Capítulo 5

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Hannah narrando



Senti uma pequena vontade de rir quando se referiu que somos amigos , foram poucos palavras trocadas entre nós em cinco anos de escola.

Respirei fundo , encantada como os móveis combinam com o ambiente. No quanto direito minha cama , em cima estava um conjunto de toalhas e itens higiênicos. O espelho ficava ao lado da pequena cômoda amadeirada, sem contar a mesa de canto para resolver minhas atividades.
Bom , é mais pequeno que eu imaginava , mas muito confortável. Até mais que meu quarto de Madrid!
Me aproximei da porta camuflada ao canto esquerdo , já não bastava a cômoda encontrei um closet , com pequenas repartições e gavetas.

– mas que brega. -- sai dos meus pensamentos , a voz de Victor estava tão perto que estranhei.

Havia uma pequena abertura para um corredor ao lado da escrivaninha, o que eu imaginava ser um banheiro. Mas não. Victor estava ali , eu estava vendo ele parado ao meio do seu quarto julgando a decoração. Quando percebeu que eu poderia vê-lo, deu um pulo para trás , com as sobrancelhas juntas.

– que merda é essa? -- balancei os ombros.
– acho que esqueceram as portas. -- digo , analisando o pequeno corredor que nos ligava.

No meio , havia uma porta branca , acho que o intuito desse quarto é dividir o banheiro.
Ele fez o mesmo que eu , se aproximou e olhou o que tem atrás dessa porta.

– que porcaria , erraram bem no nosso quarto. -- analisando a decoração , concordei com um balançar de cabeça.

Voltei para minha cama e peguei o celular , perguntei a Carolina como era o seu quarto. Ela disse que também estranhou, mas sua colega de quarto disse que todos são assim. Teremos que dividir o mesmo banheiro.
Ele não vê exatamente o meu quarto , nem eu o dele. Por nossa sorte é que o fino corredor tem uma saída na parte isolada de ambos os quartos.

– não é um erro. Todos os quartos são...assim. -- disse , chamando sua atenção para que eu não precisasse entrar em seu quarto.
– é um erro. Eles não sabem o que é privacidade? -- dou de ombros , acho que nem preciso responder essa pergunta.

– querendo ou não , teremos que aceitar. Vou ver se não tem nenhum quarto vazio. Acho que Ana vai me entender. -- devagar sentou na cama , colocou sua mão na nuca , talvez pensando.

Por minha sorte, encontrei uma inspetora conferindo os números do quarto no corredor, perguntei a ela se havia uma possibilidade de quarto vazio. Ela pensou um pouco , analisou a caderneta em suas mãos e disse que por enquanto todos estão ocupados , começo de semestre e nenhum desistiu.

Entrei novamente, respirei fundo. Que merda! Estou praticamente dividindo o mesmo quarto com um garoto que parece não possuir humor.

– olha , podemos criar algumas regras? já que não temos outra escapatória. -- chamei sua atenção, seus olhos saíram do celular e subiram aos meus olhos.
– o que quiser. -- disse , não dando tanta importância para minhas palavras.
– eu não entro em seu quarto e você não entra no meu. Sem espiar , de ambas as partes, o que o outro está fazendo sem a permissão. Se quiser me chamar , grite.

– tudo bem. E enquanto ao banheiro?
– tudo certo , eu acho. Você vai saber quando eu estiver lá dentro , a porta vai estar trancada. E , espero que não tenha pau torto , sem xixi nas bordas da privada. -- ele ergueu os braços como forma de rendição, senti que a cor do seu rosto mudou também e foi imprescindível não notar seu espanto. Riu baixo.
– ok. Sem urina nas bordas! -- dou um sorriso pequeno , mas quase sem nenhuma vontade de sorrir.

– mais alguma coisa? ou posso dormir?
– mais uma coisa. Você escutou bem as regras , não é? sem bebidas , drogas , e garota no quarto. Pode fazer o que quiser , mas aqui no quarto não. -- ele arqueou uma sobrancelha , certamente pensando em algo.
– e diz isso para mim como se eu fosse um...sem noção tarado?! -- diz tentando não rir , um riso bem , bem sarcástico. - Sentei atrás de você durante um ano e meio , escutava o que contava para suas amigas. E por isso me sinto no direito de dizer que essas regras também servem para você.
– isso é passado , seja lá o que você escutou. Não faço mais coisas desse tipo.

Victor não é tão sem noção o quanto eu imaginava , conversando esse pouco tempo já pude perceber que é mais esperto do que parece. Voltei para meu quarto afim de arrumar minhas roupas no closet , e mais tarde buscar meus livros didáticos na secretaria.
Eu escutava música mas baixo , não tenho fones de ouvido , e não quero aumentar para não atrapalhar Victor , independente do que ele esteja fazendo. Quase não escuto nada , é silencioso em tudo que faz.

Na segunda feira de manhã , não iremos ter aula , ainda estão tendo a semana de descanso. Aproveitei para conhecer algumas pessoas perto da quadra de futebol americano , há várias meninas sentadas ali.


O garoto que vi anteriormente nas redes sociais está bem ali , na quadra ao lado se aquecendo. Sem camisa.
Já havia notado o quanto ele é atraente , os fios do seu pequeno topete estão desgrenhados , sem contar que já estão úmidos de suor. Seu tom de pele é claro , os olhos castanhos escuros, a boca perfeitamente desenhada. Não vou negar que já me cresceu um pequeno interesse , mas ainda não tive uma oportunidade de conversar com ele.

Desviei meu olhar e voltei a admirar a grama verde , aos poucos vou me aproximando das outras garotas. Uma delas me viu , seus cabelos são ruivos e na altura do ombro.

– vem com a gente! -- as outras também olharam para mim , por um momento senti muita vergonha. Subi um degrau e sentei próximo.
– Hannah , não é? vi seu nome na lista da minha turma. -- assenti , sorrindo. Ela estendeu o braço e colocou sua mão na minha frente , esperando eu lhe cumprimentar.
– prazer , Luna. Espero que esteja gostando daqui. -- estendi minha mão lhe cumprimentando. As outras apenas sorriam.
– ainda não me acostumei muito bem com o fuso horário , e aqui é...totalmente diferente de onde vim.

Depois disso embalamos em um assunto. As outras duas garotas que estavam com ela se chamavam Mila e Bianca , elas também são agradáveis como a Luna. São da minha turma , grupo A.
Perguntaram um pouco sobre mim , as vezes erro as palavras e elas não entendem o que quero dizer , o que me deixa mais nervosa ainda.

Elas me disseram que apesar de aqui ser chato por conta das inúmeras regras , dizem que se divertem muito. Final de semana irá ter uma festa , onde a coordenação acha que será apenas de refrigerante , mas conseguiram algumas caixas de bebidas alcoólicas. Fazem aula de dança a tarde , preparam banquetes na cozinha para elas e alguns garotos que são bem próximos. Até me convidaram para fazer minhas refeições com elas.

Elas estão aqui por um motivo, admirar os garotos a jogarem sem camisa. Um garoto com cabelo curto e encaracolado se chama Gustavo , é um dos mais importantes no jogo. Os outros não são tão amigáveis como ele , depois do jogo subiu até nós para me cumprimentar.

– um fofo , não é? -- Luna disse com um sorriso encantador.
– achei gentil da parte dele.
– Luna cuidado com seu queixo! está caindo enquanto você admira o bumbum do Gustavo. -- a ruiva riu olhando para Mila. Rapidamente olhei o bumbum. Bem , ela não está errada em ficar encarando esse traseiro.

– acho que ele nunca vai perceber que eu sigo criando ilusões de amor com ele. -- suas mãos subiram para seus cabelos , passando os dedos carinhosamente entre pequenas mechas.
– vocês já namoraram? -- balança a cabeça , negando. Nos seus lábios se formaram um pequeno bico. Acho que fui um pouco curiosa.
– não , mas já ficamos uma vez ou outra. Ele namorava até alguns dias.
– terminaram porque a garota se mudou. Como você , ela veio de outro país. Normalmente acontece isso. -- Bianca comentou.
– mudando de assunto , viram o garoto novo? o amigo da Hannah. -- arqueei as sobrancelhas , tentando entender a quem Mila se refere. Não precisei esperar que continuasse sua frase, Victor cruzou o campo , a caminho de cumprimentar o Bruno. Ele não estava sem camisa como os demais , porém é a primeira vez que o vejo sem o gorro.

Seu cabelo castanho forma um pequeno topete , entre os fios há alguns fios mais claros.

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