Capítulo 2

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Kara Danvers

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Kara Danvers

A primeira sessão foi lenta e eu não senti que avançamos muito. Tive que insistir para que Lena falasse em alguns pontos. Sobre sua família adotiva ela parecia mais aberta em relatar detalhes de como os via. Na visão dela, sua mãe e sua irmã eram seres frágeis que ela tinha a obrigação de defendê-las de qualquer coisa ou qualquer um que parecesse perigoso. Isso ficou claro em eventos específicos como quando ela estrangulou o gato de estimação da família após ele arranhar a sua irmã e rasgar as cortinas compradas por sua mãe.

- Lionel chegou bem no momento em que o gato estava começando a revirar os olhos. - foi dizendo. - Me impediu de matá-lo no último segundo.

Um clássico sinal de psicopatia era torturar pequenos animais na infância.

- Houve algum animal que você tentou ou conseguiu matar?

- Além de insetos e lagartixas? Não. Na época eu não entendia que animais agiam por instinto e achei que o gato estava sendo mal. Foi um erro que não se repetiu.

Isso era curioso. Seria alguma espécie de empatia?

- O que aconteceu com o gato depois disso? 

- Ele ficou alguns dias internado e durante esse período a Samantha ficou muito brava comigo. Ela nem olhava na minha cara, disse que eu era doida. Eu achei que ela estava sendo estúpida porque eu estava apenas querendo defendê-la.

- O seu pai aplicou algum castigo?

- Eu não chamaria de castigo. Disse que eu não iria mais sair para brincar com as outras crianças e eu quis agradecê-lo porque odiava ter que fingir que gostava dos filhos dos vizinhos. Ficar pulando e correndo pelo quintal me parecia uma ideia selvagem e nojenta.

Mais nojento do que mutilar órgãos genitais de homens adultos usando uma foice? Era um tanto quanto irônico ouvir algo assim.

- Você achou que seu pai fosse aplicar algum castigo físico?

- Todas as vezes que eu fazia algo de errado e ele vinha até mim com aquele semblante de raiva eu me preparava para um tapa, um soco ou ao menos um empurrão. Mas ele nunca encostou em mim dessa forma. Lionel acha que o melhor caráter é formado através do diálogo. - riu com desdém.

- E você não concorda com ele? - encarei a morena a minha frente.

- Sei que se ele tivesse me batido em algum momento eu o temeria o suficiente para não desejar queimá-lo vivo enquanto ele dormia. - quando uma pessoa falava do desejo de matar um de seus pais com tanta naturalidade a frase se tornava ainda mais sombria.

- Provavelmente você desenvolveu um trauma sobre a figura masculina já que os primeiros registros de memória da sua vida com homens foram violentos. Por mais doce, amoroso e paciente que seu pai adotivo fosse, você ainda tinha um bloqueio, uma raiva dele só por ele ser homem.

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