Point of view by Jennie Kim
- O que está fazendo, mandu? Está tão concentrada.
- E-estou terminando o p-prensete da Liz.
- Eu posso ver? - neguei rindo e escondendo o papel atrás de mim, Soo deu uma risada e se sentou na minha frente, me observando calmamente - É tão bom te ver sorrindo de novo, Jen.. eu senti tanta a sua falta em todos esses anos, falta da sua voz, do seu abraço, da sua alegria, e como eu amo ver você assim.
- A Liz e-e-está me f-fazendo feliz, Soo.. eu g-gosto dela..
- Eu sei que você gosta, você não consegue esconder isso, pela forma que olha pra ela, e parece que é recíproco.
- V-você acha q-que ela gosta de m-mim?
- Não posso responder uma pergunta na qual você já sabe a resposta, mandu.
Soo sorriu e me eixou sozinha com os pensamentos rondando a minha mente, eu sabia que não poderia pensar por muito tempo, porque se não coisas ruins poderiam estragar os meus sentimentos, e eu não queria que nada e nem ninguém estragasse o que eu estava sentindo.
Gostar dela, era algo bem mais profundo e simples do que poderia se imaginar, algo mais suave e bem mais leve do que realmente um dia já foi, era como, algo sem preocupações, sem jogos, apenas os dados dos sentimentos que rolavam no tabuleiro do amor e do afeto cada dia mais em crescimento. Eu confiava nela, se ela me falasse que voltaria, ela voltaria, se ela falasse que ficaria, ela ficaria, cada palavra sua era a chave mestra para trancar as feridas do meu coração, cada atitude sua era o curativo exato para fazer parar o sangramento ocorrente dentro de mim, e eu já começava a entender, que cada toque, beijo, era a minha passagem para sorrir cada vez mais.
Sem mentiras, sem medo, com os olhos eu poderia me jogar, ela estaria lá, me seguraria, me abraçaria, sussurraria na nossa cabana que tudo, absolutamente tudo estava, ou ficaria bem, pois ela era mágica, a mágica de fazer qualquer coisa ruim correr, afugentando os lobos uivantes das minhas noites escuras chamada passado, ela era a lua que iluminava o caminho que eu percorria aos poucos.
E ela sabia, ela sabia que eu não seguraria em sua mão da primeira vez, eu não faria isso, e mesmo assim ela insistiu, se sentou ao meu lado, me segurou através do seu pensamento, me levou até o jardim encantado cheio de neve, ela caminhou no meu ritmo, e eu sei, que ela fará isso sempre, e eu quero que ela faça isso sempre. Querer Lalisa era quase um ato de pecado saudável, algo obscuro, levando ao sujo, ao fundo, dos sentidos mais carnais que poderia existir dentro de mim, olhá-la por mais de dois segundos era consumir de mais da minha sanidade social, e ficar sozinha com ela era igual me sentir inerte ao oceano, tão infinito.. infinito de possibilidades absurdas e quentes.
Céus por que eu estava pensando nesse tipo de coisa? Era errado..
Não lembro a hora exata que peguei no sono, mas entendi que acordei de fato quando escutei o ranger da porta, fiquei com medo, eu ainda estava sonhando? Era Amélia novamente? Não, não poderia ser ela.. de novo não, de novo não, por favor não..
- Bom dia, Nini.. - tirei a coberta de cima da minha cabeça quando a voz doce e calma preencheu a atmosfera do quarto, olhei para Liz que se aproximava com uma bandeja cheia de coisas - Eu queria me desculpar por não ter ficado com você ontem assim como eu prometi - olhei para o relógio mais ao lado e vi que se passava das sete.. meu Deus eu dormi tanto assim? Fazia tanto tempo que eu não tinha uma noite tranquila.. com o que eu sonhei? Eu não me lembro.. mas nada assustador para me fazer sair da cama tão cedo como todos os dias..
Eu não sonhei com a Amélia..
Espera, eu havia acabado de acordar.. eu deveria estar horrível!
Pulei e me escondi de novo, acho que Liz se assustou com a minha reação, mas foi bem mais forte do que eu, a ideia dela me ver toda descabelada e com a cara inchada de sono me apavorou, será que ela me acha feia?
- Hey, o que foi?
- E-eu acabei d-de acordar.. e-eu estou f-feia, Liz - sussurrei, com a voz um pouco mais rouca, ainda pesada pelo o sono, eu pude ouvi-la rir baixo.
- Você não consegue ficar feia, nem se tentar, Nini.
- Eu a-ainda e-estou feia.
Pude ver pela sombra do cobertor que ela se ajoelhou ao lado da minha cama, afastando um pouco a bandeja mais ao lado, Liz se inclinou e subiu o edredom colocando o seu rosto debaixo dele, se escondendo igual a mim, deitando a sua cabeça em meu travesseiro, minha respiração falhou um pouco quando ela analisou o meu rosto, ela suspirou.
- Você é ainda mais linda de manhã, Jennie.
- N-não minta..
- Pra que eu mentiria? - murmurou, vi quando ela colocou o lábio inferior entre os dentes, olhei para ela com mais atenção, estar debaixo da coberta naquele segundo parecia estar insuportavelmente quente, e só poderia ser resfriado caso ela estivesse mais perto..
Ou o calor aumentaria mais um pouco.. só com ela mais perto pra saber..
- A Soo e-está em casa?
- Ela foi a padaria comprar algumas coisas e depois me falou que passaria na lavanderia - respondeu, vacilando os olhos um pouco mais para baixo, notando o pijama em que estava em meu corpo. Vi o movimento da sua garganta quando ela engoliu seco, logo levantando os olhos para me encarar novamente - Você.. quer tomar café agora?
- Acho q-que ainda n-não estou com fome.
- Certo..
- V-você vai ficar a-assim? Pode doer os s-seus joelhos.
- É, eu vou me sentar na poltrona aqui.
Ela tirou o rosto de debaixo da coberta e se afastou, me deixando com a respiração ofegante e sem entender da sua recuada, me sentei na cama, frustrada, olhando para ela que bebia um pouco de suco, mas a sua mão tremia, eu podia ver aquilo.
Me levantei e caminhei até o banheiro, escovei os meus dentes rapidamente, lavei o meu rosto, prendi os fios em um rabo de cavalo alto e espirrei um pouco de perfume. Olhei para a roupa pendurada mais atrás, observei o pijama de malha preto com rendas que habitava o meu corpo e decidi permanecer com ele, sorrindo em saber que poderia ter uma ideia sobre o poder que eu haveria sobre Lalisa naqueles minutos sem a Soo em casa.
Quando sai, ouvi ela tossir um pouco, ela tentou não olhar em minha direção, mas o seu desejo a traiu na cara dura, dei um sorriso pequeno e engatinhei sem pressa até o meio da cama novamente, queimando sobre o poder de sua visão sem descanso. Sentei-me na ponta, com as pernas de índios, me inclinando e pegando um morango na bandeja. Meus olhos se levantaram devagar, ela ainda estava imóvel, me encarando com um sombrear diferente em suas pupilas, as dilatando a cada segundo, me mostrando que estava entendendo, e que bom que estava.
- S-será que hoje poderemos f-fazer uma festa do p-pijama, Liz? - perguntei inocentemente, mordiscando o morango, a mulher me olhava de uma forma sínica, sabendo o meu jogo, eu a olhei da mesma forma.
- Eu não vejo problema nisso, Nini - respondeu - Me quer aqui essa noite?
- E-eu te quero aqui o t-tempo todo.
- Tipo agora? - eu acompanhei quando ela se levantou, sorri.
- Tipo agora...