-Vais para um orfanato.
Baixei a cabeça triste. Eu queria estar com o que resta dos meus criadores, em vez disso iria ser adotada.
-Não te preocupes que vai tudo correr bem, a tua família irá visitar-te todos os dias possíveis e ninguém te vai levar. Só estás lá por protecção.
Estava num quarto infantil e a minha companheira de quarto ainda dormia profundamente. Deitei um sorriso de lado, levantei-me e fui para a casa de banho. Trancei-me lá dentro e chorei tudo o que tinha a chorar.
A enfermeira e a outra mulher conversavam agora com a outra rapariga que acabara de acordar. Passei a cara por água, rodeia a chave e sai com os pingos a molhar o chão.
A outra rapariga era muito bonita. Era loira com o cabelo encaracolado e tinha uns olhos verdes muito bonitos. A sua pele era tão branquinha ao contrário da minha.
Eu sou uma rapariga com o cabelo castanho-claro até ao cu, morena, com os olhos castanhamente esverdeados.
As duas senhoras notaram a minha precença e olharam-me.
-Vão as duas comigo. Ângela, esta vai ser a tua nova colega de quarto. E da Rita. Vais-lhe mostrar o edifício e faz com que ela se sinta bem, sim.
A dona do orfanato falou-nos desta maneira. Então a Ângela olhou para mim com um sorriso vitorioso e respondeu.
-Claro, Sr. Matilde. Nós as três vamo-nos dar muito bem.
Desconfiei. Ela parecia ter algo contra mim. Ainda nem sequer entramos no carro e já sei que vão haver problemas para o meu lado. Falsa daquela vadia.
Já no orfanato...
- Anda menina eu vou-te mostrar a tua nova casa.- A Ângela falou para mim e deu -me o braço.
-Leonor.
-Muito bem, Leonor, eu chamo-te como eu quero, quando eu quero, onde eu quero e ninguém vai mandar em mim, agora estás nas minhas mãos.
-Azar o meu, nas mãos de uma menina mimada.
-O que é que me chamas-te?
-Disse alguma mentira?
-É melhor meteres-te a pente fino comigo.
-Ah, sim- disse eu irónica.
- Está tudo bem, meninas? - Apareceu a oura senhora, Matilde.
-Claro eu e a Leonor já estamos a simpatizar, vou levá-la ao quarto.- Matilde afastou-se.
- És uma mimada falsa.
-E tu és pobre e mal agradecida.
-Obrigada pela viagem mas acho que vou sozinha. Adeuzinho.
E afastei-me. "Espero bem que a Rita não seja igual á Ângela que ainda agora cheguei e já não tenho pachorra para ela" Pensei eu.
Andei ao acaso uns minutos e ainda não tinha encontrado os dormitórios. O meu dormitório. Porque eu estava num corredor cheio de dormitórios. Ali não havia chaves, então entrava em quase todos os quartos.
-Finalmente, o meu quartinho.
Li em cima da porta:"Quarto 564" e confirmei.
-Quem és tu?
-Sou a Leonor. Tu és a Rita não és?
-Vais ser minha colega de quarto? Finalmente não vou ter que aturar Ângela! Felicidades.- Ela abracou-me e eu colocei-lhe os braços sobre os ombros.
-Finalmente acertei!
-Vieste até aqui sozinha?
-Sim eu não gosto da Ângela e não queria que fosse ela a mostrar-me a minha nova casa. Queres ser tu?
-Quero. Vamos lá.
A Rita era brutal mostrou-me o orfanato inteiro.
-Só falta a sala de aula. Vais conhecer a tua turma do 10° ano. Tirando a Ângela e as amiginhas é tudo gente fixe.
-Ainda bem.
Chegamonos ao pé de um monte de pessoas da nossa idade, a minha turma pelos vistos.
-Olá pessoal, esta aqui é a rapariga nova, a Leonor.
-Oi.-Disse eu. Eles viraram-se para mim e sorriram amavelmente.
-Ouve: este é o Paulo, estas são as gémeas a Carolina e a Patrícia...
-É ao contrário.-Disse Carolina.
Rita virou-se para mim e disse:- Depois habituas-te.
-Olha quem fala-um rapaz lindo chegou-se á frente e toda a gente se riu. Senti-me corar então baixei a cabeça. Ele tinha o cabelo loiro-escuro e os olhos eram escuros. Voltei a levantar a cabeça e fiz o meu melhor sorriso.
-Este é o Pedro e eu sou a melhor: a amada Rita.-disse ela. Sorri.
-Eu hei-de habituar-me.
-O que é que te aconteceu na testa?-Patrícia aproximou-se e apontou para uma ligadora que eu lá tinha.-Conta-nos a tua história.- Dito isto empurrou-me para um muro e eu sentei-me, ela sentou-se ao meu lado esquerdo e no lado direito sentou-se o Pedro. Os outros ficaram a olhar-me ansiosos em pé. Fechei os olhos para espantar as lágrimas e começei:
- Ora bem, houve um incêndio em minha casa. Os meus pais e o meu irmão morreram e isto foi um vidro de uma janela. Todas as manhãs eu ia caminhar e um carro tentava atropelar-me sempre. Eu vi esse carro com gasolina na bagageira ele fez de propósito. Eu ia ficar com os meus avós mas eles não acham isso seguro. Então vim para aqui.-soltei uma lágrima e eles abraçaram-me. A Ângela e mais duas raparigas passaram por nós e o abraço desfes-se. A Ângela veio até nós ciumenta.
-Oh, Leonor estás a chorar?
-Sabes o meu nome, afinal.
-Claro que sei fui a primeira a conhecer-te!
-Que falsa que tu és.
-Magoa-me que penses isso de mim eu só estava a ser simpática.
-E falsa também.
-Pobre e mal agradecida que tu saís-te. Ainda agora chegas-te e já me tratas-te mal duas vezes.
-É o que tu precisas. Infelizmente a vergonha não se vende para te esfregar na cara!-gritei para ela e fui-me embora. A Rita veio atrás de mim e os outros fitaram-me nas costas.
-Que bipuralidade!-Ainda consegui ouvir os outros a comentar.
-Porque é que fizes-te isto?-perguntou-me a Rita.
-Eu já a conheci no hospital ela não é de confiança. Era minha colega de quarto.