And clandestine meetings

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- Você quer algo mais confortável? - Sua boca diz e você não está registrando muita coisa conforme pensa em onde ele vai dormir. Te incomodava profundamente que fosse no chão. Aquele chão não era nada confortável. Todos os travesseiros e cobertas extras estavam no closet da sua mãe. Não teria como pegar.

- Acho que um dos seus pijamas não vai caber em mim. - Ele esboça um pequeno sorriso e você ri, colocando a mão na boca pra abafar em seguida.

- Acho que eu tenho alguma coisa guardada aqui. - Você vai até o armário e escondido na última gaveta está o que procurava. Você pega e joga pra Bucky, que captura o pijama com facilidade. Ele desdobra o short e observa de vários ângulos os pequenos gatinhos brancos estampados.

- Que porra é essa? - Ele pergunta, olhando como se estivesse segurando uma lesma de peruca.

- Um pijama. Tem a blusa também! - Você sorri mais, apontando pra outra peça embolada ao short. Ele desenrola com medo, mas é apenas uma regata branca. Infelizmente.

- De... De quem era isso? - Ele pergunta, ainda encarando de vários ângulos.

- Do meu ex namorado. Eu acho que cabe em você.

- Eu não vou vestir isso! - Ele faz uma cara como se a hipótese fosse ridícula, te olhando como uma expressão de "nem fudendo".

- Você parece muito desconfortável com essa calça jeans e essa blusa aí, mas faz o que achar melhor. - Você dá de ombros, mas venderia qualquer coisa pra vê-lo naquele pijama. Você sorri pensando na visão, tendo que morder o labio pra não rir de novo.

- Pare de me imaginar vestido nisso. Isso nunca vai acontecer. - Ele joga o pijama e atinge sua cabeça em cheio, te fazendo olha-lo feio.

- Vamos ver. - Você caminha até a cama e senta, vendo-o jogar a jaqueta no chão e movimentar os ombros para trás.

- Bom, boa noite. - Ele diz seco e apaga a luz sem cerimônias. Você deita e se esconde embaixo das cobertas, ficando mais perto que o necessário da beirada. Você observa a silhueta dele no escuro, conforme ele senta no chão e deita em seguida, tentando afofar a jaqueta.

"Eu não deveria falar nada. Eu não vou falar nada. Ele é um soldado, já passou por coisas piores." Você repete isso na sua cabeça, tentando aplacar o sentimento ruim que te invade ao vê-lo tão desconfortável. Você sempre foi a pessoa que cuidava de todo mundo. Você se doava por quem precisasse e já se fudeu muito por isso, mas essa não parecia uma dessas situações. Dormir ao lado de um estranho, um assassino, um soldado de mais de 100 anos. Você tinha todas as razões pra nem sequer considerar a ideia, mas observou seus labios se moverem e sua voz sair.

- Você pode dormir na cama, se quiser.- Seu sussurro cortou o silêncio e você esperou por alguns segundos, sem nem saber se ele havia escutado. Ele poderia ter dormido. Ele poderia estar inconscien...

- Eu estou bem. - Ele respondeu, ainda virado de costas pra você e de frente pra porta.

- Você está deitado nesse chão duro só com uma jaqueta de travesseiro. Bem é a última coisa que você está.

- Já dormi em lugares muito piores. - Ele diz como se estivesse encerrando o assunto, mas você não funciona assim.

- Sinto muito, mas eu sou uma anfitriã nata. Não vou conseguir relaxar até saber que você está confortável. - Você tenta convencê-lo, mas ele continua imóvel. Idiota.

- Estou confortável. Vá dormir e pare de falar. - Você franze as sobrancelhas e fuzila a nuca dele, querendo dar um chute na bunda dele.

- Para de ser teimoso.

- Pare de ser irritante. - Ele devolve, te fazendo bufar.

- Você me conhece a um dia e já me deixou mais irritada que a maioria das pessoas.

- É recíproco. Agora cale a boca e conte carneirinhos. - Ele se ajeita parecendo com raiva no chão, o que te irrita ainda mais.

- Vou contar suas cabeças flutuantes. Talvez me imaginar te chutando possa finalmente me dar a paz que eu preciso. - Você se vira de costas e cruza os braços com raiva, fechando os olhos.

- Não sonhe comigo, já basta ter que conviver com você fora do seu inconsciente. - Ele diz, mas parece ter uma pontada de diversão no seu tom.

- Vá se fuder. - Você se ajeita mais uma vez na cama, bufando ao tentar pegar no sono. Seus olhos ficam pressionados com força e quando parece que se passaram horas, você vê no celular que foram 2 minutos. Porra. Se levantando sem delicadeza você para ao lado dele e puxa a jaqueta com força. A cabeça dele alcança o chão e ele te olha confuso e furioso, o tipo de expressão que você já estava se acostumando.

- Que porra você...

- Deite na cama. Não vou perder meu sono porque você é um idiota teimoso. - Você cruza os braços e fica esperando que ele faça o que mandou.

- Eu. Estou. Bem. Qual parte você não entendeu? - Ele senta e te encara, mas você não desvia o olhar, levantando uma sobrancelha sem desistir. - Mimada. - Ele rosna a palavra, levantando a contragosto e dando a volta na cama, parando do lado oposto ao que você estava deitada.

- Vamos, deite. - Você incentiva, achando graça em como ele estava contrariado.

- Não preciso de baba. - Ele revira os olhos, mas faz o que disse. Quando o vê deitado sem travesseiro, descobre que tem mais esse problema. Só tem um travesseiro na sua cama. Colocando a jaqueta dele nas costas da cadeira da sua penteadeira, você volta pra onde estava deitada. Empurrando o travesseiro pra perto da cabeça dele, você o vê te encarar.

- Você não precisa gostar de mim pra dormir bem. Não vou te atacar durante o sono, fique tranquilo. - Você não observa a reação dele, pois começa a se ajeitar embaixo das cobertas. Apesar dele estar por cima delas, todo o corpo dele exala uma presença que se espalha por todo o quarto. Algo que você pode sentir mesmo que ele ainda estivesse no chão.

- Eu vou voltar pro chão. - Ele diz e ameaça se levantar, mas você agarra o braço dele, o mantendo ali.

- Pode me dar um motivo razoável pra preferir dormir ali que numa cama fofinha? - Ele olha pro próprio colo, parecendo se concentrar em alguma coisa.

- Talvez eu não querer seja um bom? - Ele diz, mas não te encara. Então a realidade te bate. Ele realmente não quer estar na mesma cama. Ele não é só teimoso, não era só por educação ou algo assim. Ele não quer estar nessa situação. Seu coração se aperta de um jeito estranho, como se estivesse sendo rejeitado. Sua mão se solta da dele junto e você se afunda mais embaixo das cobertas, mordendo o labio e olhando pro teto.

- Você... você tem razão. Pode ficar onde quiser então. - Seus olhos se fecham e você pensa em todas as coisas boas que te ajudavam a dormir quando tinha dificuldades. Pensa em terras de jujubas. Pensa em todas as músicas que gosta. Começa a cantarolar na sua cabeça e até tenta os carneirinhos, mas sua mente não se desliga. Você está com uma sensação de ansiedade no peito e a fonte está bem ao seu lado.

- Você deveria parar de ser tão egoísta e não pegar o travesseiro todo pra você. - A voz sai mais suave, te fazendo abrir os olhos e encara-lo. Um pequeno sorriso de vitória desponta dos seus labios e você empurra o travesseiro quando ele levanta a cabeça e finalmente a vira em sua direção. Vocês se encaram por alguns segundos, num silêncio que apesar da estranheza da situação, não é desconfortável.

- Durma bem, Bucky. - Você dá um pequeno sorriso, ficando um pouco tímida pelo escrutínio dele. Antes que ele fale algo, você fecha os olhos e sente seus músculos finalmente relaxarem. Quando está quase se perdendo na inconsciência, você o ouve murmurar.

- Tem razão. Aqui é melhor.

illicit affairs | bucky barnesOnde histórias criam vida. Descubra agora