Capítulo 4

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Após uma madrugada inteira regada à café e música, desisti de minha pesquisa após não encontrar nada que me desse uma ajuda para entender melhor o mito. Inventar um enredo e um universo inteiro, fatos, interligar cenas, criar personagens, tudo para completar o que não tinha em relação ao mito apenas me atrasaria e tempo era a única coisa que eu não tinha. Relutante, peguei o telefone e vasculhei meu WhatsApp em busca do contado de Gabriel, a foto dele ainda era a mesma de duas semanas atrás. Levei o dedo à tela, mas antes que pudesse tocar o botão de ligar soltei o telefone sobre o tapete.

— Não surta, Júlia, não surta... É só um favor, uma conversa amigável, nada demais, ele não é um bicho de sete cabeças.

Pego o telefone novamente e sentindo meu coração congelar aos poucos clico no botão de ligar. Sua foto em larga escala em meu celular apenas piora minha ansiedade, quando finalmente vejo os números substituírem o "Chamando" o ar some de meus pulmões e eu fico estática encarando minha sala sem qualquer foco.

— Júlia? Alô?

Pigarreio e respiro fundo antes de falar, aquela era a primeira vez que eu ligava para ele desde que ele entrou no avião.

— Oi, oi... É, você tá ocupado? Tô precisando da sua ajuda com uma coisa.

— Pode falar, o que houve? Você está bem? — O tom de sua voz fica mais alto à medida que sua seriedade toma o rumo da conversa. Era essa a voz que ele fazia quando algo o surpreendia.

— Não é nada comigo, só preciso de uma pesquisa sobre mitos chineses e eu não tô conseguindo achar nada por aqui... droga eu não lembro o vilarejo dela! — Levo a palma da mão à testa provocando um ruído.

— O que é?

— Estou trabalhando em um livro novo de fantasia, só que o mito em que tô me baseando é apenas um resumo de boca em boca e eu não sei por onde começar. Pode pesquisar algo sobre Chunhua?

— Espera, você quer que eu faça uma pesquisa sobre você ou sobre um mito? Fiquei confuso... — Ouço ruídos de uma cama rangendo e meu coração acelera por um momento.

— Não, a personagem do mito se chama Chunhua... Minha madrinha me deu esse nome, lembra? Ela me falou do mito, só que ela disse que era na cidade dela em que ele era mais popular... eu não sei onde ela morava, será que vai ser difícil achar algo? — minha voz diminui à medida que a incerteza preenche minha cabeça.

— Ei, respira, vai dar tudo certo, não se preocupa. De manhã vou no museu e procuro sobre esse mito, tem livros de mitos demais lá, algum deles deve dizer algo sobre ela, se não a gente da um jeito. Fora isso, você está bem? — Desta vez sua voz soa bem mais feliz, como se ele estivesse contente de alguma forma.

— Tô bem, já disse. Não fica preocupado, prometo, estou bem melhor. E você? Como está se sentindo?

Neste momento me arrependo da decisão de fazer aquela pergunta. Por que me dar o trabalho de perguntar quando era obvio como ele se sentia? Ele estava feliz o suficiente depois de me tirar de sua vida.

— Eu vou bem, na medida do possível. Com o tempo as dores somem, como sua mãe dizia... Vou ter que desligar, já esta tarde e preciso chegar cedo no trabalho.

Vejo o relógio e então me dou conta de que era de madrugada para ele naquele momento.

— Minha nossa, perdão! Eu sinto muito Gabriel, boa noite, se cuida!

Desligo o telefone rapidamente após gritar minha despedida e então jogo o telefone sobre o tapete, caindo sobre ele em seguida. Levo minhas mãos ao rosto como se isso fosse, de alguma forma, diminuir a minha vergonha.

As Mil Reencarnações de ChunhuaOnde histórias criam vida. Descubra agora