Pov Marina
Agora a sala de espera do hospital não parecia tão fria e escura, e olha que eu estava muito mal agasalhada e a luz do sol que acabara de mal acabara de nascer mal passava pelo vidro da porta. De frente para a recepção eu conseguia ver aquele relógio de sorriso infinito e falso sorrir pra mim, e pela primeiro vez em um ano, eu sorri de volta.
O barulho do que parecia ser de pessoas correndo aos poucos foi chegando em meus ouvidos, me virei pra ver o que era e realmente duas pessoas vinham correndo em direção da porta de entrada, eram Alice e Julian! Me levantei e corri em direção a porta, foi o tempo da Alice perceber que era porta era de vidro e parar de repente.
O Julian não.
Nem deu tempo de Alice ou eu gritar seu nome. O barulho do baque da sua cabeça contra o vidro foi tão grande que me perguntei se o vidro tinha se rachado ou se a cabeça dele tinha explodido, ele caiu no chão desmaiado. Abri a porta e me agachei ao seu lado, Alice jogou a sacola que tinha em mãos no chão e já estava ao seu lado, o balançando freneticamente, comecei a chamar seu nome e lhe dar leves tapas na cara. Eu já ia chamar ajuda quando percebi um pequeno sorriso surgir em seu rosto até se transformar em uma risada e depois uma careta de dor.
As pessoas que se ajuntaram ao nosso redor de dentro e fora do hospital, preocupadas com o estado do pobre garoto, quando notaram o riso que se formava nos lábios do mesmo trataram de se afastar e seguir com a suas vidas, murmurando ou praguejando sobre a preocupação perdida.
- Ai eu não consigo rir... – Falou com um fio de voz que parecia doer, tentou se levantar mas logo se deitou no chão de novo, tocou de leve no galo que havia se formado em sua testa e fez outra careta de dor.
Nos duas nos levantamos.
- Você estava fingindo?! – Perguntei furiosa, estava preocupada também, aquele galo estava muito feio.
- O desmaio sim, a batida, definitivamente não.
Alice simplesmente ignorou seu estado deplorável e se levantou elegantemente. Eu e Alice nos encaramos, ficamos nos olhando por um instante e de repente ela pareceu se lembrar de algo. Ela se aproximou e me abraçou forte, atônita, demorei um pouco pra retribuir, ainda mais forte.
- Eu estou tão feliz por você! Quando você me ligou eu consegui sentir sua felicidade apenas pela sua voz, senti como se tivesse acontecido com minha própria irmãzinha... Nicolas é como um irmão mais novo pra mim sabe?
Suas mãos se afagavam minhas costas e seu corpo mexia de um lado para o outro como o meu, para um abraço tão carinhoso ela se afastou rápido, com as bochechas vermelhas e um sorriso tímido, eu apenas consegui rir, ela nunca tinha me abraçado antes, ela se abaixou pra pegar a sacola que tinha jogado no chão, ignorando completamente o estado do Julian.
- Essa aqui tem agasalhos e escovas de dente, imaginei que desde a hora que você me ligou, você e sua família tinham saído de casa cedo e as pressas, sem tempo de se agasalhar direito ou escovar os dentes. Na outra é um presente pro seu irmão, comprei às pressas a caminho pra cá, não sei o que ele gosta mas comprei o que eu achei que um menino da idade dele gostaria.
- Você não precisava... – Digo já com a voz rouca, meus olhos lacrimejavam e eu não fazia esforços pra contê-los, estava tão feliz que esse pesadelo estava acabando e tão grata por estar compartilhando essa alegria com os dois.
Cuidado cuidadosamente por uma enfermeira bela e gentil dos primeiros socorros, Julian voltou mais feliz do que quando chegou, o rubor de um adolescente na puberdade em frente a uma mulher madura era inconfundível.
Recuperado quase que completamente ele finalmente se aproximou de nós, meio envergonhado e meio tonto se virou pra mim e abriu os braços pra mim. Não hesitei, o abracei e sorri de bom grado, mesmo depois de tudo – ou nada – que aconteceu entre nós, naquele momento percebi que estava muito feliz de o ter como amigo. Talvez mais feliz de que se fosse meu namorado.Talvez aquele sentimento novo e prazeroso de um garoto bonito e gentil me influenciou demais, ou talvez fosse amor mesmo. Não importava, eu não poderia estragar essa relação que nós dois, nos três construímos por ciúmes ou seja lá o que fosse. Nós três nos merecemos e nos precisamos, seja como amigos ou amantes.
Mas olhando pra trás agora, eu não mudaria nada. Não achei que poderia aprender mais sobre a vida, mas aprendi.
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Quando as Cigarras Choram
Teen FictionA cidade nem era tão grande e as duas nunca haviam se encontrado. Claro, Alice e Marina viviam em realidades opostas, tudo nelas era oposto. A primeira impressão é a que fica e a delas não poderia ser pior, mas não importava, aperto de mão e o trato...