Capítulo 20

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Point of view by Lalisa Manoban

- Já sabe o que é, Nini? - perguntei animada enquanto montávamos o quebra-cabeça, ela olhou e começou a sorrir largamente enquanto conectava as pecinhas em seus devidos lugares, acho que já imaginando a imagem que formaria.

- É um.. urso p-panda?

- Não sei, teremos que terminar para saber.

- E-eu amo p-pandas, eles são l-lindos.

- Eu sei que você ama eles, é uma das coisas que eu nunca irei esquecer.

- Lalisa, telefone pra você - Kim Jisoo apareceu e me avisou, fazendo Jennie me olhar curiosa, eu franzi o cenho e desci as escadas até a sala, aonde o telefone estava fora do gancho.

- Alô?

- Lisa, graças a Deus - Rosé resfolegou do outro lado da linha - Lindsey acabou de ter uma convulsão, está sendo encaminhada até a sala de exames, não reage a nenhum comando, você precisa vir pra cá agora!

- Ok! Eu estou a caminho, preparem a sala de raio x também, pode ser útil, chego aí em quinze minutos - desliguei o telefonema e alcancei o meu sobretudo, começando a planejar o que faríamos caso ela não reagisse sobre nada. Mas me arrancaram dos pensamentos quando tocaram o meu pulso, olhei para trás e vi Jennie, segurando a minha mão, não querendo me deixar ir - Hey, eu preciso ir agora, aconteceu uma emergência no hospital.

- Mas.. você f-falou que ficaria..

- Eu sei, Nini, mas é uma das pacientes mais velhas, preciso dar uma atenção especial, irei voltar amanhã, eu prometo - sorri rapidamente para ela, dando um rápido beijo em sua testa.

Tentei ser o mais rápida possível sobre a corrida, conseguindo pegar um táxi no meio do caminho, chegando e percebendo a correria sobre o setor de exames, vesti o meu jaleco, lavei as mãos e afastei alguns enfermeiros, vendo a senhora deitada na maca, completamente imóvel. Aproximei meu ouvido perto do seu nariz, senti a ventilação minimamente fraca saindo dali, respirei em alívio prévio, ela ainda estava viva.

- Máscara de oxigênio, agora - ordenei, massageando o tronco, estimulando a sua respiração, Rosé logo apareceu, me ajudando com a reanimação precisa - Quando isso aconteceu?

- A dez minutos atrás, tentei te ligar, mas não achava de jeito nenhum o número, quando achei ela já estava desmaiada.

- Eu verifiquei ela antes de sair, ela estava bem - murmurei - Ela nunca teve isso antes, alguém aumentou ou diminuiu a dose do remédio dela?

- É claro que não, a única que pode fazer isso é você.

- Ok, os batimentos cardíacos dela estão estáveis, temos que achar a causa da convulsão. Ela teve febre em algum momento?

- Lalisa, quem cuida dela é você! Você sabe que ela não deixa ninguém chegar perto a não ser você, mas você agora vive na casa daquela mulher, não posso responder isso a você.

- Aqui é um hospital, Chaeyoung, alguém além de mim deveria supervisiona-la, não posso estar aqui o tempo inteiro.

- Assim como não pode estar com a Jennie o tempo inteiro, você tem um trabalho, e pacientes além dela.

- Eu sei disso.

- Não está parecendo.

Olhei para Chaeyoung com repreensão e me encarreguei de ejetar o soro na senhora ainda desacordada, observei novamente os batimentos cardíacos e vi estabilidade neles, agora deveria aguardar Lindsey acordar para poder iniciar alguns exames. Andei até dormitório dela e dei uma olhada em algumas das suas coisas, seus remédios, desenhos, qualquer coisa para me dar uma pista sobre o que havia acontecido. Algo me chamou a atenção.

Era um desenho, com lápis de cor preto e vermelho, achei estranho, Lindsey odiava preto e vermelho, por lembrar das fumaças da guerra e por lembrar do sangue dos seus pais mortos nos campos de concentrações, ela odiava aquelas cores, mas tinha ali, o desenho era composto apenas por aquelas colorações.

Me sentei em sua cama e segui as linhas, me levando a um emaranhado de círculos, até um nome, um nome mau feito, com a caligrafia horrenda e quase impossível de entender, mas eu liguei alguns traços e consegui ler..

Amélia..

Abaixo do nome, um boneco de palito, desenhado de vermelho, mas com uma áurea preta em volta, me dando arrepios, por mais bobos e simples que fossem os traços, aquilo me assustou, pela coincidência do nome, me levando a Jennie, sendo trazida de novo até Lindsey.. eu levantei e deixei os desenhos em seus devidos lugares, trancando a porta do seu quarto e seguindo até a sala principal, atrás do histórico de Lindsey.

Ela chegou ao hospital quando tinha exatos cinquenta anos, quem a trouxe nunca identificou-se ou apresentou qualquer documento sobre, apenas o da mulher que deveria ser internada, em seu registro - esse não feito por mim mas sim pelo o antigo diretor - constava perda de audição, fala, pânicos diários, falta de desenvolvimento, mentalidade de uma criança de sete anos, Lindsey Lee, cinquenta anos, naturalidade Coréia do Norte, refugiada para a Alemanha quando tinha três anos, assinado por... em branco.. aquilo era impossível, alguém teria que se responsabilizar sobre a internação de um ser não capaz e dependente, era a regra do hospital.

A nova regra do hospital.. aplicada em 2009.. quando Lindsey chegou por volta dos anos 2000 ou 2001 essa regra ainda não era válida..

- Droga..

Quem era Amélia para Lindsey e quem era Amélia para Jennie?

- Lisa, Linsey acordou - Chaeyoung alertou, guardei o seu registro e corri até a sala aonde a mulher estava, quando ela me viu, seus olhos azuis brilharam novamente.

"Você ainda está aqui.."

- É claro que sim, por que eu não estaria?

"Você agora passa o dia todo fora.. não te vejo mais.. não desenhamos mais juntas e nem aprendemos palavras novas.."

- Eu sei, me desculpe, eu estou atendendo outra paciente, e é um pouco longe daqui, é um processo longo.

"Promete um dia voltar a desenhar comigo? As vezes eu me sinto sozinha sem você aqui, Lisa"

- Eu prometo que vou ficar mais tempo aqui, está bem? Agora, me conte o que aconteceu com você, o que está sentindo?

"Um barulho.. muito alto em minha cabeça.. a fez doer e girar, ela ficou girando e o barulho foi aumentando.. tudo ficou escuro de repente.."

- Você sabe me contar que barulho seria esse?

"Gritos e.. ambulâncias.. sirenes, eram tão altos.."

- Tem haver com o holocausto, Lindsey? - perguntei por entre as libras, me sentando ao seu lado, seus olhos abaixaram um pouco.

"Não.. não é sobre o holocausto.. é sobre.. a minha vida.."

- Quer me dizer?

"Sobre uma parte ruim da minha vida.. a parte aonde ela está.."

- Ela quem?

"Amélia.."

Thoughts (Jenlisa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora