Capítulo XVII

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- Hum-hum-hum... - Eu murmurava no ritmo da música, girando pela sala com as laterais da saia nas mãos junto com um espanador que eu, por vezes, usava para tirar o pó dos móveis enquanto mexia os quadris acompanhando a melodia na minha cabeça. - Que o mal é da idade, que pra tal menina não tem um só remédio em toda a medicina~

- Está alegre, ein? - Fui pega desprevenida pela voz atrás de mim, no mesmo segundo levando o olhar até a janela da cozinha do outro lado da casa. Quem estava lá era Isabela, escorada no parapeito com um sorrisinho no canto da boca. - Dá pra ouvir você cantando de longe.

- Isa~ Felizes os olhos que te veem. - Acabei por sorrir, e como poderia ser diferente depois da pessoa que encontrei mais cedo? As bochechas da Madrigal se avermelharam um tantinho antes de responder.

- Muito mais felizes os que veem você. Animada e sorrindo, por acaso alguém morreu?

- Que horror, Isabela! - O absurdo conseguiu me tirar uma risada. - O que está fazendo aí no sol? Entra de uma vez, eu preciso te contar. Entra, entra! - Me apressei até a porta depois que vi a garota dar a volta, então abri para que ela entrasse.

- O que aconteceu?

- Nem te conto, menina.

- Ué, você quer contar ou não? - Botou a mão na cintura, me fazendo revirar os olhos antes de puxá-la até o sofá. - O passeio ontem deve ter sido incrível, né? - Abaixou o olhar para as próprias mãos. - Já que está tão feliz. Nunca te vi assim.

- Esquece o passeio, não quero falar disso. - Basta eu ter passado o resto do dia ontem escondendo minha irritação, mas isso não vinha ao caso. - Eu esbarrei com o Tonito hoje enquanto ele ia para a escolinha.

- Tonito? - Confirmei com a cabeça. - E por que isso importa?

- É que a gente conversou um pouco, e você sabe como ele tem a língua afiada igualzinho ao irmão.

- Nem tanto, vai... - Riu. - Mas o que ele disse? E se foi sobre um bolão, não conte para nossos pais.

Bolão?

- Que bolão? - Ela desviou os olhos. - Depois eu vou querer saber dessa história. Mas não, não foi sobre aposta nenhuma. Tonito só comentou que o Camilo ficou com ciúmes de mim. Sabe, por eu ter aceitado o convite do meu amigo. Você acha que é verdade, Isa?

Ela resmungou alguma coisa para então pigarrear.

- E se fosse, é por isso que está radiante assim? - Quem desviou o olhar agora foi eu.

- Não posso dizer que não estou satisfeita...

Isabela e eu ficamos em silêncio por um momento, embora eu tenha feito um esforço para conter a vontade de sorrir outra vez. Então, ela voltou a falar depois de firmar as vistas em meu rosto.

- Me diz a verdade, S/n, o que você acha do Milo? - A pergunta me pegou um pouco de surpresa. Não que eu não soubesse o que sentia por ele ou o que achava dele, mas eu não sabia quais as melhores palavras para expressar isso a qualquer outra pessoa. Para mim, era especialmente difícil.

O que eu acho de você, Milo? Pensei no que responderia caso ele me perguntasse a mesma coisa. "Camilo é legal"... Não, cruzes, não posso dizer um negócio desses. Cachorrinhos são legais. O Camilo é... A palavra certa não vinha, apesar de parecer estar na ponta da língua.

Porém, mais do que de repente, me dei conta. Tinha algo fora do lugar na pergunta de Isabela e quase me passou despercebido. Estreitei os olhos para a garota que continuava a me encarar à espera de uma resposta.

Metamorfosis (Camilo x S/n)Onde histórias criam vida. Descubra agora