16- Sufoco

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O ar adentrou meus pulmões em uma lentidão invejável, minhas narinas queimavam apenas por ter contato com o gás oxigênio, assim como meu pulmão ardia a ponto de arrancar lágrimas de meus olhos.
O processo de expirar não fora diferente. Sentia meu nariz soltando um vento quente, a rapidez impensada da qual ele havia saído apenas piorou a situação, fazendo com que eu perdesse o rumo que havia tomado à pouco tempo mais uma vez.
Era sempre assim.
As noites eram minhas melhores amigas, mas tornaram-se com o tempo as piores companhias que eu poderia ter. Traziam consigo pensamentos, e tais pensamentos me levavam à conclusões horrendas sobre mim, sobre tudo o que havia em minha volta. Com muito custo, punha-me a dormir, e pouco depois, de modo automático, meus olhos se arregalavam assustados, o pulmão pesando em meu peito como se estivesse sendo pisoteado, a sensação da falta de ar consumia meu corpo e deixava minha mente conturbada em pânico, expulsando das lumes castanhas lágrimas grossas, quentes, doloridas em demasia.
Sufocante.
Motivos? Quais seriam se não aqueles que ao menos são plausíveis aos olhos alheios? Uma palavra mal colocada, uma atitude mal pensada, uma promessa não cumprida, as expectativas frustradas, os sonhos inatingíveis, as mais diversas sensações que poderiam atingir o corpo humano e sua alma à tanto impura.
Doía o âmago tudo aquilo que fazia-me pensar. E tudo sempre nos faz pensar. Das coisas mais bobas até as mais simples, a voz desconhecida e sem um gênero definido que temos em nossa cabeça nunca se cansa de dizer o que quer, da hora em que levantamos até o momento em que deitamos a cabeça no travesseiro.
Insônia.
Pisquei, letárgico. Seria sempre assim? Já se passavam das 3 da manhã, apenas por lembrar que ainda eram quarta-feira e às sete deveria estar acordado para o trabalho desanimava todo o meu ser. O cansaço consumia cada vez mais o corpo pequeno que possuía, como para lembrar que eu era merecedor de um tempo, de umas pequenas férias para que descansasse em paz.
Noites mal dormidas, ar faltante, dor no peito, sensação de afogamento. Era tudo tão comum que ao menos notificava qualquer um como antes.
O rosto foi virado contra o travesseiro, a testa batia diversas vezes contra o objeto fofo, as lágrimas manchavam o tecido claro.
Queria dormir, queria respirar, queria...
Céus, queria tantas coisas.
E foi abraçado aos cobertores quentes que adormeci com muito custo mais uma vez, amanhã seria um novo dia, portanto não sofreria pela próxima crise.
Muito menos tentaria a evitar, afinal o amanhã sempre estaria ali para despejar tudo o que era importante para o próximo dia.

Compilado de AleatoriedadesOnde histórias criam vida. Descubra agora