Capitulo 5

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Pov Marina

- Nada muito social, mas também nada muito largado...

Sabias palavras de Alice, mas isso era obvio, isso era a minha especialidade, então apenas coloquei uma calça jeans escura e uma blusa social branca, olhei para fora, o sol mal passava pelas nuvens e a corrente fria me atingia mesmo dentro de casa.

- O inverno esse ano veio para compensar pela ausência ano passado - murmurei preocupada, com meu primeiro salário... eu compraria lençóis para a família.

Resgatei um sobretudo preto do fundo do armário e o vesti junto a um par de básicos saltos pretos que comprei quando ainda tinha dinheiro.

Analisei minha imagem no espelho, um salto e um sobretudo negro faziam mesmo a diferença, eu não me via como bela a tanto tempo, um rosto distorcido pela preocupação e olhos vermelhos, junto a tufos de cabelo caídos de estresse em minhas mãos não eram a minha melhor imagem, em pensar que nem faz tanto tempo... essa era eu? Não gostava de memorias assim. Por sorte uma notificação de mensagem me acordou do meu transe e peguei meu celular para checar, era de Alice, era a primeira que ela me mandou em uma semana que nos conhecemos, que tipo de coisa séria...?

" Se você se atrasar ou faltar, eu faço questão que você não arrume outro emprego nessa cidade pelo resto da sua vida "

Cruz Credo.... Bem era a Alice, o que eu estava esperando? Ela fez sua parte do trato e eu não pediria mais nada.
Agarrei minha bolsa e meu celular e voei até o portão, deixando para trás os encorajamentos dos meus país e desejos de boa sorte.


{...}


A neblina tinha tomado conta das ruas antes mesmo de eu estar perto do ponto de ônibus, e mesmo nesse horário em que as pessoas vão e voltam dos seus trabalhos, alunos e vão de escolas, as ruas não tinham quase ninguém, e tudo o que eu podia ouvir era o som do meu caminhar apresado em saltos, avistei a forma daquele pequeno ponto não muito longe de mim e chequei a hora, tinha se passado dois minutos desde a hora em que o ônibus passar, e rezei para que ele tivesse se atrasado como sempre, de longe uma silhueta deixava um rastro negro que quase sumia na neblina, minha pequena esperança em sombra...

Meus passos foram ficando cada vez mais lentos a cada vez que me aproximava, enrolado em um cachecol e roupas totalmente negras, apenas seu rosto, que agora parecia mais translucido quase se escondia na neblina, observava com os olhos mais tristes que eu já vira para o céu cinza e feio acima de nós, parei meus pés torcendo para que não tivesse me ouvido, agradeci que estivesse no mesmo lugar em que eu deveria estar, ninguém nunca pegava minha atenção assim, mas aquele garoto que olhava pro céu me fez olhar para ele por tanto tempo quase sem piscar, seus olhos negros pareciam distantes dali e me perguntei por onde andavam, liguei os sinais em seu rosto como se fossem constelações e toquei em seus cabelos em minha imaginação. Não fazia sentido imaginar algo que não aconteceria, sempre pensei assim, mas naqueles minutos me permiti me perder da realidade com os olhos tão abertos que nem ardiam. Não fazia sentido perguntar por onde sua mente andava e como ele surgiu, porque eu nunca tinha o visto e o que tinha acontecido com ele, não... eu não podia me preocupar com outra pessoa.

- Marina...?

Sua voz parecia mais bonita de que quando ouvi pela primeira vez, há pouco tempo atrás, acho que eu nem tinha esquecido, me lembrava bem daquele rosto que agora me olha curioso, uma sombra de sorriso nos lábios, quase sedutora.

Quando as Cigarras ChoramOnde histórias criam vida. Descubra agora