01- Cerejeira em Flor

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A pequena praça, esquecida durante a semana, encheu-se de gente naquela tarde gelada de sábado. Era um final de dia calmo, as delicadas flores de cerejeira caindo com uma lentidão impecável sobre a grama verde, dando um belo contraste ao que as cores se misturavam. 
Se ao acaso você virasse o rosto para encarar seu lado direito, poderia encontrar um casal de idade, ambos sentados observando o pôr-do-sol em um banco de madeira surrada, como se estivesse sofrendo com o tempo há anos. O sorriso crescia no rosto da mulher ao que o homem sibilava poucas palavras. Poderia parar sua observação ao vê-los se abraçando ladino, o sorriso crescendo em ambos os rostos envelhecidos.
Em outro canto, mais a sua esquerda, poderia se observar crianças correndo e se jogando no chão, em um jogo da qual você nem imaginaria qual seria, caro leitor, mas o sorriso esboçado em seus rostos gordinhos e infantis mostrava o quão felizes estavam. Sorrisos sinceros, risadas sinceras.
Já mais a sua frente, poderia encontrar um corpo estático perante o pequeno lago de patos. As flores de cerejeira caiam sobre si, deitado, aproveitando o vento gélido bater contra o rosto invisível aos seus olhos. Os fones caídos contra a grama que lhe pinicavam as costas.
O sol ao horizonte sumia tão lentamente quanto as pessoas iam embora, juntando seus pertences e resquícios de seus sentimentos, dos quais nunca saberemos ser falsos ou não.
Pode-se ver o casal se levantando com dificuldade, o senhor apoiar as mãos de sua senhora nas costas e, sem descartar o apoio de sua bengala, sair caminhando sem pressa até algum lugar desconhecido por nós. As crianças acompanharem seus responsáveis enquanto tagarelavam sobre seu dia, e o corpo deitado se levantar e observar o céu estrelado, as lágrimas caindo por seu rosto por razões desconhecidas a nós.
Este em específico não se vai antes de deixar um sorriso sincero em sua direção, sem ao menos saber a razão deste, e então se põe a andar em passos silenciosos pelas ruas mal iluminadas da pequena cidade.
Sob seu olhar atento, as ultimas pétalas da cerejeira caem a sua frente e seus olhos se fecham, a dádiva daquele dia espetacular se esvaindo, assim como sua mera presença em meio ao campo esverdeado.

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