Capítulo 4 - Theo

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Durante todo o trajeto de ônibus até a estação do metrô, eu só pensava no sotaque de Will pedindo para mexer dentro da minha saia. Quase fiquei com pena dele, a voz era tão profunda que parecia dolorida.

Que sorte a minha, cair nas garras do chefe da empresa!

Meu coração batia doído pensando que eu certamente tinha perdido a vaga de emprego por ter negado uns amassos, mas como eu ia aceitar aquilo? Será que era assedio?

Um homem daquele, bonito, rico e estrangeiro devia estar acostumado a ter qualquer mulher que quisesse.

Eu não era qualquer mulher.

Nem era mulher para ele!

Eu não podia me dar ao direito de fazer tudo que quisesse, eu era a prova do erro da minha mãe que não resistiu a seus instintos e teve que largar a escola para me criar. Por isso passou a ter empregos ruins, teve que morar na casinha nos fundos da casa da tia, acabou por virar cuidadora de idosos que ganhava mal porque não tinha curso de enfermagem que não podia fazer porque não tinha dinheiro.

Não.

Eu ia resistir aos homens até ter uma profissão boa e poder casar com alguém que me ajudaria a viver bem.

Na estação do metrô, eu parei na frente de um anúncio para me ver pelo reflexo do vidro. Ele falou da saia de camurça...

Me virei e olhei por cima do ombro para ver o meu traseiro marcado na sainha. Era Chanel afinal de contas, tinha bom corte e tecido de qualidade. Will era rico, deve ter reconhecido em mim algo do mesmo nível dele, até achado que eu era patricinha.

― Está bonita! ― um rapaz disse passando por mim e eu morri de vergonha de estar usando o painel de propaganda como espelho.

Prendi o tablet contra o peito, puxei o elástico do cabelo e entrei no metro cabisbaixa, muito mexida pelo acontecido. Com a cortina de mexas louras, ninguém ia ver meu rosto enquanto eu pensava no estrangeiro rico e beijoqueiro.

Nem reparei a viagem no segundo ônibus que era a última parte do trajeto. Só dei por mim quando desci na pracinha e passei a andar para casa. Já estava chegando perto da minha rua e algo estranho aconteceu: eu vi um carro novinho passando, daquele tipo de carrão que só tem em anuncio da TV, nunca na minha vizinhança. Tinha vidros pretos e passou por mim devagar, mas não vi quem estava dentro. Senti um negócio no peito, imaginei se era alguém da Horsefall.

Revirei os olhos e deixei para lá. Por que eles se preocupariam assim comigo?

Abri o cadeado do portão com cuidado para não quebrar as unhas novas e deixei os olhos irem para a placa de vende-se da casa em frente. Era um sobrado grande todo revestido de azulejos decorados na frente. A casa de baixo tinha varanda e quintal, a de cima tinha um terraço com churrasqueira. Eu sei porque já tinha ido a muitos aniversários naquela casa antes da Dona Dalva morrer. Ela era mãe de quatro filhos, avó de uns vinte netos. Eram boas pessoas, mas saíram do bairro conforme foram casando e com a morte da mãe, resolveram vender para dividir o dinheiro. Pensei em jogar na loteria, ganhar o dinheiro e comprar a casa. Deixaria minha mãe morando na casa de baixo e me mudava para a de cima. Seria ótimo ter um lugar só para mim...

― Quem é? ― veio a pergunta antes da tia Márcia chegar na porta de grade.

― Sou eu, tia.

― Marcinha.

― Sim. ― passei a corrente no portão para fechar o cadeado.

― Vvai no mercado e me traz leite e cenoura. ― ela esticou uma nota de dinheiro pela grade.

Meu Duque CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora