos delicadas tocando o meu rosto ainda inchado pelo acordar recente.

- Bom dia minha flor.

Sussurrou ele, a voz grave pelo sono e as palavras arrastadas.

Fechei os olhos sentindo sua mão sobre o meu rosto,aproveitando aquela sensação.

- Eu preciso te contar uma coisa.

Disparei. Pondo minhas duas mãos sobre a sua,que ainda estava no meu rosto. Ainda sem coragem de levantar os olhos para encara-lo.

- O que houve ? - Perguntou ele, com o tom de voz ainda confuso e grogue. - Você está se sentindo mal?

Levantei meus olhos até os dele,vendo o ar de preocupação pairando nos olhos escuros.

- Eu menti pra você. - Vi sua feição cair, as sobrancelhas se franzirem. - Faz muito tempo atrás,e eu não pensei que um dia precisasse corrigir isso.

A mão dele se mexeu até estar longe do meu rosto, e das minhas mãos que tentavam envolve-la.  Ele aguardava em silêncio, com os olhos ainda vidrados nos meus em espera.

- Você não foi meu primeiro namorado. - Completei. Vendo sua feição se suavizar em alívio. - Eu tive um namorado antes de nos conhecermos, mas tive vergonha de te contar.

Ele arrastou o corpo para mais perto do meu, até que estivéssemos a centímetros do rosto um do outro. E envolveu meu rosto com as duas mãos grandes,sorrindo um pouco.

- Tudo bem. - Ele riu baixo. - Você realmente me assustou.

Um certo alívio percorreu o meu corpo,parte do peso indo embora.

- Você não está triste porque eu menti?

Indaguei confusa, meus olhos procurando uma resposta nos dele.

- Tínhamos 17 anos  quando nos conhecemos. - Suas mãos fizeram um leve carinho no meu maxilar. - E eu fico feliz por você ter me contado agora.

Assenti positivamente com a cabeça, sorrindo um pouco.

- E se você teve vergonha, certamente era alguém sem importância. - Ele balançou a cabeça compreensiva mente. - Todos temos coisas de que nos arrependemos.

Completou ele.

Um frio percorreu o meu estômago,como um soco.

Ele teve importância,ele é importante. Ele está na cidade, e eu acho que ele ainda me ama!.

Mas eu não podia dizer isso a ele.

- Você não quer que eu te conte os detalhes?

Indaguei novamente. Vendo-o se aproximar do meu rosto e depositar um beijo delicado na minha testa.

- Não me importa amor. - Ele ainda mantinha o rosto muito perto do meu,os olhos ternos. - Você sabe como eu me sinto quando falamos do passado.

Ah, claro. A regra sobre não falarmos do passado. Como se nossas vidas antes um do outros não valesse de muita coisa, como se não fosse importante. Parte de mim tinha certeza que essa neura era devido a um grande erro,um erro enorme, que ele havia cometido  antes de nos conhecermos. Algo do qual ele se envergonhava e se arrependia,mas mesmo assim, era ruim não saber de quase nada sobre o passado dele. Nada sobre suas antigas escolas,namoradas e nem o porque ele havia se mudado para a cidade com a família. E além de eu não conseguir nenhuma informação sobre ele, não tinha brecha para falar sobre o meu passado. De inicio,eu achei o máximo não ter que contar sobre o Theo,sobre o amor que eu sentia ou sobre coisas do passado. Como se ignora-las fizesse com que elas desaparecessem. Mas depois de quase três anos em um relacionamento, essas conversas faziam falta.

- Sei.

Sussurrei. Sentindo um beijo terno e rápido dele em meus lábios. E outro na minha bochecha logo em seguida.

- Você está linda. - Sussurrou ele. A cabeça pousando na minha clavícula em um carinho preguiçoso. - Amo como o seu rosto fica lindo quando acorda.

Repousei meus braços sobre os ombros largos.

- Você também fica lindo quando acorda. - Assegurei, sincera. - Mas deveria por uma camisa, vai pegar um resfriado assim.

Ele riu divertido. Levantando a cabeça,e tornando a deixar o rosto perto do meu.

- Estou falando sério.

Assegurei,vendo-o sorrir ainda mais. O sorriso dele era lindo,ainda mais quando visto de tão perto. Senti minhas bochechas arderem de repente.

- Você está vermelha? - Os braços carinhosos se colocaram ao redor das minhas costas. - Tinha me esquecido do quão linda você fica envergonhada.

 Pude sentir todo  o meu rosto arder em resposta ao elogio.Me apressei em abraça-lo, meus braços o apertando-o para mais perto de mim, sentindo o cheiro do sabonete que ele usava.

- Eu te amo.

Declarou ele, e eu pude sentir ele sorrindo, enquanto uma de suas mãos deixava minhas costas para alisar o meu cabelo embaraçado.

Eu queria responder.

Eu podia ter respondido.

 Mas ao invés disso, apenas me esforcei em ficar colada a ele, por cerca de cinco minutos até levantarmos para o café.





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