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Príncipe Afonso

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Príncipe Afonso

Dentre coisas que eu sempre achei satisfatórias, com certeza ver a fisionomia tranquila de Catarina é a melhor de todas. Nunca imaginei que ver seu sorriso poderia ser tão prazeroso, confortante e pacificador. É uma ironia, de fato é. Enquanto observo de longe ela rodopiar pela palácio junto de um servo anotando todas as suas exigências, sorrio despretensiosamente, chamando atenção de meu irmão.

- O que está fazendo, irmão? - Sebastian questiona, me encarando com seriedade. - Lembro de nossa conversa dias antes de sua princesa chegar... Disse que ela não o interessaria, que era apenas negócios, um tratado. - Após uma longa pausa intencional, ele continua - Ainda é apenas isso?

- Seban... - digo, voltando minha atenção para a ata do último mês. - Não estou fazendo nada.

Ouço resquício de seu riso incrédulo e logo depois ele solta um suspiro.

- Ela é uma mulher intrigante, devo admitir. - diz, tentando me instigar a uma confissão. - Sua beleza é notável, apesar de não como das mulheres de Montemor. Seus olhos escuros são penetrantes, sua postura ameaçadora é atraente, e sua sagacidade...

- O que pretende com todos esses elogios? - um incomodo faz com que eu deixe de dar atenção a ata e o encare.

- O interessa, mesmo?

Eu e meu irmão tínhamos uma boa relação, apesar de nossas posições. Somos próximos, amigos até. Conversamos, trocados algumas confidências, a raiva mútua por nosso pai, mas sempre detestei o quão vago Sebastian pode ser. Ele sempre deixa tudo subentendido, e apesar de sermos próximos nunca sei quando está blefando ou sendo sincero.

- Perguntaria se não me interessasse? - o questiono, com seriedade. - Sabe que não sou um homem de superficialidade.

Meu irmão sorri e volta sua atenção a documentação mestral a qual me ajudava a analisar.

- Sei que costuma ser um homem racional, e não um homem que fica levando chibatadas por princesas.

- Pela minha futura rainha. - o corrijo, mas dou conta do peso das palavras muito tarde.

Não contestei, nem pensei duas vezes ao defende-la. Como se fosse um instinto, algo que não posso controlar.

- Nunca levou chibatadas por sua amante. - provoca.

- Minha amante nunca foi um problema para nosso pai. - pontuo, rebatendo seu argumento.

Como se a natureza, o reino e tudo que existe vivesse para contempla-la, Catarina surge diante de nós em toda sua majestade.

O que precisa para que eu prove que tem minha lealdade?

Depois de me questionar isso na noite passada, Catarina arquitetou um plano que fez ainda mais inacreditável do que eu já achava. Uma princesa que não se rende, se curvando diante do príncipe na frente de toda a corte.

Ela se achega perto de mim, com um sorriso sádico e olhar vivido e faz um contida reverência.

- Meu príncipe, se achar favor, diante de sua corte... - ainda em reverência ela diz - Se a ti parecer agradável, te suplico... Te imploro. - levanta os olhos para mim, estranhamente se agradando de sua encenação. - Concede-me perdão pela minha conduta? Me exaltei, jamais deveria ter agido como agi e sei que não ter uma punição já é um ato misericordioso do meu príncipe e do meu rei. Peço perdão, ao meu futuro rei e a minha Montemor.

Sinto o olhar confusa e surpreso de meu irmão diante de mim, vejo que os súditos ao redor se sentem embasbacados e eu sorrio, sorrio como se ela fosse a mais adorável princesa apesar de ser uma megera.

- Foi intransigente, minha princesa. - digo, em tom ponderado. - E não esperava de fato um pedido desse de sua parte, admito.

- Meu príncipe... - ela se aproxima lentamente e quando estamos próximos o suficiente para sentirmos a respiração um do outro, ela se ajoelha. - Peço, perdoe-me se achar graça em mim apesar de tal atitude repulsiva minha.

- És minha princesa e eu sou seu príncipe. - declaro, e posso ver suas pupila dilatada.

Ela segura minha mão e deposita um beijo casto e lento nela, causando calafrios prazerosos em minha pele.

- Gostaria de convidar o príncipe para almoçar junto a mim no jardim, se claro, não estiver atarefado. - declara, e se levanta ainda segurando minha mão. - Receba como uma oferta de gratidão por seu perdão.

Fico em silêncio, fingindo estar analisando se devo ou não aceitar seu convite. Todos estão em silêncio, atônicos a situação apenas aguardando minha resposta.

Apenas balanço a cabeça em concordância e Catarina faz uma reverência antes de sair.

Após alguns minutos todos seguem seus afazeres, mas o olhar penetrante de Eleanor está fixado em mim, como se ela estivesse se sentindo a pior das mulheres, como se eu tivesse a traído.

- Ela parece ser um problema agora. - meu irmão diz, ao encarar Eleanor. Eu que nem tinha mais notado sua presença, agora me sinto ainda mais irritado pelo o que há de vir e por parcela ele ter razão.

- Vamos para as atas, não tenho tempo para isso.

Ignoro o olhar de Eleanor até que ela desiste e saia aos prantos com pressa da sala do trono. Algo no meu coração aperta pois sei que fiz a mulher que amo sofrer, mas por outro lado quando o servo me recorda do almoço com Catarina sou tomado de ansiedade e me sinto extasiado.

E assim que caminho em direção a ela e a vejo vestida de vermelho encarando as rosas como se fossem as únicas do mundo, sinto meu coração errar uma batida e percebo que de agora em diante, ela vai além de um tratado.

O peso da coroaOnde histórias criam vida. Descubra agora