-Não está tudo bem, diretora. A Ângela está com sono e decidiu voltar ao quarto.
Ela olhou desconfiada para mim, mas aceitou.
-Ainda bem, vocês têm que se dar todas bem senão vão haver problemas.
-Não se preocupe Matilde nós tratamos disso.
Ela sorriu.
-Sentem-se naquela mesa é a mesa da vossa turma.
Corremos para a mesa todos juntos, sentamonos e começamos a comer esfomeados. Até a comer o Pedro fica lindo. Tão lindo. Fiquei a olhar para ele que estava sentado á minha frente. Estava tão hipnotizada que nem sequer reparei que ele tinha reparado que eu estava a olhar para ele, então perguntou-me:
-Leonor, estás bem?
Abanei a cabeça e olhei para a caneca que tinha leite e mel.
-Claro,estava só, hum, a pensar.
-Que discreta-A Rita tinha reparado que eu estava atrapalhada e decidiu contribuir, ironicamente.
-Cala-te, és muito amiga tu.
-Só tu, mesmo, Leonor. Sabes disfarçar muito bem.-e eu corei.
-Estás corada.- Ouvi a voz do Pedro outra vez.
-Parem.-corei mais e escondi as bochechas com as mãos. Todos se começaram a rir-se de mim, não gostei dessa sensação. A Ângela e as suas amiginhas apareceram enquanto nos riamos. A Ângela estava com cara de quem tinha estado a chorar. Para a irritar mais passei a minha mão na do Pedro como que por acidente e pisquei-lhe o olho de modo a que ela não visse. E resultou. O Pedro percebeu a minha intenção e deixou estar. A Rita, ao contrário do Pedro, não entendeu então levou as mãos á cabeça e exclamou de surpresa. A Ângela sentou-se ao lado do Pedro e puxou a mão para ela. Ele igonorou e continuou a falar connosco como se nada fosse.
-Pedro. Olha para mim se faz favor.
-O que é que foi Ângela?
-Precisamos de falar.-ele fez cara feia.
E foram os dois.Eu não aguentei a curiosidade e minutos depois bazei para "ir á casa de banho". A Rita torceu a sobrancelha para mim. Algum tempo depois, lá os encontrei na sala de música a conversar. A Ângela chorava.
-Fala, qual é o teu problema com a Leonor?-Então o problema era eu. Por um lado senti-me orgulhosa mas por outro tive pena dela, fui tão má.
-Desde que ela chegou que tu não me tens ligado nenhuma. Quero me dês a atenção que me davas antes.
-Pois, mas isso não vai acontecer. Eu não quero voltar a namorar com uma psicopata. Sais ao teu pai, ainda aqui há dias matou três pessoas, uma família quase inteira. Aposto que era a família dela.
Eu não pude acreditar no que eu ouvi! O pai da Ângela! Estava para voltar ao refeitório quando a porta se abriu. Escondi-me atrás de um armário. A Ângela não reparou em mim de tanto chorar. Passou por mim a correr. O Pedro, por outro lado vinha pensativo com as mãos nos bolsos. Não me viu(sortuda). Fui atrás dele para não me perder em caminho ao refeitório. O orfanato estava repleto de gatos pretos e um teve a lata de em pleno corredor vir ter comigo e miar para mim, o desgraçado. O Pedro olhou para trás e ficou surpreso. Não havia sítio para me esconder.
-O que é que fazes aqui?
-O mesmo que tu.
Cruzou os braços.
-E o que é eu faço aqui?
-Vais para o refeitório comer.
-E porque é que tu não estás lá?
-Porque vim á casa de banho.
-Ouvis-te alguma coisa?
-Bem, não posso dizer que não.
-O que é que tu ouvis-te?
-O pai da Ângela matou a minha família?
-Responde.
-Tu primeiro.
-Eu não tenho a certeza.
-Mas vais ajudar-me a têla. Vais arrancá-la da Ângela.
-Porquê eu?
-Porque ela ama-te e odeia-me.
-Pois, o problema é que isso não vai acontecer.
Pegei-lhe a gola da camisola e empurrei-o contra a parede com toda a minha força.
-Não estava á espera dessa.
-Deu para reparar. Vais obter aquela resposta custe o que custar e vai ficar bom para toda a gente.
-Teimosa.
Meteu as mãos nas minhas ancas, elevou-me no ar com se fosse uma criança e meteu-me ao seu lado, com aqueles braços musculados.
-Se a menina me autorizar eu vou comer.
-Podes dizer-me o caminho se faz favor.
-Segue-me.
Segui-o até ao refeitório e sentamonos frente a frente, em silêncio.
-O que é que se passou? A Ângela saiu daqui a chorar, vocês vêm com essas trombas.
-Não é contigo, Carlos.
-Pronto, pronto!