31 - Preconceito e fogo no parquinho

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⚠️ O capítulo a seguir possui comentários etnocentricos de personagens ⚠️

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"Pessoas que não entendem
Que não querem entender
Vão destruir o próprio mundo
Dentro de suas próprias muralhas"
- Borders, Heaven

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Liguei para Taeyeon naquele período na esperança de que ela me dissesse algo para poder ajudar Chansung, afinal ela tinha muito mais experiência do que eu. Minha amiga falou que eu não poderia fazer muita coisa, já que era uma luta interna que o Chansung precisaria travar e aguentar enquanto celebridade. Eu apenas podia não tocar no assunto até que ele se sentisse seguro para falar e deveria estar do seu lado, nem que fosse para assistir um filme para distraí-lo. Ainda assim, eu não era nenhum especialista para poder achar que poderia resolver tudo por ele. Na verdade, quem resolve problemas mentais são sempre as pessoas que os tem, quando conseguem encarar suas realidades de uma nova forma.

Eu achava que era impossível mais alguma surpresa acontecer naquela viajem, estava errado, é claro. Agora preciso falar das entrevistas que demos nos países.

Elas eram essenciais para que o mundo tivesse a oportunidade de nos conhecer, por isso nos apresentávamos nos programas de televisão. Quando pessoas de culturas muito diferentes interagem é normal que elas se estranhem. Respeito não é algo discutível, mesmo nessa situação. Sabemos que o nosso jeito de criar entretenimento é completamente diferente dos países que visitamos, talvez isso explique por que nossa indústria ainda era tão centralizada.

Houve uma entrevista que fizemos ao vivo que deu o que falar na Coreia do Sul, segundo a Taeyeon. Como em qualquer outra, o apresentador da emissora, que tinha uns 40 anos e parecia já estar há anos no cargo, nos perguntava várias coisas aleatórias e até repetitivas, como "com quais artistas internacionais gostariam de produzir músicas?", "já provaram as comidas regionais?" e "o que esperar dos shows?". O programa tinha plateia e estávamos sentados em um sofá bem largo ao lado do senhor. Daquela vez, foi uma série de comentários que foram desandando a conversa. Fiquei até me perguntando se o interprete estava traduzindo certo.

- Vocês não se incomodam em serem tratados assim? Digo, usando tanta maquiagem e acessórios femininos? E dançando... Como que chamam mesmo? Dança contemporânea. Não seria balé, não é mesmo? – O homem estranhou ao ler os papéis do roteiro para relembrar o termo. Conseguiu arrancar sorrisos da plateia diante de nós.

Ficamos em silêncio por um breve momento, até Danny que costumava a responder de imediato hesitou.

- A gente já está acostumado, é a moda da nova geração – Danny finalmente falou e fez o apresentador sorrir fechado.

- Você não está envolvido nisso de balé, não é Danny? – perguntou dramático.

- Ah... Nosso dançarino especialista em contemporânea é o Haru, eu não tenho habilidade para isso – explicou pausadamente e sustentando um sorriso.

- Mas todos os homens na Coreia são assim?

- Assim como? – Perguntei interrompendo a conversa e colocando meu corpo para frente.

- Sabe, se vestem desse jeito.

Olhei um momento para os figurinos. Não havia nada de incomum, mas talvez fosse chocante ver que usávamos maquiagem (bastante sombra), brincos, muitos colares, pulseiras, calças justas e peças de roupa mais chamativas quanto à cor.

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