Capítulo XVIII

431 52 34
                                    

Eu estava muito nervosa, embora não demonstrasse. Todos os Madrigal já me conheciam, eu já havia trocado pelo menos algumas frases com os que eu menos encontrava, já era praticamente de casa, mas ainda assim, quando Pepa resolveu me convidar para um jantar oficial como namorada de seu filho, não consegui evitar o desconforto ao me sentar à mesa.

- ... e todos nós já havíamos percebido que Camilo arrastava a asa para você, niña. Estamos contentes que se acertaram. - Tive tempo de voltar a mim antes que a abuela terminasse a fala e, mesmo eu não estando atenta no começo, dava para contornar.

Forcei um sorriso, com tio Bruno puxando minha atenção para a outra ponta.

- Você nem imagina o esforço que ele fez para parecer bem aos seus olhos. Até pediu sugestões de leitura para a professora da vila.

- Bem que eu percebi mesmo que ficou um tanto mais eloquente. - O olhei de canto de olho, vendo-o sorrir com uma timidez adorável. Digna de um beijinho, mas vai ficar para depois.

- Também está se arrumando melhor. Foi de porco para pavão.

- Antonio! - Camilo e Pepa repreenderam ao mesmo tempo, e a mulher riu sem jeito logo depois, completando. - Tonito, querido, não seja implicante com seu irmão. Não está vendo como ele está feliz?

- Falando em felicidade, mi hija... - Abuela voltou a se pronunciar, levando os olhares para a filha e para o genro bem ao lado. - Acho que devíamos aproveitar e tocar no assunto que conversamos mais cedo. - Disfarcei dando uma garfada na comida depois que os três se viraram para mim.

- Mas agora, mamá? Não é melhor esperarmos mais um tempo?

- Esperar pelo que? - Camilo nunca conseguia guardar a curiosidade.

- O único que não aceitou minha ajuda foi o Brunito, e olha como ele está agora: sem filhos e sem esposa. - Por alguns segundos houve um clima pesado, Bruno até mesmo escorregou na cadeira sem ao menos levantar os olhos ou procurar se defender. Já o meu jovem Madrigal, talvez envergonhado pela fala agressiva da avó, esgueirou a mão até a minha e enlaçou nossos dedos por debaixo da mesa. "Me desculpe por isso, mi oruguita", eu quase podia ler em seu olhar acanhado. - Olhem para eles, a camaradagem, o jeito que encaram um ao outro. Da mesma forma que ficávamos eu e meu Pedro. S/n precisa saber que nossa família é séria.

- Abuela, não estamos entendendo onde a senhora quer chegar. - Com a mão livre, Camilo alcançou a jarra de suco para então completar a bebida em meu copo, não dando tanta importância para o que a matriarca falava.

Se dando conta de que todos os outros à mesa estavam boiando no assunto, Alma limpou a garganta e se virou diretamente para nós, os pombinhos da vez.

- Eu e seus pais conversamos e achamos de bom tom falarmos sobre o casamento. - O garoto se desestabilizou por um instante, com a bebida alaranjada saindo da jarra direto para a mesa depois que perdeu o foco de meu copo.

A simples menção da palavra me fez aumentar os olhos até a senhora, então minha atenção foi como que puxada para Isabela que me encarava do mesmo jeito. Todos os netos apenas pararam de comer para observar os mais velhos.

- C-casamento? - Nem me importei por ter gaguejado. Oh Céus, por que todos insistem em me casar? - Ma-mas eu e Camilo só estamos juntos há alguns dias. - A ideia soa tão estapafúrdia para os outros como soa para mim? Porque não é possível.

- Isso mesmo, niña, você é uma moça comprometida agora. - O metamorfo e eu nos miramos de rabo de olho.

- Escute, querida. - Pepa riu sem jeito ao procurar esclarecer. - O que mamá quer dizer é que também não queremos que fique mal falada, sabemos que sua mãe não está por perto.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 03, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Metamorfosis (Camilo x S/n)Onde histórias criam vida. Descubra agora