"O bom garoto"

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Gulf guardou seus papéis em sua pasta de couro enquanto os alunos se retiravam de sua sala. As primeiras aulas durante a manhã eram as melhores para ele, porque sentia os alunos eram mais motivados, no entanto, hoje, Kanauwt sentia-se muito sozinho, nos últimos dias não sabia exatamente por qual era o motivo, mas acreditava firmemente que não era pela ausência de Mew. Seu vizinho tinha saído de viagem a quase duas semanas, com isso veio a quietude da casa ao lado que era realmente incômoda. Para a sua sorte, Luís não foi visita-lo nenhuma vez, o loiro participava regularmente de suas aulas, sentado ao lado de Soraya, com seus cabelos amarelos preso em um coque frouxo, e seus olhos azuis afiados fixos em seus movimentos. Pela primeira vez, podia sentir seu olhar sobre sua pele, chamando a atenção de seus próprios olhos com frequência. Gulf ficou receoso. gaguejou algumas vezes e até mesmo trocou palavras em seu idioma natal, sentindo-se contra a parede, o professor precisou tomar goles de água com frequência durante seu discurso. O que era isso afinal? Por que a atenção antes não notada, agora parecia tão presente?

Estava concentrado em sua rotina quando foi interrompido pelo casal de amigos. Luís e Soraya, como de costume ficaram diante da mesa dele, sendo os dois últimos alunos a se retirarem. O professor empurrou os óculos redondos sobre o nariz e se curvou suavemente em uma saudação educada.

- Boa tarde.

- Boa tarde senhor Kanawut.

- Trouxe um pouco de Thai tea, sei que é muito consumido pelos tailandeses. - Soraya sorriu, oferecendo a ele a bebida Tailandesa.

- Obrigado Krub.

- Achei que gostaria de Manga e Arroz Pega. - Gulf olhou para a sobremesa feita de manga e arroz doce por seu aluno.

- Obrigado Krub.

- Você está tão bonito hoje. - A mulher o elogiou, sorrindo. O professor vestia roupas de dois tons de marrom, com um casaco mais escuro.

- Estou como sempre, não precisa me elogiar. - Não sabia lidar com elogios, ainda mais recebendo-os diretamente de uma mulher.

O professor aceitou os doces dado por seu aluno com certa relutância, os olhos azuis o observaram atentamente enquanto entregava a pequena caixa rosa em suas mãos, seus dedos se tocaram fazendo-o conter a respiração, seu olhar parecia diferente.

- Espero que goste do que escolhi. A manga tem um gosto bem doce. - Ao dizer isso, os olhos de seu aluno se fixaram em seus lábios cheios, como se imaginasse a doçura de sua boca.

Boo. (amor). - Gulf soltou a caixa de imediato, voltando-se para trás pra encarar seu vizinho.

Mew estava vestido com seu terno preto, algo que o professor sempre o viu vestido, e lhe remetia a mafiosos italianos, os brincos em sua orelha se destacavam mais com um piercing de espada, os cabelos pretos penteados para trás deixando seu rosto a mostra. Um rosto firme e inflexível que se desmanchava em um sorriso perfeito. Por que a visão desse homem o desconcertava tanto? Gulf não esperava vê-lo, muito menos em seu trabalho, segurando uma sacola preta da gucci. Ele parecia um homem com muito poder e dinheiro.

- Phi... - ele engoliu em seco ao perceber no pescoço forte uma marca avermelhada. Onde ele esteve? Com quem ele esteve? Eram as únicas coisas que ferviam na mente do professor, nem o sorriso doce e muito menos aquele abraço gostoso e apertado conseguiram tirar isso da sua cabeça.

- Você ainda tem aulas hoje? - Mew questionou quando se afastou, mas seus braços continuaram ao redor do corpo do mais novo. Mas os olhos de Gulf não conseguiam se desviar da marca de posse, e seus lábios se entreabriram enquanto sua mente recriava o que tinha levado a pessoa a marcar o Mew. Todas as possibilidades o deixavam com raiva, seu vizinho não era a propriedade de ninguém, o homem que viajava tanto deveria ter muitos amantes, bonito como era, deveria ter seu próprio harém. Isso deixou o professor um tanto incomodado, e por impulso, ele fechou os últimos botões da camisa social de seda, escondendo parcialmente a marca. Quando voltou a encara-lo, se deparou com seus olhos pretos reluzentes tão próximos, o observavam com atenção. Escondido atrás das profundezas, muitos pensamentos pareciam querer subir a superfície.

O vizinho ao lado.Onde histórias criam vida. Descubra agora