ALERTA COR! | yoonkook

ALERTA VERDE!, talvez eu goste um pouquinho mais

Em uma semana de convivência eu já podia traçar um paralelo claro entre eu e Yoongi: nós éramos completamente opostos. Bem no nível sol e chuva, frio e quente, doce e salgado. Mas estranhamente, isso nos tornava companheiros de apartamento muito equilibrados ao invés de gerar brigas.

Yoongi era metódico. Se levantava e ia dormir sempre nas mesmas horas, independente de ter aula de manhã ou não. Ele passava a maior parte do tempo dentro do próprio quarto e quando eu não o achava lá, era porque ele estava cozinhando alguma coisa em nosso fogão. E sua comida... Eu nunca experimentei, mas esperava um dia termos intimidade o suficiente para eu pedir um pouquinho. Só o cheiro já servia para despertar meu estômago mesmo quando eu tinha acabado de comer - até porque, desde que cheguei, minhas refeições não variaram muito além dos diferentes sabores de lámen disponíveis na loja de conveniência mais próxima.

Ele também tinha umas manias que, mesmo sem passarmos tanto tempo juntos, eu pude perceber. A disposição das almofadas, dos objetos do pequeno raque e até mesmo das vasilhas da cozinha pareciam extremamente importantes para ele. Eu tive a desatenção de não arrumar as almofadas depois de passar a noite assistindo televisão e no dia seguinte, Yoongi se atrasou para a própria aula porque precisou afofá-las e reorganizá-las na ordem que estavam antes que eu bagunçasse tudo. As canecas eram meticulosamente deixadas com as alças viradas para nós e na única vez que as guardei na outra posição, vi nascer um vinco incomodado em suas sobrancelhas antes que ele silenciosamente se erguesse e fosse virá-las do jeito que preferia. Ele nunca me repreendeu por essas desatenções, mas parecia tão afetado com essas pequenas coisas que acabei tomando mais consciência sobre elas para evitar dar trabalho para o dono da casa que havia chegado primeiro.

Só tinha uma coisa que realmente me incomodava em nossa tranquila convivência: os cigarros.

Yoongi fumava o tempo todo quando estava em casa. Ele tinha maços deixados por todos os cômodos, escondidos atrás de objetos específicos como se ele tentasse esquecer da existências dos filtros de cheiro desagradável, mas sempre precisasse recorrer a eles. Mais de uma vez eu franzi o cenho ao abrir a porta do apartamento e encontrá-lo apoiado contra o parapeito da varanda, o filtro entre os dedos pálidos e o semblante encoberto pela fumaça acinzentada. Eu apenas suspirava e me trancava no quarto pelo tempo que eu pensava ser o suficiente para que o vento varresse o cheiro que impregnava nas paredes. Se eu tivesse um pouco mais de intimidade com ele, metade da que tenho com Taehyung, talvez eu comentasse sobre seu hábito. Mas ainda não tínhamos chegado a esse patamar.

Ou assim eu achava.

Na sexta-feira à noite, exausto depois de tanta informação nova absorvida na primeira semana, minha última preocupação era cozinhar algo adequado para comer. Então, depois de um banho longo preenchido com minha playlist específica para esse momento do meu dia, eu saí de pijama prestes a me render a mais um lámen da pilha que eu tinha estocado no armário. Sentado na bancada da cozinha, eu me distraí o suficiente com vídeos de gatinhos no YouTube para não perceber os passos silenciosos de Yoongi até que ele estivesse curiosamente averiguando a água que já fervia, esquecida no nosso fogão.

- Vai comer lámen de novo?

A pergunta me pegou de surpresa. Não sei se por ter muita coisa da faculdade para resolver ou se simplesmente por causa da sua personalidade reservada, Yoongi raramente iniciava nossas conversas. Ele era meio monossilábico, mas nunca me destratava quando eu iniciava alguma conversa banal. Apoiei meus braços no balcão e limpei dos dentes os restos de beijo quente que havia terminado como um esfomeado enquanto esperava a água ferver, observando ele se virar com o cenho franzido na minha direção.

Prendi porcamente um sorriso quando suas feições me lembraram de um dos vídeos que eu tinha acabado de ver.

- É o mais prático. 'Tô morto de fome.