𝑠𝑐𝑎𝑟𝑒𝑑

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Narrative; Katsuki》

Larguei o celular sobre a perna quando vi o esverdeado saindo do banheiro. Ele estava com a toalha enrolada na cintura, um sorriso estampado no rosto. Nem parecia que seu corpo estava coberto de ematomas por que tinha sido espacando a pouco tempo.

Lembrar disso me fez sentir raiva, que logo foi substituída por um alívio e agradecimento abundante pelo simples fato de ele estar vivo. Viver a vida desse jeito é complicado, e eu sei disso. Mas não queria que a vida do meu amor tivesse que ser colocada em risco.

— No que você tá pensando? — Perguntou, sentando ao meu lado na cama. Eu sorri pra ele.

— No quão grato eu sou por ter você. — Um rubor apareceu no seu rosto e eu o agarrei com as duas mãos e dei vários selinhos espalhados, na bochecha, no nariz, na testa. Ele riu, até que finalmente beijei sua boca. E era como se fizesse séculos que eu não o beijava de verdade.

Ele passou as mãos nas minhas costas e por um momento eu quase esqueci do porquê de não fazermos mais isso ultimamente. De que, durante e depois todo o acontecimento com Shouto, nós não tínhamos tido nada entre nós. Já fazia bastante tempo.

E que, no momento, ainda não voltamos porque eu não quis.

— Para. — Falei, me afastando dele com cuidado. O menor bufou, claramente irritado, levantando da cama.

— Eu não aguento mais isso, Kacchan. Você tá me torturando sem nenhum motivo plausível.

— Sem nenhum motivo plausível? Você tá machucado! Eu só acho que não devemos fazer nada até que você melhore bastante. É muito recente ainda. Eu tenho medo de... te machucar mais.

— Meu amor.. — Ele suspirou, passando as mãos pela barra da toalha na sua cintura. — O que eu quero de você é completamente diferente de algo que me machucaria.

— Não, Deku. Pelo menos mais uma semana. Só pra ter certeza. — Repentinamente, Midoriya tirou a toalha. Eu me engasguei, sentindo meu sangue ferver dentro do corpo. Puta merda.

— Eu sei bem que você me quer. — Falou, passando uma perna por cada lado da minha cintura e sentando no meu colo. Sem roupa. Eu pensei que não ia aguentar, que ia desistir ali mesmo e..

Ele soltou um gemido de dor.

— Que foi? O que tá doendo? Suas pernas doeram de sentar assim, né? — Ele fez uma careta e eu rapidamente o tirei do meu colo. — Se veste, amor.

— Quase consegui. — Murmurou, indo até o armário pegar roupas pra colocar. Eu suspirei derrotado, mas ao mesmo tempo, feliz por não termos feito nada por enquanto. Quero ter certeza que ele vai ficar bem. — Tem pensado no Shouto ultimamente?

A pergunta repentina me pegou de surpresa. Ele me olhou enquanto vestia as calças moletom, esperando uma resposta. Eu fiz uma careta. Não queria mentir.

— Você não quer saber a resposta.

— Então é um sim. — Ele riu nasalado, mas eu senti um pouco de mágoa naquilo. — O que tá acontecendo com a gente, Kacchan?

— Eu não sei. Mas não importa, desde que estejamos juntos, vai ficar tudo bem. — Me apressei em falar, antes que ele começasse com o papo depressivo. — Eu te amo. E só isso importa.

— Mas daqui a dez anos? Me amar vai ser tudo que importa, ou você vai ficar pensando no que teria acontecido se tivéssemos tentado com o Shouto? — Ele pensava nisso também. Eu não tô louco.

— Você quer tentar com o Shouto? Digo, relacionamento de verdade? Um trisal? Ou só tá falando de tentar usar ele de novo?

— Eu sinto.. alguma coisa por ele. E sei que você também sente. E eu já tava ficando irritado que você não falava. Na verdade eu achei que talvez você quisesse ficar com ele e só estivesse com pena de mim.

— Izuku, caralho. — Levantei da cama, andando até o menor, que estava escorado na parede, agora já vestido. — Eu te amo mais do que qualquer coisa nessa merda de vida. Não existo sem você. Que porra você têm na cabeça?

— Desculpa. — Ele suspirou. — Só fiquei.. inseguro.

— Se a ideia de tentar algo com o Shouto te deixa inseguro, não tentamos. — Falei, engolindo o nó que surgiu na minha garganta com a ideia de não ficar com o bicolor. — Eu ia esperar você melhorar pra falar disso.

— Eu quero vocês dois. Mas você quer mais ele do que eu quero ele, e isso me assusta um pouco. — Midoriya me olhou diretamente pela primeira vez desde o início daquela conversa, os olhos verdes brilhando pra mim. — Eu sinto o tanto que você quer ele. O tanto que o seu corpo.. implora por ele. Sei lá, é meio esquisito, na verdade.

— Você é meu namorado. Mas acima de tudo, é meu melhor amigo. Por isso que sente essas coisas. — Segurei seu rosto com as duas mãos. — Vamos pegar nosso meio a meio de volta ou não?

— Eu preciso pensar. — Ele desviou o olhar. — Eu até quero, mas tenho medo. E você quer muito. Talvez você.. você sinta coisas demais por ele.. e isso me deixa assustado pra porra.

— Quero nós três juntos. — Admiti em voz alta, e aquilo saiu estranho da minha boca. — Eu falei com ele no telefone antes, e eu sei o quanto ele também quer. Ele só não quer ser tratado como um objeto. Shouto quer o amor que merece.

— Fala com ele com frequência? — O ciúme na sua voz ficou mais claro quando ele tirou minhas mãos de seu rosto. Eu revirei os olhos.

— Só falei hoje. Para com isso. — Ele foi até a cama e se deitou, e eu fui pra perto. — Não vai dormir no meio da conversa, né?

— Vou.

— O mais irritante é que eu não sei dizer se você tá com ciúmes de mim ou dele.

— Dos dois! — Gritou, se sentando bruscamente. Ele fez uma careta de dor. — Eu sinto que você tem algo com ele que eu não tenho. Eu odeio isso.

— E você tá certo. Mas é algo que você não tem ainda com ele, mas vai ter.. se tentarmos. — Me sentei nos pés da cama, meio afastado do esverdeado. — Nós três vamos ter isso juntos.

— Você não entende. Eu amo você, você me ama, mas você ama ele. Ele não me ama e eu não amo ele. Você não consegue ver o problema nisso?

— Não precisa ser tão direto. — Me doeu ele dizer aquilo. Foi muito pessoal, considerando que eu nem havia exatamente dito que amava o bicolor. Eu não queria dizer até que Izuku se sentisse mais seguro, mas pelo visto não consigo esconder o que eu sinto dele. — A questão é que você tá apaixonado por ele também. E quando nós três ficarmos juntos, vocês talvez se amem. E talvez não, mas caso aconteça, nós continuamos juntos.

— Mas você não quer ficar sem ele.

— Bom, realmente, não. Mas depende de você. Só de você, meu amor. — Fui até seu lado, passando meu braço pelo seus ombros e deitando na cama. Ele se ajeitou no meu peito. — O que você quer?

— Pensar. Apaga a luz. — Estiquei o braço e apertei o interruptor, fazendo o que ele pediu. — Boa noite, Kacchan.

— Boa noite, Deku.

ギャング || 𝐓𝐨𝐝𝐨𝐛𝐚𝐤𝐮𝐝𝐞𝐤𝐮 Onde histórias criam vida. Descubra agora