Capítulo 7

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Hannah narrando


Desde aquela noite no gramado da escola , eu e Victor não trocamos palavras inteiras , sempre um "ok" , "sim" e "não".

Durante aquela semana eu fiquei a maior parte do tempo no dormitório da Carolina e da Luna , nós estamos nos dando bem. Antes de dormir , nós e os garotos do time nos encontramos atrás do prédio dois , onde tem pequenos tocos de árvores para sentar e ao meio um punhado de gravetos caso esteja muito frio. Infelizmente , Bruno não compareceu, ainda não trocamos muitas palavras. Mas , ao final dessa semana teremos a famosa festa no terraço , não vou negar que estou ansiosa para a minha primeira festa aqui.

Há muitos jovens aqui , de vários estilos e de vários lugares do mundo , aos poucos vou conhecendo alguns.

Carolina é um pouco mais conservada , no seu tempo livre depois das lições didáticas fica na área de pintura e música. Pega alguns livros e decide ler.

Já no meu tempo livre prefiro me distrair em meu quarto, pela internet comprei um pequeno armário para enfileirar os livros que usamos nas aulas , está previsto para chegar hoje.

Hoje foi o primeiro dia de aula , não estava tão nervosa , mas sim com medo de perder o horário. Levantei antes do despertador tocar a fim de usar o banheiro antes do Victor , mas , quando levantei escutei o chuveiro ligado. Esse foi o primeiro estresse do dia , ele demora muito no banho e olha que nem pratica exercícios físicos para dizer que tem suor em seu corpo.
Ainda estamos na mesma sala , mas fingimos como se nem nos conhecêssemos. Eu ainda o acho estranho. Muito , as vezes.

O ritmo das aulas aqui é mais acelerado do que estava acostumada , temos oito aulas por dia, incluindo as aulas normais , e as especiais que cada aluno escolhe qual quer fazer. Eu escolhi de jornalismo , influenciada pelo meu pai.
Depois de comer algo rápido no refeitório , Ana interrompeu meu percurso quando ia para meu quarto.

– querida , chegou uma grande encomenda para você. Pedi para que levassem para seu quarto.
– muito obrigada , Senhora Ana. Estava esperando mesmo. -- ela colocou sua mão em meu ombro.
– sem senhora! pode ser apenas Ana. -- assenti. Ela tem um olhar nebuloso , chega a causar arrepios dependendo do momento. Agradeci novamente e sai da vista dos seus olhos.

Abri a porta do meu quarto e lá estava uma caixa grande e comprida. No momento em que ajoelhei abrir a caixa, Victor saia do banheiro.

– perguntaram à mim se poderiam deixar aí. Imaginei que não iria querer buscar a encomenda na diretoria.
– é...obrigada. Ana já havia me avisado. -- pelo canto dos olhos vi que ainda estava parado no corredor , mas ignorei e comecei a retirar as fitas da caixa. -- merda! veio desmontado.
– é claro , ou imaginava que esse móvel de um metro e setenta e cinco viria montado dentro de uma caixa que é igual a duas de você?! -- ele ria , talvez debochando da minha situação ou rindo mesmo do meu pensamento alto. Eu não ri , juntei as sobrancelhas e olhei para ele. Ele parou de rir aos poucos, mas se segurava.

– me ajuda a montar? não veio nenhum manual.
– eu não sei montar...isso. Mas posso te ajudar a segurar as prateleiras. São muito pesadas! -- debochou , depois voltou o seu sorriso brilhante.

– eu acho você peculiar. -- tiramos todas as tábuas de madeira pintados de branco da caixa , e desenrolamos dos papéis bolha também. Estava procurando os pregos no fundo da caixa enquanto lhe disse.
– defina peculiar. -- voltei a olhar nos seus olhos , buscando palavras que correspondem ao o que eu me refiro sem lhe magoar. Ele não parece muito curioso.

– estranho. Você não conversa normal comigo como com qualquer outra pessoa. E olha que eu nem te conheço. Agora, depois de rir de mim está me ajudando a montar essa porcaria.
– eu acho que você não percebeu que eu não sou afim de conversar , principalmente com você por não ter assunto. Acha que tipo de assunto eu poderia puxar com você? na nossa primeira conversa você falou do meu pau. -- ele se mantinha sério , mas eu não consegui manter o rosto fechado. Ele acabou começando a rir por causa da minha risada.
– acho que precisa rever seu pensamento sobre quem é o estranho desse quarto.
– ainda continuo achando que é você. -- insulto olhando para baixo.

– olha , pensa. Você que começou a me infernizar em relação as garotas , eu prefiro não contar para ninguém o que sinto, por quê só interessa à mim, e você me enchendo daquilo foi desconfortável. Só queria que se você fosse conversar comigo, teria que ser sem interesse ou essas coisas...esses negócios de...meninas , o que seja. Não fui estranho em dizer a você o que me deixava desconfortável. -- fez uma pausa -- Podemos fazer relação se eu fosse ficar perguntando a você sobre o Bruno. -- ele estava segurando a lateral do armário enquanto eu colocava o parafuso na parte de baixo da madeira. Me afastei e olhei para cima , onde seus olhos estavam. Castanhos e intensos.

– Bruno? -- assentiu.
– é visível , sabia? -- me fiz de desentendida , abaixei minha cabeça voltando a parafusar com a pequena chave de fenda que veio junto. Podemos não ter intimidade , mas seu jeito reparador faz ele saber de coisas sobre mim apenas por gestos inocentes e automáticos que faço.
– e é legal ver você estressada. Principalmente quando demoro no banho. -- caçoa , tirando um pouco do clima que criei com um silêncio repentino.
– não sei como pode ter acordado tão cedo para tomar banho. -- esperei um tempo e ele não respondeu. Só pude escutar seu suspiro.

O clima ficou pesado até terminar de colocar as quatro prateleiras. Ele me ajudou com as de cima e com os pés do móvel. Depois de montado , coloquei na parede entre as duas janelas , estava sentindo que faltava algo ali.

– eu...eu vou para o meu quarto. E aliás , não perca seu tempo indo me chamar para jantar com vocês , prefiro dormir mais cedo. -- assenti.
– obrigada , acho que te incomodei pedindo para ajudar. -- seus ombros subiram e desceram. Sem me dar uma resposta , voltou para seu quarto.

Victor é estranho , mas não um estranho ruim. Durante o tempo que me ajudou foi legal , conversamos como se tivéssemos intimidade, mas depois que terminamos é como se voltássemos a fase de desconhecidos.


Victor narrando



Como na manhã anterior , Hannah ficou irritada por eu estar usando o banheiro primeiro , pensa que acordo cedo de propósito , mas mal sabe ela que sinto saudades de dormir. A insônia está comigo desde domingo , quando me trouxeram os livros didáticos. Tento descansar depois das aulas, porém é quase impossível quando Hannah está no seu quarto , é uma desastrada que derruba tudo que toca , fora que seu tom de voz é mais alto que o normal.

Terminei meu banho e escovava os dentes, enquanto do outro lado da porta Hannah cansava de me chamar.
– você sempre é estressada de manhã? por sua sorte eu sou calmo pelas manhãs. Bom , na maior parte do dia eu diria que é bem difícil de me tirar do sério. -- abri a porta, peguei minha escova e o shampoo que uso. Seu pé bate no chão , mostrando que estava impaciente.

– eu já te disse para trocar no banheiro. É desagradável. -- dei espaço para ela entrar no banheiro , disse ainda mais irritada vendo que eu não segui sua "regra".
– você é contraditória. Como vou me trocar no banheiro com você batendo na porta?

Ela não me respondeu , mas também não havia resposta. Pela primeira vez ela percebeu que eu tinha razão , o que a deixou furiosa.
Eu não sei o que acontece com ela de manhã, tenho pena dos seus pais por tê-la aguentado durante todos esses anos.

Fomos para a aula , ainda estamos em fase de adaptação e por isso não estamos pegando muito pesado com os estudos. Como aula "bônus" escolhi música, não canto e muito menos toco, mas sou fascinado pela maneira de como a música me toca. O garoto que consegue bebidas para os alunos está na minha sala , Carolina também.

– ei , cara! se eu soubesse que gostava de música já havia virado seu amigo antes. -- sorri para Gabriel.
– é o que todo mundo dizem. -- estendi lhe a mão , em seguida dizendo meu nome.
– Gabriel, prazer. Acho que não tivemos a oportunidade de nos conhecer aquela noite.

A última aula do dia começou , o professor irá começar estudando as notas musicais , depois as melodias e por último aprender a tocar algum instrumento. Algumas meninas optaram por cantar ao invés de tocar, se eu tivesse a voz menos rouca poderia até tentar também.
Estava distraído com a guitarra que a mão fria em meu braço me fez pular de susto. Carolina me olhava com um sorriso meio incerto.
– desculpa , Victor. Eu só queria perguntar se posso sentar ao seu lado... não conheço ninguém dessa sala.
– pode...eu também não conheço. Mas também não quero me socializar. -- sorri , retribuindo seu sorriso tímido.

O professor explicou um pouco sobre a história da música , como uma introdução até chegarmos nas notas musicais. Depois, deixou o resto do horário para explorarmos nossos "instintos musicais" , cada aluno que tocava era uma dor no ouvido , pareciam crianças de três anos batendo seus dedos nas cordas da guitarra sem uma sequência certa.
Minha cabeça que já doía antes , agora está pior. Consegui sair antes do fim da aula , passei na enfermaria para pegar uma caixa de remédio e subi para meu quarto.
O silêncio é meu melhor amigo , repousei minha cabeça no travesseiro e tentei me desligar de todo esse mundo , dormir até a fome bater e eu ser obrigado a acordar.

Mas , esse meu momento relaxante não durou cerca de vinte minutos. Algum infeliz batia desesperadamente na minha porta.

– Victor , temos treino agora! não esqueceu , não é? -- era Bruno , a vontade de socar sua cara estava superando todas as minhas outras necessidades.
– me desculpe , mas eu já disse que não vou entrar no time de futebol. -- ele balançou a cabeça, negando.
– não é isso! temos que nos aquecer e dar algumas voltas na pista de maratona. É bem rápido , em duas horas você já vai estar livre para dormir. -- e porra , acho que ele nunca foi tão xingado mentalmente como está sendo agora.

Vi que não tinha escapatória , troquei minha bermuda , coloquei um tênis adequado e tirei o gorro para lhe acompanhar. O sol estava fraco, mas mesmo assim ofuscava meus olhos.
Luna , Gustavo e Bianca estavam já correndo quando chegamos , alonguei minhas pernas e os acompanhei.

Eu estava literalmente morto , sentia minha pressão tão baixa que pensei que não aguentaria subir as escadas até meu quarto. Corri direto para o banheiro , abri a torneira da pia e joguei a água fria em meu rosto.
– você está péssimo. Quer dizer , mais que o normal. -- Hannah espiou pelo canto da porta.
– tem um espelho bem na minha frente , acha que não percebi? -- ela revirou os olhos , mas mesmo assim não me deixou sozinho.
– acho melhor você tomar um banho , comer alguma coisa e dormir depois.
– eu vou desmaiar de sono. Acha que consegue pegar algum refrigerante na cozinha para mim?
– refrigerante não. É melhor água , e também um lanche bem reforçado. Olha , não abuse, mas eu vou fazer para você , já estou com fome mesmo e faço para nós dois.
– tudo bem. Agradeço. -- sorri , depois fechei a porta do banheiro para me despir.


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