Capítulo 12

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Victor narrando



Na semana seguinte , as coisas não mudaram muito. Seguimos o mesmo ritmo de aulas e alguns esportes depois.
Às vezes antes de dormir eu acompanhava os garotos até a roda que fazemos em volta de uma pequena fogueira atrás da escola , muitos assuntos aleatórios rodam ali e eu tentei me enturmar , isso é o melhor para mim e prometi a mim mesmo que seria uma nova fase.

A última vez que vi Hannah e o grupo de garotas foi no nosso primeiro intervalo, à tarde quando estavam no quarto dela não pude ficar já que combinei de nadar com o Bruno.

Olhando para o campo enorme da escola pela janela do meu quarto , tive uma ideia , uma brilhante ideia que vai me ajudar muito hoje.
Amanhã temos uma aula prática logo na primeira aula e não quero parecer cansado , e como já sabem , dormir é algo difícil para mim. Me lembrei da última vez que dormi profundamente , e foi depois da festa. Sei que estava cansado , mas o que parece ter me relaxado foi a bebida.

Mandei mensagem para o Gabriel para me certificar que ele tinha pelo menos duzentos e cinquenta mililitros de vodca ou algo não muito forte. Ele disse que tem ao menos meia garrafa de vodca com um xarope doce de frutas. Agradeci e disse que em menos de minutos eu iria ao seu quarto.

Não pretendo encher a cara ao ponto de ter uma terrível ressaca amanhã , apenas um pouco será necessário.
Entrei em seu quarto e ele colocou a garrafa dentro de uma mochila , me entregou e pediu para que fosse embora o mais rápido.
Chegando no meu corredor , a inspetora percebeu meus passos rápidos e me chamou por mim , mas , por minha sorte , quando estava tomando rumo até mim uma aluna saiu de seu quarto, a chamando.

Suspirei depois de fechar a porta , preciso correr antes que ela bata em minha porta.

– Hannah? está acordada? -- já estava bem tarde , posso correr o risco de meu plano dar errado. Parei no meio do corredor , antes que pudesse ter a visão do seu quarto e da sua cama.
– oi , estou acordada. O que você quer?
– está vestida? posso ir até você? -- prefiro perguntar antes do que passar um outro momento constrangedor.

Ela murmurou um sim quando pensei que não iria me responder mais. Ela estava com a coberta até seu pescoço , só vi seu rosto e os cabelos perdidos nas almofadas.
– você está pelada?
– não , mas é que...eu tô com roupa de dormir. Você viu a hora que você está me infernizando?
– eu preciso da sua ajuda. Fui pegar um negócio no quarto do Gabriel e Joana viu , poderia me ajudar a esconder antes que ela bata na minha porta?! -- de início ela me olhou com os olhos cerrados , fechou seu cenho e só voltou a olhar normal para mim quando abri a mochila e mostrei que ela bebida.

Ela jogou a coberta para o lado e levantou. Não sei o motivo pela qual teve vergonha de mim , sua roupa de dormir é comum , uma regata lilás sem sutiã por baixo e uma calça com tecido confortável com várias bolinhas brancas.
Pegou a garrafa da bolsa e colocou no meio da sua coberta , e dentro da minha bolsa colocou várias roupas sujas minhas.
Três batidas na porta foi o motivo para nos encararmos. Ela saiu do meu quarto e ficou ao meio do corredor para que Joana não a visse.

– está acordado ainda, Victor! foi pegar alguma coisa importante com seu amigo?
– as camisetas no time de basquete que vamos montar amanhã. Se quiser conferir...
– não precisa! fiquei sabendo mesmo dessa iniciativa sua. Boa noite , durma bem , querido. -- me despedi educadamente também, fechei a porta novamente para poder respirar aliviado.

– agora eu quero saber por que você trouxe isso à essas horas da noite. E também quero um pouco.

Sentamos em um lugar onde não pertence a nenhum dos dois quartos , no chão do corredor.
Não temos copos e por isso se ela quiser, vai ter que beber na boca da garrafa como eu.

– você não tem nenhum copo sobrando? -- perguntou, sua cara não era uma das melhores.
– Se eu estivesse estaria usando. Fique tranquila , não coloquei a boca em nenhum lugar que seja nojento. -- no mesmo momento em que terminei meu primeiro gole , ela pegou das minhas mãos e fez o mesmo.

– qual o motivo para essa brilhante fuga em plena uma da madrugada? -- hesitei , tentei pensar em algo que encaixasse na história , mas terei que contar a verdade.

– eu não tenho sono , Hannah. Você me questiona as vezes por acordar tão cedo , mas a verdade é que eu nem durmo. -- ela abaixou seu olhar para seus pés , talvez se questionando por não ter pensado nisso antes. -- e isso me ajuda a dormir.

– faz quando tempo que tem insônia?
– alguns anos eu acho , porém sempre que estou nervoso não consigo cochilar nem um pouco. Mas não pense que é contínuo, no final do semestre eu havia conseguido regular meu sono com a ajuda de remédio, porém vindo para cá parei de tomar.
– eu...eu não sabia. -- com a não esquerda devolveu a garrafa , virei e bebi mais um gole. Seu olhar estava triste , eu realmente odeio contar para as pessoas , não quero que sintam pena de mim.

– ninguém sabe , Hannah. Só estou te contando porque me ajudou , porém peço para que não conte mais para ninguém. Não é um segredo, mas eu não quero que sintam pena de mim. Como você está fazendo agora ficando para baixo. -- estendi a garrafa sobre ela , pegou e virou em sua boca.
– não estou com pena , é que você nem parece cansado na maior parte do tempo. -- ela não mantinha os olhos em mim , é muito difícil ter contato visual com a Hannah por muito tempo , seus olhos se fixam em algum lugar do chão instantes depois. Olhei para ela , eu realmente estou cansado , mas ela não percebe. Fiquei por um tempo lhe olhando até que olhou em meus olhos , e viu o cansaço que há dentro de mim.

– desculpa. -- tomou a garrafa da minha mão antes que descesse um enorme gole da bebida em minha garganta. Deu mais um gole pequeno para depois continuar a dizer. -- seus pais sabem que você não está bem aqui?
– durante todo esse tempo que estamos aqui, minha mãe só perguntou de mim duas vezes. E eu também não me importo , é por isso que decidi vir para cá , me afastar deles.
– por que? -- dói dizer sobre eles , são pessoas que me machucaram por amar. Aquele amor que não te faz bem , ou se é que pode ser chamado de amor. Encerrei seu assunto com outra pergunta.

– acho que você nunca me disse , tem irmãos? -- não precisei repetir e nem me explicar , ela entendeu que não quero falar disso.
– tenho apenas um , Arthur. Ele sempre foi meu companheiro , bom , nas horas que não estava se divertindo com as garotas , minha mãe passava a noite fora trabalhando e meu padrasto a acompanhava.

– sua mãe tem algum restaurante para trabalhar a noite? -- negou , com um leve sorriso no rosto.
– ela cantava em pequenos restaurantes e festas. Eu adorava ouvir sua voz de manhã...-- com os olhos fechados, sentindo a nostalgia tomar conta dela , parece ser uma energia boa. Por um momento sua cabeça encostou meu ombro , mas em instantes já levantou novamente.
– eu gostava , mas perdi a maior parte da minha infância sem ela. As noites eu passava sozinha , uma menina cheia de medos sozinha em uma casa de dois andares , e com porão! Foi um verdadeiro terror para mim. E pode me achar infantil ou imatura , mas até hoje não me sinto bem ficando sozinha em grandes lugares.
– cada um tem seus medos , não vou julgar você por ter medo de escuro. -- ri baixo.
– não é escuro. Disse que não gosto de ficar sozinha em casas...e esses lugares. Você tem algum medo? -- pensei um pouco.

– de perder o controle da minha vida. Acho que sabe como é essa sensação.
– eu sei. Meu pai sempre fala muito sobre isso , pede para eu acreditar em mim mesma e pensar bem nas decisões que tomo. Mesmo ter o visto pessoalmente poucas vezes , eu nunca deixo de conversar com ele... -- e o penúltimo gole desceu pela sua boca , sorriu orgulhosa vendo que ainda havia sobrado o último gole para mim. -- ele mora aqui em Washington , terminou com a minha mãe à alguns anos , porém nunca perdeu o contato comigo.

– ele deve ter te apoiado muito na decisão do intercâmbio , agora está um pouco mais perto da sua filha.
– é...mas não sei se estou preparada para ver ele.
– ele é seu pai , deve ter saudades de abraçar você. -- novamente ela fez aquela olhar triste , estou vendo que aqui eu não sou o único com mágoas encubadas.

– eu vou para o meu quarto , você deve estar querendo deitar. -- com um impulso ela levantou do chão, arrumou a regata no seu corpo e caminhou até seu quarto.
– gostei do pijama.
– que bom , agora sei que esse pijama é feio. -- de longe vi sua sobrancelha se arquear com a resposta, eu acho que ela está tentando debochar.

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