CAPÍTULO 2

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Chega um momento em que você se vê distante das asas dos pais e percebe que já sabe se virar bem assim, eu sinto isso a algum tempo e essa era a maior meta do meu pai

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Chega um momento em que você se vê distante das asas dos pais e percebe que já sabe se virar bem assim, eu sinto isso a algum tempo e essa era a maior meta do meu pai. Ele sempre falava que só conseguiria descansar quando tivesse a convicção de que Bruno, meu irmão mais velho, e eu estivéssemos estáveis e independentes. Bom, ele conseguiu. Ele só não falou que logo após isso partiria de vez. Há cinco meses perdi meu pai para um mal súbito e foi desafiador ter que levar a rotina sem ele, com seu jeito áspero, visitando o escritório e criticando tudo o que via pela frente, pois nunca estava bom o suficiente, mas isso não me fazia ter uma má relação com ele, ao contrário, me fazia querer enxergar onde estavam minhas falhas e melhorar sempre mais. Com Bruno não funcionava assim, eles dois tinham muito atrito e eu não busco um culpado, são duas personalidades fortes em choque, não havia muito o que fazer.

Nosso pai, era advogado criminal, assim como eu e foi nesse período que tocou a filial única de advocacia Ferrari que era do seu pai, meu avô. Quando Bruno se formou, com a ajuda de nosso pai, conseguiram abrir mais uma filial em outro município que ele tomou as rédeas para administrar no setor trabalhista, que foi a área que escolheu para se especializar. Logo em seguida eu me formei e trabalhei por um bom tempo com meu pai, conhecendo as suas habilidades e nuances na criminalística e posso dizer que nenhuma faculdade me ensinaria tanto quanto ele fez. Quando me senti pronto, conseguimos fundos para abrir outra filial também na capital, mas do outro lado da cidade e eu assumi a responsabilidade do escritório, que começou pequeno, apenas comigo, uma secretária e um estagiário.

Com o tempo, adquiri não apenas nome dentro de mercado, mas consegui crescer meu escritório, contratando mais profissionais para trabalharem comigo, selecionando os melhores a dedo, com as exigências que herdei da convivência com meu pai. Descrevendo dessa forma até parece que meu pai era alguém ruim. Não posso dizer que ele era uma pessoa fácil, não era, principalmente porque a nossa vida nunca foi fácil. Por causa da sua profissão, sofríamos perseguições, que ele enfrentava de frente, mas nunca pensou que pudesse atingir tão diretamente à família e em uma delas, tiraram a vida da mulher que ele amava: minha mãe. Na época, Bruno tinha 17 e eu 14 anos. Vimos de perto a decadência do nosso pai, rendido ao álcool e ao cigarro, enquanto tivemos que lidar cada um com a dor e revolta do luto.

Nesse período, meu pai pagou um amigo seu policial para treinar Bruno e eu. Aprendemos a nos defender, a atacar, a saber a hora de agir e a como sair de situações de perigo com a menor gravidade possível. Meu pai queria que soubéssemos proteger a si e principalmente um ao outro, e assim fizemos. Enquanto isso, ele focou a vida apenas a conseguir encontrar o assassino da nossa e mãe e conseguiu. Ele sentiu em cada partícula do seu corpo o desejo da vingança, do sangue a ser derramado, do pagamento de uma vida por outra, mas não fez assim, seguiu os caminhos da justiça, para conseguir dormir a noite com a consciência limpa. Desde então ele criou uma espécie de muro que dividia ele do restante do mundo, não dividia nada com ninguém, nem comigo e Bruno, nós só tínhamos dele o lado grosseiro, crítico e também o conhecimento inesgotável que nos passava.

CONTO - CARLOS & ESTELA FERRARIOnde histórias criam vida. Descubra agora