Capítulo XV

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- Você não quer ir comigo?

- Querer eu quero, mas... - Camilo alternou o olhar entre os pais e eu, respondendo em um mix de contrariedade e súplica. - Pa?

- Por mim não haveria problema, mi hijo, só que você já prometeu para sua mãe. Tem que ver com ela. - Tio Félix se virou para a esposa bem ao seu lado, que não parecia querer liberar o filho de qualquer que seja o compromisso que ele tenha se enfiado.

- Sinto muito, S/n. Precisamos mesmo da ajuda do Camilo amanhã. - Afinal, o que ele vai fazer que vai levar o dia inteiro? Como que trazendo o meu pensamento à tona, Pepa continuou. - Algumas safras aqui de Encanto que reabastecem todos na comunidade estão com um surto de fungos branco. Isabela vai tentar recuperar o solo com o dom dela e, enquanto isso, o agricultor vai precisar de ajuda para colher o que se salvou e também preparar um espaço novo para o cultivo. - Ótimo... Isabela também vai estar ocupada, perdi minha segunda opção. Camilo se voltou para mim com um muxoxo:

- Vai ser um trabalho pesado, acho que vai demorar.

- Por que não convida a Luisa, niña? - Pepa sugeriu. - Ela nunca saiu do refúgio antes e, pelo que ouvi, vai tirar o dia de folga amanhã. - A Luisa...? Não tenho nada contra, mas não nos falamos muito. Será se não vai ser estranho?

(...)

Estranho ou não, Luisa aceitou. E Mirabel, que conseguiu terminar suas coisas a tempo, resolveu vir junto.

- Isso vai ser tão incrível! Eu, minha irmã preferida e minha amiga preferida passeando juntas. O dia das meninas! - Bel exclamou animada em nosso caminho até a pequena ponte.

- Eu sou a sua única amiga, Bel. Fora da sua família, pelo menos.

- É, de fora, tá bom, mas pelo jeito é por pouco tempo. - Falou o final com a voz tão baixinha que eu mal ouvi um sopro, então levou uma cotovelada da irmã e as duas pareceram risonhas demais na troca de olhares.

É alguma piada interna da família Madrigal? Esquisito.

- Desculpa, eu não escutei.

- Ah, não foi nad-

- Eu estou muito feliz que você me convidou, S/n! - Foi interrompida por Luisa, que tinha um sorriso esticado no rosto. - Nas minhas folgas eu costumo ficar só deitada, vai ser legal fazer outra coisa para variar.

- E sem falar que é tão difícil o nosso primo te deixar sozinha, é uma oportunidade preciosa para nos conhecermos melhor. - Nem ficamos juntos tanto assim, não é como se eu e Camilo fôssemos como Bonnie e Clyde. Mirabel então parou no lugar, ficando de frente para Luisa e eu, e levantou as palmas das mãos. - Vamos, meninas, batam aqui. Pelo chá das três!

- Já vai dar quase quatro, iremos encontrar com mais pessoas e acho que não vai ser chá.

- Não seja estraga-prazeres, S/n. - Luisa riu, batendo a mão na da irmã. - Pelo chá das três!

- Vaaamos! - Bel sacudiu a que faltava, me fazendo sorrir de canto com um revirar de olhos.

- Tá certo, pelo chá das três. - Fiz o mesmo que Luisa, sentindo um leve formigamento correr pela minha mão assim que minha palma encontrou com a de Mirabel. Bati forte demais? Ela não demonstrou nada, então não me desculpei.

Mirabel enganchou o meu braço e o de Luisa nos seus e voltamos a andar pela ponte.

- Onde o seu amigo ficou de nos encontrar mesmo?

- Aqui, mas ele deve estar atrasado. - Olhei ao redor, como se Juan fosse aparecer a qualquer momento.

Mas não apareceu tão cedo. Nos sentamos na mureta da ponte, jogamos algum papo fora, esticamos as pernas umas vezes e, só então, vimos ao longe uma carroça se aproximar. Já era tempo. Pulei para o chão, dando passos em direção ao transporte que parava aos poucos em nossa frente.

Metamorfosis (Camilo x S/n)Onde histórias criam vida. Descubra agora