Immutable

Chapter XXVII: (Ir)reparable damage

Perguntei no Twitter (hesbabiex) e pergunto aqui também: que tal um capítulo no ponto de vista do Louis? Estou trabalhando nisso!

Prontos para odiarem a Anne mais um pouquinho ou vocês são compreensíveis demais para condená-la? Perdoem a loucura contagiante, ok? Ela termina hoje e meu Curiouscat está aberto para as dúvidas que possam surgir depois desse capítulo.

Até logo xx.

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❝A razão pela qual dói tanto é porque
nossas almas estão conectadas.❞

ೃ༄

A vida do ser humano é composta por etapas.

Se desvincular do seio familiar é a primeira que atravessamos. Ainda que com poucos anos de vida, adentramos o ambiente escolar para desenvolvermos a comunicação e as emoções a partir das relaçãoes interpessoais. Em seguida, transitamos pela pré-adolescência e adolescência, períodos marcados pelas grandes oscilações comportamentais e pensamentos flexíveis, aflorados, rebeldes.

São fases delicadas, confusas, intensas. São fases de grandes amores e grandes decepções. Fases de responsabilidades, descobertas, hormônios e desavenças.

Esperamos estabilidade financeira e emocional na fase adulta, mas o inconstante se mantém inconstante. Imóveis, veículos e proles são metas fundamentais ㅡ ou não, há outras prioridades quando a singularidade é considerada. Somos tripulantes de um barco que segue uma bússola de magnetismo duvidoso. Estamos em alto-mar, vagando em busca de sentidos e objetivos, sejam eles apontados como frívolos por alguns ou indispensáveis por outros.

Harry, por sua vez, fora protegido por uma bolha maternal sufocante durante a infância e sutilmente reprimido em sua fase de rebeldia. As consequências refletiram numa experiência sexual tardia ㅡ pois seu mundo era dinâmico e selvagem, e ômegas costumavam vivenciar o primerio cio por volta dos quinze anos de idade e não aos dezoito ㅡ e o anseio de nunca ter uma ligação, motivo que o levou a saltar de um relacionamento para outro e se frustrar a cada desilusão amorosa.

Depois do banho quente, ele descobriu que a superproteção não era a única característica que esteve presente em toda a sua trajetória ㅡ as mentiras também faziam parte dela.

Harry era um raça pura e Anne, uma grande mentirosa.

Questionar tudo o que havia vivido até ali foi inevitável. Afinal, o que mais sua mãe tinha a esconder? Inventar histórias para uma criança não soava tão improvável quanto mentir sobre a própria espécie.

O ômega escolheu esclarecimentos ao invés de lamentações.

Sentado à mesa, ele escutou a chave se encaixar na fechadura e sentiu o cheiro doce da sua genitora se acentuar ㅡ o seu mantinha inodoro e ele não sabia o que fazer para tê-lo de volta.

─ Querido, por que minha mala está-

Anne paralisou diante das orelhas felpudas. Era exatamente como ela se recordava: alaranjdas com manchas escuras e brancas.

Seus lábios partiram uma, duas, três vezes, mas as palavras morreram em sua garganta. A mulher vinha recitando o que diria quando a verdade viesse à tona porque, obviamente, a presença de Louis despertaria o lado animal do seu filho e não teria escapatória. No entanto, ao perceber que a ausência do chá e a recente ligação não havia revelado mudanças significativas, ela pensou que talvez pudesse dispensar explicações.