Pov MarinaDesde que o trimestre começou, eu e Alice temos estudado como nunca e ela diz que está prestes a enlouquecer a cada dia, por mas que ela diga isso eu vejo muita melhora nela e até em mim mesma, e hoje, hoje é o dia em que veremos o resultado de todo esse esforço. Poucas semanas se passaram desde o começo do trimestre e ela já tinha uma prova marcada, chequei o relógio pela milésima vez na aula, o tempo parecia se arrastar para o intervalo chegar e eu vê-la de novo, e se eu já me sentia nervosa eu nem quero imaginar ela, que esteve uma pilha de nervos a semana inteira desde que foi anunciada a prova.
Perdida em meus pensamentos eu demorei a ouvir o som do sinal tocando e todos os alunos se apressando em sair da sufocante sala de aula, a aula tinha sido desgastante e ouvi lamentos e alívios enquanto saia apressada, eu mal tinha prestado atenção e a única coisa que me cansei foi da espera, enquanto a procurava me dei conta de quanto aquilo com ela tinha se tornado importante pra mim a ponto de eu não ligar para uma aula e me perguntei o que eu faria por ela da próxima vez, mas eu não podia evitar - eu sabia que ela estaria me procurando também quando saísse.
Não tinha quase mais ninguém nos corredores e eu estava prestes a procura-la em outro lugar quando um corpo me embraçou por trás e logo depois os braços passarem pelo meu torso até suas mãos chegarem ao meu rosto e cobrirem meus olhos, as mãos seguravam alguma coisa e eu sentia papel tocando meu rosto levemente.
- Adivinha quem é? – Uma voz feminina cantarolou em meu ouvido, tão perto que eu sentia o calor do seu hálito.
As mãos se desgrudaram dos meus olhos e seguravam um papel a minha frente, com os braços apoiados em meus ombros eu ouvia risadinhas bem conhecidas do corpo atrás do meu, fazendo cócegas na minha nuca, ignorei a sensação e analisei a folha a minha frente, no canto superior marcado em vermelho o número 10 circulado em um grande círculo se destacava pela surpresa que era ao lado do nome Alice Fernandez escrito lindamente na folha.
- A Alice que não pode ser, essa nota é impossível!
Seu corpo se desgrudou do meu e pulou pra minha frente, seu sorriso estava ainda maior que o meu e tão grande que duvidei que se alargaria mais - e se era o maior sorriso que eu tinha dado em um bom tempo, para ela devia ser uma eternidade – ela dava pulinhos de alegria e me agradecia e falava milhares de outras coisas que eu não consegui entender de tão rápido que falava, mas eu imaginei que mais que eu que tinha a ensinado tudo, ela estava ainda mais orgulhosa de si mesma, eu sabia que no fundo ela realmente se odiava e pela primeira vez essa era a única coisa que tinha para se orgulhar, então eu logo estava pulando com ela comemorando essa única alegria para nós e principalmente para ela.
Quando finalmente nos acalmamos e notamos os olhares das pessoas que restavam nos corredores, nem ligamos, ela apenas observava o papel que segurava admirada.
- Então... você vai mostrar para os seus pais? – Tentei perguntar da forma mais casual possível, pois eu sabia que era um assunto delicado pra ela.
- Acho que não, eles estão muito ocupados e eu já conheço a peça, eles nem vão ligar – Seus olhos fitaram o chão e eu notei ela amassar levemente a folha – Eu já parei de tentar chamar a atenção a muito tempo... nem ligo.
Seu tom indiferente e dar de ombros parecia muito convencível, mas era doido de se ver, as vezes parecia que conhecer Alice era cada vez mais dolorido, porque suas ações eram cada vez mais justificáveis e tristes de se ver, não passavam de uma mentira de perna curta que escondiam muito mal a verdade, que você percebia na hora, como agora.
- Tenta. É uma coisa importante pra você, talvez também seja pra eles.
- Esse é o problema! É importante pra mim e eles vão estragar isso. Eu sou a filha deles, sou eu que vive naquela casa.
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Quando as Cigarras Choram
Genç KurguA cidade nem era tão grande e as duas nunca haviam se encontrado. Claro, Alice e Marina viviam em realidades opostas, tudo nelas era oposto. A primeira impressão é a que fica e a delas não poderia ser pior, mas não importava, aperto de mão e o trato...