Capítulo 4

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Victor narrando


Um mês e meio depois, assim que entraram as férias de verão , chegou o grande dia de viajar. É claro que como os outros , estou ansioso demais , estou a duas noites sem dormir , aproveitei a insônia para arrumar todas minhas malas.
Para minha mãe é como se eu fosse morar longe para sempre , o caminho todo veio derrubando lágrimas, meu pai tentou a consolar mas ela não deu ouvidos a ele. Por pouco toda aquela papelada não foi parar na cabeça do meu pai.

Teremos uma guia que viajará conosco, e lá teremos outra para nos auxiliar no caminho até a faculdade. A mudança de línguas pode confundir os demais alunos , por isso nunca estaremos sozinhos.

Depois da despedida longa dos meus pais , os abracei e disse que vai ficar tudo bem , vou os manter informados a cada nova notícia. Minhas malas já foram levadas para outro lugar , segui junto com a guia para os acentos indicados. Um outro garoto passou ao meu lado , parecendo um pouco perdido.

– ei , cara, está tudo bem? -- aflito assentiu.
– um pouco , não sei. Não se sente nervoso?! -- bom , nervoso é uma palavra muito forte para o que eu estou sentindo. Dei de ombros.
– sigo ansioso , mas não aflito. É seu primeiro voo?

Estávamos a beira de entrar no avião , vi que seu nervosismo só aumentava. Esperei a mulher alguns anos mais velha que eu entrar para depois procurar meu acento. O garoto me acompanhou , imagino que sua poltrona seja próxima da minha.

– não exatamente , mas é o primeiro para tão longe.
– acredite ou não , mas esse é meu primeiro voo. Meu nome é Victor, e o seu?
– prazer , Bruno. -- tocamos nossas mãos , com um pouco de dificuldade , mas nos cumprimentamos.

Sua poltrona era a anterior a minha , podia sentir seus pés inquietos no meu acento.

Tirei meus fones da mochila e os conectei em meu celular, abaixei o gorro de minha cabeça e tampei meus olhos com esse tecido. Antes de entrar em um sono profundo , olhei para as pessoas em minha volta , a maioria calmos fazendo alguma coisa para passar o tempo , menos Hannah , a seis poltronas a minha frente , estava tão nervosa que os barulhos de salgadinhos sendo aberto não paravam.

Perdi a noção do tempo dormindo, teremos que fazer uma conexão e isso foi o motivo que acordei. E claro, os pés do Bruno também foi um motivo de eu ter interrompido meu sono.
Saímos , resolvi não comer nada , apenas café me sustentará até o destino.

Acredito eu que foram mais de dez horas de voo, meu corpo já não suportava mais a poltrona , vejo que vou ter torcicolo por um bom tempo neste verão.
– está menos nervoso? -- puxei assunto com o amigo da outra poltrona , vi seu sorriso na janela.
– sim. Tentei te chamar várias vezes , mas acho que estava em um sono pesado.

– me desculpe , é sono de duas noites. -- ele até que parece ser divertido. Sorri retribuindo o seu. Usa uma jaqueta preta com a calça no mesmo estilo , por baixo uma camiseta azul para combinar com seus tênis. Seu topete de cabelos pretos não é muito definido, acho que até o meu pode ser mais definido que o dele.

Uma voz feminina saiu das baixas de caixas de sons espalhadas pelas laterais da parte interna do avião:
"bem vindos a Toronto, Canadá!".


Hannah narrando



Já havia viajado outras vezes para visitar meu pai , mas desta vez parece não ter fim. Nervosa por ser meu primeiro voo sozinha , acabei com os petiscos que comprei para a viagem toda.
Ainda não tive a oportunidade de conversar com alguém que esteja seguindo o mesmo caminho que eu , Carolina, pelo o que a guia me informou, está ao final do corredor.

Chegamos , depois de tantas horas. Aqui o clima esfriou , nos levaram para a parte de fora do aeroporto afim de esperar colocar todas nossas bagagens no ônibus. Carolina terminava de acomodar suas malas na parte de trás do ônibus , aproveitei o momento para me apresentar.

–...oi! Carolina , certo? -- perguntei um pouco ofegante , quando digo que estou com problemas de sedentarismo , não estou brincando.
– sim , mas se preferir pode usar apenas Carol. E você é....?
– Hannah! Prazer.

Depois de me apresentar , esperei sua companhia para entrar no ônibus , enquanto isso fomos conversando sobre essa nova experiência. Fiquei aliviada em saber que não sou a única a me sentir perdida.
A nossa nova guia contou sobre os dormitórios , são duplos e bem espaçosos. Temos uma maior preferência por não sermos daqui , os últimos andares são apenas nosso.
Chegando no enorme campo , os pequenos prédios um ao lado do outro começaram a aparecer , de mais perto pude ver as quadras e um ginásio fechado , disseram que lá dentro também tem uma piscina. Já dava para ver alguns garotos correndo em volta da quadra , lindos.

A possível diretora já nos esperava na entrada do prédio principal , havia vários garotos fortes ao seu lado para nos ajudar com as malas. Entreguei a um deles enquanto a loira ao meu lado entregou para o outro.
– bem vindo , queridos novos alunos! sou a diretora de vocês , Alyce. Espero que tenham tido uma boa viagem. -- as malas de todos os alunos já haviam sido levadas para o nosso quarto , creio eu que iremos conhecer os edifícios.

Tomando rumo para dentro do prédio , a mulher de meia idade foi nos apresentando as salas e todos os laboratórios, bibliotecas e salas de informática. Neste primeiro prédio é basicamente para as aulas.
No segundo , encontramos já de início o refeitório , já também uma cozinha separada para caso o aluno quiser preparar sua própria refeição. No andar de cima , o corredor é basicamente de passatempos , música , dança , academia , pintura , meditação e muitas outras coisas. O que mais me encantei foi a cobertura deste edifício, um lugar próprio para festas , com uma pista de luzes coloridas e um bar a esquerda.

O terceiro e quarto prédio são os dormitórios , não me interessei em ver o terceiro , já que o meu é o quarto. Terminamos o passeio por todas as partes daqui , as piscinas são aquecidas e enormes!
Não havia percebido a pequena elevação entre dois prédios , segundo as instruções da diretora entramos ali. É um auditório , com média de quase mil cadeiras.

– olá alunos , sou a coordenadora de vocês , podem me chamar de Ana. -- a mulher apareceu no centro do palco , diferente da diretora , é um pouco mais nova , em torno de seus trinta anos.
– creio que já conhecem todo nosso espaço , mas para os aproveita-los precisam saber de nossas regras. Primeiro , os horários de aulas são pautados e cada um tem o horário no mural de seu quarto , por isso se organizem para não perderem as aulas. Pedimos respeito enquanto estão em horário de aula , depois podem curtir com outros alunos em nossas áreas de lazer , desde que tenham as tarefas em dia. A noite podem fazer suas pequenas festas, mas dentro dos prédios não podem haver bebidas alcoólicas. Muito menos drogas ilícitas. Os quartos são arquitetados de uma maneira...sutil. Sabemos que aqui pode surgir namoros, mas de preferência , nada de sexo. Se cuidem , não podemos os impedir de suas decisões , apenas queremos que nossas únicas responsabilidades sejam vocês , e não bebês. -- foi firme durante seu pequeno discurso , não escapou nem um pequeno sorriso se quer dos seus lábios.

Alguns minutos depois continuou nos aconselhando em relação às aulas , e nos mostrando que aqui o método é totalmente ao contrário de onde viemos. Aqui não há férias de verão , mas para recompensar tem uma semana de lazer , o que vai ser melhor para nos organizarmos.
Demorando um pouco para processar tudo , mas totalmente curiosa para ver o que me espera nos dormitórios.

– senhorita Carolina , Bruno , o quarto de vocês é no primeiro andar. Não conseguimos deixar todos próximos , mas há outros de Madrid também no terceiro e quarto andar. Inclusive seu quarto, Hannah. -- minha feição mudou , estou em um lugar totalmente estranho e longe da única pessoa que "conheço". Assenti à diretora.

Aqui o celular é livre , temos rede de internet para todos, pedi o contato de Carolina para que pudéssemos conversar mesmo a "distância".
Ao decorrer que fomos subindo a escada , chegamos na porta que supostamente é meu quarto.
– querida , seu professor é um grande amigo meu. Estava conversando momentos atrás com ele , me contou um pouco de vocês. -- por usar "vocês", olhei para o seu outro lado , Victor estava ali o tempo todo e eu não havia nem percebido sua presença.
– disse que são muito tímidos! Por isso , como já se conhecem , os quartos são um do lado do outro. Hannah é cento e dois e Victor cento e três. -- nas nossas mãos jogou as chaves.

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