Capitulo 9

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Em discussões assim, nenhum de nós tinha a coragem de falar ou ao menos olhar para a cara um do outro, então não precisei me preocupar em segurar minhas lagrimas e os som estridente do meu choro, os empregados já tinha saído e ninguém nunca vinha atrás de mim. Quando meus olhos já não podiam produzir mais líquido me arrastei como um fantasma pra penteadeira, encarei meu reflexo quase irreconhecível no espelho, o rosto vermelho e encharcado e olhos inchados como a cereja do bolo, a tempos não chorava assim por causa deles, me convenci que não estava chorando pela Marina quase ter sido tirada de mim e sim porque eu não conseguia ser esquecer Emily, ignorando o quão problemático isso era.

Lavei o rosto com agua gelada e fiz um coque apertado, pronta para dormir e esquecer tudo isso, quando ouvi batidas em minha janela, espiei o quarto escuro tentando achar uma silhueta, nada, o teto era acessível por uma escada e qualquer ladrão idiota, ou um pervertido poderia entrar aqui, engoli em seco e peguei a coisa mais próxima de mim, uma escova de dentes.... Perfeito! Eu poderia enfia-la no seu olho caso ele tentasse me atacar, avancei para o quarto nas pontas dos pés, meu coração batia rápido e eu ofegava de medo, não queria morrer afinal.

Quando finalmente alcancei o quarto, encontrei coisa pior que ladrão. Marina e Julian encima do telhado batendo freneticamente em minha janela.

- O que...? - Corri até a janela e a abri, dando espaço pra que eles pudesse passar - Que merda vocês tão fazendo aqui? Em cima do telhado...?!

Marina atravessou a janela e pulou até o chão, seguida de Julian, que demoraram para se recuperar, ainda trêmulos e ofegantes pelo medo da altura do telhado.

- A gente foi lá na frente, mas sua mãe disse que você estava de castigo - Julian explicou, enquanto Marina sentava num canto da cama, examinando o quarto com o olhar - Da porta dava para ver uma escada embutida na parede que leva até o telhado, então fingimos que íamos embora e subimos pro telhado, passamos por muitos cômodos até reconhecer seu quarto. Mas isso não é nada seguro sabe... A escada é muito obvia e visível, perto do campo de alcance de qualquer um que entrasse pelo portão sem ser pego antes, um ladrão ou até um assassino entraria fácil na casa pra te machucar.

Não poderia dizer que ele estava preocupado ou algo assim, mas seu rosto parecia tão sério como quando briga seriamente comigo, desviei os olhos constrangida.

Cerrei os dentes. Porque ele veio junto afinal?

- Bom... o que poderia ser pior do que isso? - Resmunguei.

- Não fale assim... - Marina finalmente se levantou, cruzando seus braços ao meu lado e me analisando com uma expressão neutra - Ele que teve a ideia de subir a escada e me guiou e encorajou de andar no telhado e metros do chão sem perder a postura, não vê? Ele estava com medo, sua mão está tremendo.

Desci meu olhar pra sua mão, que ele logo tratou de esconder, mas eu a vi tremer, encontrei seu olhar que logo fugiu novamente, mas não consegui dizer nada sob seu ato inesperado, incrédula com sua coragem, ele deveria me odiar.

- De qualquer jeito acho que foi bom a gente ter vindo.... Você esteve chorando não? - Marina continuou.

Baixei os olhos, era muito obvio, mas eu não tinha que explicar, e eles sabiam que eu não o faria, queria fugir dali. Olhei pela janela, já era noite mas a cidade grande não dormia e filas de postes de luzes amareladas iluminavam as ruas e substituíam o Sol.

- Me sigam.

{...}


Ignorei todas as perguntas que me faziam e todos os olhares das pessoas que passávamos reto. Agradeci por confiarem em mim e suportarem a dor das pernas e pulmões que ardiam enquanto corríamos da parte mais agitada da cidade até a mais isolada, seguindo o rastro dos postes de luz que contornavam as ruas e iluminavam o nosso caminho, em algum ponto começamos a rir daquela confusão prazerosa e rara da vida, e quando o vento passava e sentíamos acariciar nossos rostos e levar nossos cabelos aproveitando tudo aquilo, brilhávamos tanto como as estrelas no céu naquela cidade.

Quando as Cigarras ChoramOnde histórias criam vida. Descubra agora