Capitulo 24

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Pov Marina

Quando saímos do portão do segundo e último dia de prova, alguns alunos comemoraram, outros estavam apreensivos, me limitei a sorrir, por mais aliviada que estivesse, tinha outra coisa pra me preocupar, e logo comecei a fazer meu caminho para o hospital.

Quando finalmente cheguei até o quarto em que Nicolas estava, e tentei ao máximo ignorar a porta que levava ao terraço, mesmo que como se tivesse vida, ela parecia chamar pelo meu nome para que eu a abrisse e revivesse tudo o que eu vi ali a poucos dias atrás.

Abri a porta e entrei imediatamente, fechando a porta atrás de mim, os olhares de meus pais se viraram em minha direção e eu abri meu melhor sorriso, abri meus braços e em poucos segundos seus corpos me abraçaram fortemente.

Fechei meus olhos e me deixei me perder naquele abraço, não percebi o quanto senti a falta deles até agora, e queria agradecer por todos esses anos me educarem, me tornarem uma pessoa forte e gentil como eles, e acima de tudo por terem me amado como nada nesse mundo e esperava com todo meu coração transmitir tudo isso nesse abraço, e pelo resto da minha vida.

Quando nos afastamos meu olhar passou para Nicolas, que mesmo em cima de uma cama estava energético como sempre, e quando nossos olhares se encontraram ele abriu um grande sorriso como sempre fazia quando me via e corri em sua direção, lhe dei um abraço apertado e distribui beijos pelo seu rosto, ele apenas gargalhava e eu ria junto, pensando na diferença que ele fazia em mim.

- Você finalmente está aqui! Você não faz ideia do quanto eu fiquei entediado com esses dois aqui sozinho comigo?

- Eu imagino que sim.

- O que você estava fazendo que não pode vir?

- Eu... – Hesitei, não podia contar que estive com o olhar vazio, o coração pesado e andando pela casa como uma alma perdida – Eu estava estudando muito, e com o trabalho de manhã e a escola a tarde... eu estava muito ocupada.

- Sei... – Os olhos do meu irmão se semicerraram e ele sorriu de lado.

Mordi o lábio, esse pirralho sabia de algo.

- E como você acha que se saiu filha? – Minha mãe perguntou, animada.

- Eu acho que fui bem! Dando aulas particulares a Alice e o apoio dos professores e as aulas para o Enem da escola me ajudaram bastante. E espero que estejamos todos juntos quando sair os resultados... em saúde. E vocês vão sentir orgulho de mim, eu tenho certeza! Pois tudo o que eu fiz foi pensando em vocês, no futuro.

Meus pais se olharam parecendo preocupados, meu pai se aproximou e pôs suas grandes mãos em minha cabeça, e me surpreendi quando sua expressão estava tão séria.

- Nós já sentimos tanto orgulho de você... desde criança até agora, você foi forte, sabendo da nossa condição você nunca fez birra, ou pedia dinheiro para comprar a menor das coisas, nunca pediu ajuda com nada, de dever de casa até um ombro para chorar, de verdade... por anos não te vir chorar. Marina você nunca foi uma criança normal, e a partir do momento que você foi forte por todos esses anos, eu senti orgulho de você. Às vezes eu me perguntava, será que eu era um bom pai? E sentia que tinha algo errado, minha filhinha deveria chorar quando quisesse, me pedir ajuda quando precisasse e eu me sentia culpado por isso, como se eu estivesse reprimindo seus sentimentos... não que eu esteja te culpando filha, é que eu sinto... nós sentimos que não te conhecemos, a única coisa que eu posso pedir a você é que se abra mais pra gente.

Olhei em volta, meu irmão e minha mãe, os dois confirmaram levemente com a cabeça. As lagrimas começaram a brotar nos olhos, mas dessa vez não as segurei, apertei os lábios e lamentei com a cabeça, me rendendo a verdade.

Como pude ser tão cega? Se todo o tempo eu senti que precisava ser assim, que eu não precisava ser outro fardo, como eu me poderia saber que as coisas podiam ser diferentes se todos sempre pareciam tão mal? Como diabos eu saberia?

No fim, acho que eu estava alimentando a ilusão que eu mesmo criei, achei que se escondesse meus verdadeiros sentimentos e alimentasse a mentira que eu criei eu aliviaria seus fardos, mas eu estava fazendo o contraio. Talvez a culpa nem fosse deles, eles nunca pediram minha piedade e talvez nem sempre parecessem tão miseráveis. Talvez a realidade fosse muito feia pra mim, e eu a mascarava com a mentira, uma mentira perfeita que eu mesma criei.

- Eu só não queria ser outro fardo, outro problema... eu só achei que talvez eu poderia ajudar de alguma forma.

- Você nunca será um fardo... você é toda essa família... Marina, você, a você de verdade, é o suficiente, é a luz.

- Mas você não tem que carregar esse fardo sozinha, nos apoie que nos apoiamos você, juntos seremos um só. Eu prometo.

Os três me envolveram num abraço apertado, senti um peso de vida sair do meu coração e sair com o vento pela janela aberta, junto com o pesar de todos nos quatro, seja em mim ou neles próprios.

Quando as Cigarras ChoramOnde histórias criam vida. Descubra agora