CAPÍTULO 03 - E QUANTO A NÓS?

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"O amor não é aleatório, somos escolhidos (...) não me diga que é impossível, eu nunca vou deixar esse amor morrer." - James Young

DECKARD SHAW

No porão de um supermercado na Estônia, todos nós pensávamos numa forma de chegar até aquela agente como amigos e não inimigos. Ela já deixou claro que não tem problemas conosco, nós também não temos problemas com ela, temos apenas inimigos em comum. Conhecemos o ditado: o inimigo do meu inimigo é meu amigo.

Saio do esconderijo sozinho, enquanto a equipe descansa. Observo alguns pontos cegos da cidade, faço algumas ligações clandestinas e logo estou no prédio daquela mulher. Eu me aproximo, me escondendo atrás da porta corta-fogo do corredor e mexo no dispositivo em meu pulso, me conectando sorrateiramente ao sistema de segurança pesado do apartamento, que destoa da estrutura antiga do prédio. Me surpreendendo, a mulher sai do apartamento e, pela janela, eu a vejo cruzar a rua e ir para longe. Saio de onde estou escondido e, hackeando o sistema, consigo abrir a porta do apartamento, entrando numa janela de cinco segundos, deixando a porta trancar de novo.

O apartamento é simples, antigo. Há um gato cinza sentado na porta que separa o quarto da sala e ele me encara despreocupado, como se não desse a mínima para a minha presença. Cruzando a sala, observo que há algumas plantas na janela e objetos de decoração simples. No rack da sala, perto da televisão de tela plana, um porta retrato chama minha atenção. A agente do cabelo curto, que acabou de sair, tem o rosto esmagado contra o de Amélia, as duas felizes. Meu coração acelera. Pego o porta retrato na mão, encarando o objeto por tempo demais. Amélia não mudou muito, supondo que a foto seja recente. Seus cabelos, que antes estavam curtos, agora estão cumpridos e mais cheios, e seu rosto tem algumas poucas marcas de expressão adquiridas nos últimos dois anos.

Coloco o objeto no lugar e percebo que o gato não se mexeu nem um centímetro. Caminho na direção da porta do cômodo e encaro o bicho, que me encara de volta. Quando dou um passo para dentro do quarto, ele curva a coluna e estreita os olhos, em posição defensiva. Quem ele está protegendo está deitada na cama, de bruços, as costas nuas de fora, o lençol cobrindo seus quadris. Me aproximo da cama, sentindo meu corpo vacilar e arregalo os olhos ao ver o rosto de Amélia amassado contra o travesseiro. Ela dorme pesado, provavelmente efeito das duas garrafas de vodca no chão do quarto e do remédio tarja preta na cabeceira da cama. Sinto um tremor abalar o meu corpo e meus olhos começam a arder, ameaçando liberar lágrimas.

Amélia está viva!

A minha mulher está viva!

Dou um passo na direção dela, a fim de me aproximar e tocá-la, mas ouço o click de uma glock sendo engatilhada atrás de mim.

— Mais um passo na direção dela e eu estouro a sua cabeça.

Ergo as mãos.

— Vira.

Sentindo as lágrimas acumuladas nos meus olhos lutando para saírem, eu me viro e a encaro. Kira Kuznetsova, a agente que matou o cara que tentou me matar, está com a minha Amélia.

— Entrou no apartamento errado, camarada. — ele ergue uma sobrancelha, me mantendo em sua mira

— Entrei? — pergunto, algumas lágrimas caindo pelo meu rosto

Seu sotaque russo não me amedronta, mas faz eu me perguntar se ela realmente está com Amélia ou se é também uma agente da Eteon, usada para trabalhar com ela.

— Eu vou dizer como a coisa vai funcionar. — diz séria — A cada passo que eu der pra trás, você vem para frente. Nós vamos seguir isso até a sala e você vai sentar na cadeira, com as mãos sobre a mesa.

Bring Me Back - A Última CorridaOnde histórias criam vida. Descubra agora