ALERTA BRANCO!; quando bate a saudade

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A república parecia um show de horrores, e eu falo isso com todo o carinho que eu já nutria pelos outros seis caras antes mesmo de conhecê-los pessoalmente. Mas para quem estava acostumado com o silêncio de Yoongi, minha adaptação foi um pouquinho traumatizante. Vez ou outra eu era acordado com um grito ou uma música mais alta do que o necessário, mais de uma vez precisei pular de um pé para o outro segurando o Jungkookinho porque precisava urgentemente fazer xixi, mas todos os banheiros estavam ocupados. Mais de uma noite escondi a cabeça debaixo do travesseiro para fingir que não ouvia as obscenidades que aconteciam nos quartos ao lado quando qualquer um deles inventava de trazer alguém para casa.

Mas também tinham as partes boas. Os jantares eram meus favoritos: a mesa era sempre cheia, as conversas sempre altas e as risadas sempre garantidas. Às vezes a gente falava de coisa séria, mas só durava até alguém soltar um peido sonoro que cortava o clima e fazia a gente rir no meio do desgosto pela nojeira. Era uma família caótica, mas que me fazia sentir bem-vindo.

A convivência também me mostrou, se já não estava claro antes, que eu era péssimo em me virar sozinho.

A república era uma constante missão de descoberta da independência. Por mais que os meninos fossem acolhedores, no fundo era meio que cada um por si. Acho que fica melhor se eu explicar assim: se um dia eu chegasse bêbado de uma festa, eles me guiariam até o sofá, mas não me cobririam durante a noite ou afofariam as almofadas para mim; eles não fariam uma sopa de ressaca no dia seguinte ou se deixariam encharcar quando eu os puxasse para um abraço durante um banho de água fria.

É, eu estava com saudade do Yoongi.

E da minha mãe e do meu pai também.

Não me levem a mal, eu sempre valorizei tudo o que eles faziam por mim. Mas agora que eu me sentia apenas um patinho abandonado entre os cisnes, a ausência deles parecia ecoar o dia inteiro ao meu redor. E na hora da pressão, a gente aprende a se virar.

Agora eu cozinho mais do que lámen, arroz e kimchi. Eu era responsável pelos jantares de terça-feira e, apesar de escandalosos, descobri um pessoal bem exigente quanto ao cardápio por aqui. Alguns eram alérgicos a glúten, outros não conseguiam comer comida apimentada e ainda tinha a cota vegetariana. Eu achei que fosse perder os cabelos no primeiro dia, mas Kim Anjo Seokjin arregaçou as mangas e ajudou essa pobre camponesa a cozinhar algo decente pela primeira vez. Com um pouquinho mais de confiança, eu comecei a me arriscar mais também e, sinceramente, que puta orgulho eu sinto de mim toda vez que berro um "O JANTAR 'TÁ PRONTO" para esses marmanjos virem comer e falar que estava tudo uma delícia.

Tem quatro semanas que eu estou aqui, quatro semanas que não vejo Yoongi. E na maior parte do tempo, eu me distraio da saudade com essas pequenas vitórias da vida adulta, como a primeira vez que fui no banco sozinho e consegui sair de lá com um nova conta aberta por euzinho mesmo e sem cair na falcatrua de ninguém. Mas tinham aquelas horas do dia, às vezes apenas pequenos momentos, em que eu não tinha a faculdade ou o pessoal da república para me distrair. E aí, meus amigos, eu caía na famosa e famigerada fossa. Porque eu estava morrendo de saudade daquele um metro e setenta de homem, mas não tinha coragem de contar isso para ele. Sempre que eu digitava alguma mensagem, o jeitinho distante que ele me tratou naqueles dias antes de mudança vinham sussurrar no ouvido do meu orgulho e eu desistia. Ainda não tinha esquecido minha promessa para Yohan, mas é bom que Yoongi também não esqueça que eu sou a porra de um moleque mimado. Preciso do meu tempo para me recuperar depois de uma rejeição.

– Qual foi do biquinho triste? – Seokjin se jogou do meu lado no sofá e eu virei meu rosto para ele, ainda com o queixo apoiado na almofada gigante que eu tinha puxado para um abraço sem nem reparar.

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