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Me surpreendo em ter o príncipe em minha porta depois do desagradável e hostil jantar

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Me surpreendo em ter o príncipe em minha porta depois do desagradável e hostil jantar. Depois de ouvir de sua própria boca que estava com Eleanor, não tive motivo algum para continuar a olhar em seus olhos, pois até ele estava envergonhado, pois nós dois sabemos o porquê dele ter estado com sua amante. Não me importo com seu modo melodramático, ou se ele ainda acredita ser possível viver um romance na posição que não encontramos, mas odeio o fato dele usar isso para me atingir. Todas as vezes que esteve com ela desde que cheguei, ele foi discreto e até mesmo respeitoso, mas não hoje no jardim. Hoje ele acariciou seu rosto, sorriu abertamente e depois foi se deitar com ela para que todos soubessem, eu não sabia até o maldito rei deixar subentendido, e talvez por isso eu tenha me sentido até mesmo traída. Ele poderia vim e me ofender, dizer que estava com Eleanor e que me quer o mais distante possível, mas nunca fazer com que eu soubesse pelo seu maldito pai na mesa de jantar. Se eles tem princípios e escrúpulos, onde se encontra? Gostava do príncipe, ele sabe que sim, mas também percebe em meus olhos que estou irada e incapaz de lhe conceder uma visita agradável a meu quarto como da última vez.

- O que lhe trás aqui?

- Ele concederá seu pedido. - diz, com o tom de voz brando, como se estivesse tentando ser prudente. - O rei fará o que pediu... - o silêncio se estende entre nós pois ele não obtém nenhuma resposta da minha parte. - Vi que estava agoniada durante o jantar.

A sensação de alívio me toma quando ele me garante isso, mas por outro lado questiono o motivo de querer tocar no assunto do jantar. Ele se aproxima de mim, ultrapassando a porta e eu o encaro sem expressão, estamos num campo minado e os dois querem saber ate onde pode ir. Me garantindo a resposta que eu esperava, ele demonstra ainda querer ser meu aliado e agora quer saber se eu irei corresponder ou não.

Apenas maneio a cabeça de modo contido, e faço um sinal para que ele entre e fecho a porta do quarto não me importando se os guardas estão presenciando seu príncipe entrando a essa hora no quarto da princesa de Artena.

Afonso se senta na cama, com timidez e cautela, enquanto encara as próprias mãos. Ele não sabe o que falar ou como começar, enquanto eu sei variadas formas de o ofender ou humilhar, mas preciso ser prudente e racional agora.

- O que lhe trás aqui? - pergunto novamente, porque sei que não foi somente para me contar sobre a decisão de seu pai.

- Porque me deixou entrar? - ele rebate.

- Perguntei primeiro.

- Faremos esse jogo? - questiona, agora me encarando. - Dei o primeiro passo.

Fico em silêncio, com os braços cruzados o encarando e ele sabe que não darei o braço a torcer.

- Estava excepcionalmente majestosa hoje. - declara, me encarando com intensidade. - Entretanto, nesse exato momento onde a luz da lua resolveu pairar em seu rosto está ainda mais exuberante.

- Veio me conceder lisonjeiro? - pergunto, erguendo as sobrancelhas.

- Foi uma das coisas que vim fazer. - responde, e sorri de lado de alguma forma desconcertando algo dentro de mim.

- Quais são as outras?

- Alguma coisa forte me impede de me manter longe por muito tempo. - admite, me surpreendendo e fazendo meu coração ter batimentos descontrolados.

Sorrio com sarcasmos e o encaro estreitando os olhos.

- Conseguiu se manter longe por muito tempo, e inclusive quando se deu o trabalho de olhar para mim foi para me humilhar junto de seu pai.

- Não faria isso de propósito, sabe disso. - o seu tom de voz começa a mudar, ficando sério.

- Eu sabia até uns dias atrás, hoje já não sei. Quer dizer, se foi se deitar com Eleanor por simples prazer, porque não fizera antes? Escolheu o propício momento em que tivemos um atrito? E decidiu que todos deveriam presenciar suas cenas românticas no jardim?

Ele ri, incrédulo.

- Você e toda Montemor sabe se Eleanor, ela não é um segredo.

- Que grande conforto, Afonso. - respondo com ironia e o encaro com tédio.

Ficamos calados, enquanto divaga pelo meu quarto. Ele é muito medieval, todo o reino de Montemor é. Existe algumas pinturas, alguns objetos históricos, é tudo encantador. Mas Montemor em si não é, ela tem me feito questionar a mim mesma e minhas convicções sobre quem eu sou.

- Por que virou as costas para mim? - ele pergunta, como um menino triste. Como se de fato tivesse ficado magoada.

- Porque não me apoiou. - rebato, monótona.

- Precisa tanto que as coisas sejam sempre evidentes, Catarina? Não é porque você não vê, que não aconteceu. - responde, e encara sacada do quarto que concede uma bela visão da lua.

- Não disse uma sequer palavra, mesmo que soubesse que seu pai estava sendo covarde com aquelas vidas. - declaro, exasperada.

- Sebastian não sofreu um atentado... Ele foi até as regiões de Artena que tinham sido atacadas, ele foi com alguns homens de sua confiança. Lá em Artena, tinha alguns daqueles rebeldes ou soldados de Arshimat, e eles o reconheceram e o atracaram. O rei pensou que Sebastian estava em algum tipo de missão, considerando que ele não se importa pois está sempre ocupado com seu próprio reinado, ego ou amantes. Então sabíamos que ele não daria falta caso Sebastian dissesse que ele estava em alguma missão ou algo do tipo. Eu já sabia o que havia acontecido com Artena, o rei também. Ele demorou duas semanas para lhe contar e não adiantaria mandar homens após o estrago que foi feito, então quando a notícia chegou até mim com antecedência, pedi a ajuda de Sebastian e ele concordou. Quando voltou ferido, tivemos que inventar que foi um atentado no nosso próprio reino e o rei não iria ate lá para constatar, pois ele acredita sempre no que Sebastian diz. Me mandou e ainda que estivesse tudo em perfeita harmonia, precisei mentir. - após ele dizer essas palavras, entro num misto de sensações. Fico boquiaberta e envergonhada, me sinto uma estúpida.

- Mas o rei descobriu. - sua voz fica embargada, e ele se levanta para andar pelo quarto como eu, procurando algo para se distrair. - E houve um castigo por isso.

- O que ele fez? - minha voz é falha, sinto o bolo de formar na minha garganta.

- Ele me castigou, alteza. - então ele para diante de uma pintura e a encara sorrindo com tristeza. - Belo quadro. - Elogia um quadro melancólico que se destaca entre os outros tão comuns. - Mas quando soube que não tinha nenhum ataque aqui, lhe concedeu o que pediu porque sabia que agora que Sebastian havia atacado homens de Arshimat, agora estávamos ameaçados e não podíamos entrar em atrito com Artena.

- Afonso...

- Eu a apoiei e você me deu as costas, Catarina.

Me sinto a pior pessoa do mundo e ate então nunca tinha me importado com esses sentimentos, mas saber que Afonso carrega mais dor nas costas por minha causa, e isso me quebra por inteira.

- Não quero sua pena, não vim atrás disso. - diz, com o rosto retorcido, como se ele estivesse numa briga interna. - Apesar de sua deslealdade com a palavra que você me deu, Catarina. Apesar de mais uma marca que carregarei por tentar proteger você e seu reino, eu a quero comigo, mas para isso terá que me dar a mesma importância que dá a sua coroa, ou então acabaremos os dois sendo esmagado pelo peso dela.

O peso da coroaOnde histórias criam vida. Descubra agora