CAPÍTULO 1

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O quanto você é disposto a lutar pelo que gosta?

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O quanto você é disposto a lutar pelo que gosta?

Essa é pergunta que me norteia e a resposta dela é o que me move diante dos percalços, pois sou capaz de tudo para realizar o meu sonho em andamento: me formar. Hoje em dia não é algo tão difícil e nem mais tão extraordinário, mas para alguém que mora em uma cidade pequena e com um pai mega conservador, se torna algo quase que nulo. Depois de muito implorar, consegui que meu pai permitisse que eu fosse para as aulas do curso de história que havia sido aprovada, mas claro que isso me custaria muito só pelo fato de ele ser contra.

Meu pai é literalmente um homem de outra geração, sua cabeça ainda está enfurnada em princípios do século passado. Seu sonho era ter um filho homem, para carregar e levar a linhagem do seu sobrenome, mas no lugar disso vim eu e minha mãe teve um problema no útero logo após o meu parto, o que a tornou estéril, por isso, fui premiada a filha única. O que não foi bem um prêmio, já que diferente das moças da minha idade, eu não podia ir uma confraternização, a uma roda com amigos, a uma festa, a um baile, nem nada que pudesse me deixar "mal falada", pois meu pai não queria que seu nome fosse manchado por uma filha meretriz, como ele bem gosta de dizer.

Na concepção dele eu deveria basicamente aprender atividades domésticas e me casar, de preferência com o filho do dono do banco que ele trabalha, que é o único homem que ele permite que eu tenha qualquer tipo de contato. Até que o Toni não é alguém ruim, mas ele é uma versão jovem do meu pai que eu quero distância, pois não quero levar a vida servil e submissa que a minha mãe tem e faz questão de permanecer. Minha mãe foi literalmente uma mulher criada, educada e conservada inteiramente para casar, prometida para o meu pai desde os seus doze anos, como se fosse um objeto, apenas um artigo útil para cuidar do lar e dos filhos. Ela se casou aos quinze e um ano depois vim ao mundo.

A questão é que agora meu pai quer fazer o mesmo comigo e o desespero já me toma, só por imaginar que o seu desejo se concretize, pois sei que não nasci para isso, que não sou capaz disso e que eu mereço ter o meu poder de escolher com quem quero estar, o que quero fazer, o que estudar, onde trabalhar, com quem viver e casar. São escolhas que eu quero fazer, mas que ainda não sei como vou conseguir.

A minha rotina é basicamente dividida entre ir para minhas aulas durante a manhã, voltar para casa para almoçar e depois sair para ir em direção ao curso de cozer e costurar, porque sim, meu pai paga um bendito curso para que eu aprenda a ser uma esposa perfeita! Só o pensamento já me faz querer revirar os olhos. Mas bom, eu vou para esse curso? Não. Meu pai acredita que vou? Sim. Ele estabeleceu um dia na semana para que eu cozinhe e ele avalie meus dotes? Sim. Eu realmente cozinho? Não. Ele acha que cozinho? Sim. Quando vou contar a verdade? Não faço ideia.

Bom, hoje é exatamente o dia em que eu deveria cozinhar, mas para que isso fosse possível, eu teria que sair cedo da minha aula e voltar para casa. Óbvio que não faço isso, pois nunca perderia tempo da minha linda aula em troca de uma cozinha, então minha mãe me ajuda com essa parte, mas isso não anula a minha correria para conseguir chegar em casa antes do meu pai.

CONTO - CARLOS & ESTELA FERRARIOnde histórias criam vida. Descubra agora