Capítulo II

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O príncipe Thomas subiu as escadas lentamente, mas ao se deparar com o corredor vazio, sua visão se tornou embaçada e lágrimas começaram a rolar dos olhos castanhos claro. Andou com dificuldade, segurando-se pelas paredes e esbarrando nas decorações, para assim chegar ao quarto.

Theo estava sobre a cama, olhando atentamente para a porta, quando o rapaz passou pela mesma e a trancou para não ser incomodado.
ㅡ E então? Como foi, alteza? ㅡ o bichano encarou o jovem.
ㅡ Por favor, Theo, não me pergunte nada ㅡ o príncipe se sentou e olhou para o gato com o olhar mais triste já visto.
ㅡ Oh! Tudo bem. Ficarei com você, mas bem quietinho ㅡ o felino alaranjado foi até seu dono, deitando-se ao lado do mesmo.

Logo, soluços altos ecoaram pelo quarto. O príncipe, finalmente, tinha começado a colocar aquela dor horrível para fora.
ㅡ Por que você me deixou logo agora? Eu não tenho a menor ideia de como agir ㅡ lamentou, olhando para cima, como se falasse com seu pai do além. ㅡ Por quê?
A dor no peito de Thomas era devastadora. A única força que lhe sobrou estava sendo gasta no desabafo.
Theo não tinha a mínima ideia do que fazer, apenas se aconchegou ainda mais no colo do rapaz.

O choro se tornou agonizante. As lágrimas pesadas percorriam o rosto do príncipe, soluços e gritos abafados podia ser ouvidos do corredor. O mundo de Tom desabou.
O lamento se tornou mais suave quase uma hora depois, quando foi preciso respirar fundo, pois o ar já não chegava corretamente aos seus pulmões.

ㅡ E para juntar com toda essa desgraça, ainda me vem aquele tal de príncipe Sebastian com tapinhas nas costas. Eu tenho cara de idiota? ㅡ Thomas estava indignado com a atitude do outro príncipe.
ㅡ Espere... ㅡ Theo se levantou e voltou a sentar-se em uma almofada, de frente para o dono. ㅡ Ele fez isso mesmo?
ㅡ Fez ㅡ o humano respondeu.
ㅡ Oh... mas uma coisa lhe digo: não o culpe por isso. Talvez ele só não saiba como lidar com situações do tipo. ㅡ e o guardião estava certo.

[...]

O que Thomas não imaginava era que há pouco mais de trinta minutos, o príncipe Sebastian tinham ouvido seu choro no corredor. Ele se sentiu culpado por não saber como ajudá-lo naquele momento tão difícil.

A verdade era que o caçula da família Blanc nunca teve muita interação social. Passou grande parte da infância trancado no grande palácio, tendo aulas particulares, lendo, treinando e caçando dentro da propriedade. Seu melhor amigo era Andrew Coleman, filho de um grande comerciante, dono de uma frota de navios de exportação, com quem seu pai mantinha parceria e uma amizade de longa data.
E embora muitas donzelas suspirassem ao ver a aparência misteriosa e atraente do príncipe, o mesmo nunca havia se interessado por nenhuma delas.

Sebastian retornou para a sala, onde os demais tomavam chá e conversavam.
Sentou-se no sofá vazio, exceto pela presença de seu guardião, um lobo de pelagem negra chamado Zyan. E ali ficou por um bom tempo, em silêncio. Até que seu irmão retornou do passeio com a noiva, e as famílias se despediram.

Mais tarde, a família Blanc estava retornando para o reino de Titã, em sua grande caravana de carruagens e escolta militar.
Os príncipes estavam na mesma carruagem, esta que balançava pela estrada rural do interior do reino de Pã. Os irmãos estavam em silêncio, olhando cada um para a janela ao seu lado, onde somente pequenas casas e enormes pastos eram visíveis naquela altura da noite.

ㅡ Como foi a caminhada com o príncipe? ㅡ Oliver finalmente quebrou o silêncio.

ㅡ Um desastre. Eu sou péssimo em interações, Oliver ㅡ o mais novo respondeu.

ㅡ Eu não o culpo ㅡ o outro príncipe suspirou. ㅡ Nossas famílias têm costumes diferentes, nossos reinos têm, na verdade.

ㅡ Mas e você e a princesa? ㅡ Sebastian mudou de assunto.

ㅡ Ela é doce e elegante, exatamente o que nossa família procurava ㅡ falou, sem muito ânimo.

ㅡ Não tiveram muitos avanços também. Não é mesmo? ㅡ o caçula leu a expressão no rosto do irmão.

ㅡ Não ㅡ Oliver confessou.

ㅡ Nós dois falhamos dessa vez. Mas já era de se esperar ㅡ deu de ombros.

ㅡ Infelizmente, é verdade. Necessitamos muito de melhorar a comunicação.

O lobo negro, deitado ao lado de Sebastian, fez um leve ruído enquanto dormia.

ㅡ Parece que Zyan está bem cansado ㅡ Oliver deu um breve sorriso.

ㅡ Ele correu atrás dos gansos do palácio a tarde inteira ㅡ o rapaz passou a mão pela pelagem macia de seu guardião.

Depois disso, o silêncio se fez presente mais uma vez, até a chegada ao palácio de Titã.
A morada da família real tinha paredes num tom grafite, enormes portas e janelas de madeira escura e um belo jardim. Era bem o perfil dos Blanc.
Sebastian cutucou Zyan para que o mesmo despertasse e depois seguiram para seus aposentos.
O quarto do príncipe era mal iluminado, com paredes revestidas de madeira e uma janela com vista para o jardim.

Zyan se acomodou no tapete aos pés da cama e olhou para seu dono com certa insatisfação.

ㅡ O que foi? ㅡ o rapaz questionou.

ㅡ O que foi aquele tapinha nas costas que deu no príncipe de Pã? Isso são modos de um monarca? ㅡ o lobo o repreendeu.

ㅡ Eu não sabia o que fazer...

ㅡ Não sabia ou não teve coragem? ㅡ o animal interrompeu sua fala, o encarando profundamente.

O príncipe apenas abaixou o olhar e sentou-se na cama.

ㅡ Não pode continuar assim, alteza. Em breve serão da mesma família. E algum dia você vai precisar se abrir para alguém, ter um relacionamento ㅡ o canino se sentou de frente para o moreno.

ㅡ Eu sei, Zyan ㅡ Sebastian suspirou.

ㅡ Então prometa que vai se esforçar.

ㅡ Eu prometo.

ㅡ Está bem ㅡ o lobo se espreguiçou. ㅡ Eu ouvi pelos corredores que os dois herdeiros de Pã virão para cá passar um tempo. Essa será sua chance ㅡ deitou-se no tapete.

ㅡ Quando será isso?

ㅡ Eu não faço ideia. Mas só um aviso: se falhar, eu mordo sua canela ㅡ Zyan riu da própria fala e da expressão chateada no rosto do príncipe. ㅡ Tenha uma boa noite, alteza.

ㅡ Você também, pulguento ㅡ Sebastian o insultou e viu o animal revirar os olhos de forma tediosa.

ㅡ Depois não reclame da cicatriz que deixarei em você...

Continua...

Pelos Anéis de SaturnoOnde histórias criam vida. Descubra agora