Capítulo 1 - Theo

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Foi tudo culpa da minha saia da sorte.

Se não fosse eu ter aquela mini saia de camurça caramelo, nada de extraordinário teria acontecido comigo. Mas como a tal sainha era minha roupa favorita, eu usei na entrevista de emprego dos meus sonhos na Horsefall S.A.

E aí tudo aconteceu.

Aquele dia começou como todos os outros na minha vida: dando duro. Acordei cedo para terminar a encomenda de bolo de pote que me rendia uns trocados, o tempo todo olhando o celular para ter certeza que não iam desmarcar aquela entrevista. Depois tomei banho e me vesti para impressionar.

Com certeza eu usaria a saia de camurça, era linda e de marca. Minha única roupa de loja famosa, tudo que me ligava ao mundo dos ricos e eu só tinha a peça porque a dona do brechó do meu bairro não conseguiu vender. Me fez um descontão depois que eu modelei para o Instagram dela e depois de muitos likes e DMs, ficou claro que ninguém mais tinha a cintura da mulher que comprou a peça na loja chique e deu para alguém vender de segunda mão. Só eu.

Saia caramelo, blusa larguinha preta, sandália de salto médio e maquiagem simples. Todo o tempo enquanto me arrumava eu ensaiava as respostas para as perguntas imaginadas. Tudo em inglês. Eu tinha certeza que seria assim porque não tinha outra razão para essa empresa dos Jardins me chamar.

Assistente de secretária executiva era uma cargo muito bom para mim, seria uma evolução enorme na minha vida e eu merecia! Fiz muita força estudando inglês sozinha online, assistindo seriados no TV box, decorando músicas e ensaiando sozinha. Eu aprendia rápido e me comprometia com meu sucesso.

Meu longo cabelo com luzes loiras era melhor solto ou preso? Testei várias formas até decidir por um rabo de cavalo alto com aqueles truques do Instagram para ficar armadinho. Me olhei com cuidado e decidi que eu servia para o cargo, ia me encaixar na empresa rica como dizia o site que vi na internet: Sede em Londres, em Nova York e em Paris, abrindo agora em São Paulo. Gente fina e elegante, todos ricos cuidando daqueles números e gráficos da bolsa de valores. Certeza que precisavam de alguém para atender telefone e fazer backup: essa seria eu!

Separei minha bolsinha preta, enfiei o telefone, documentos e a única nota de dinheiro que eu tinha, peguei a sacola de bolos de pote e respirei fundo.

― Quando eu voltar, minha vida vai ser outra! ― olhei em volta tentando me convencer daquilo e fechei os olhos por um momento.

― Tchau, mãe! ― gritei, mas só silêncio. ― Mãe? Mãe?

Devia ainda estar dormindo, era muito cedo para ela.

Tranquei a porta e sai rápido pelo corredorzinho ao lado da casa da minha tia-avó, era o único caminho da minha casa nos fundos do terreno, e infelizmente dava a chance da velha maldosa controlar nossas vidas. Eu me abaixei passando pela janela da cozinha dela e já estava quase no portão quando ela apareceu.

― Já vai bater perna na rua, Marcinha?

Ah, que saco. ― Bom dia, tia Márcia. ― falei sem me virar para vê-la na porta da sala. Aposto que nem abriu a grade, devia estar de camisola fazendo fofoca.

― Está muito cedo para ver homem na rua. Você é igualzinha sua mãe. Ainda bem que minha irmã morreu antes de ver a filha cair nessa vida.

― Vou fazer uma entrevista de emprego. ― eu disse equilibrando a sacola de potes de bolo e abrindo o cadeado do portão ao mesmo tempo.

― Sei que tipo de entrevista vai ser esta.

― É lá nos jardins, já estou atrasada.

― Lugar chique, hein?

Meu Duque CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora