40 - Pela 1ª vez em muito tempo, Jeon Yunho

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Achar um apartamento demandava que eu estivesse disposto e mentalmente bem para poder lidar com uma mudança. Só que eu realmente fiquei pior do que eu esperava e tive que adiar isso.

Eu chorei muito naquela noite da notícia, mesmo que eu tivesse que não fazer barulho para não incomodar Hyunjun. Foi bem difícil dormir nas noites seguintes e não havia palavras que me fizessem ficar feliz. Acho que estava apenas suportando minha situação e não a encarando.

Eu lutei muito para estar no K.O.K, deixei até que dançar e cantar, que antes eram uma diversão, se tornassem uma obrigação. Meu mundo estava desabando e eu não tinha mais nenhum artifício para mantê-lo sustentado. Eu queria sumir, queria ser invisível, mas imagens de câmeras e flash apareciam na minha cabeça para me atormentar. Eu sabia que não teria mais paz e a sensação de estar fora do grupo me corroeu dia após dia, até que não me restasse energia para sair da cama. Imaginei muito que teria feito amigos e ido para a faculdade se tivesse escolhido ficar na escola no início da carreira. Porque estava muito difícil para mim lidar com a responsabilidade por algo que não escolhi.

O mês seguinte à nota de esclarecimento foi bem duro. Eu só fui perceber que ficar sozinho comigo era realmente prejudicial para meu estado mental quando notei como ficava mais disposto apenas quando ligava para alguém.

Na verdade, Taeyeon me ajudou a visualizar isso. Ela não me via havia um bom tempo, porém me ligou no início de sua turnê. A minha amiga xingou céu e terra pela injustiça do boato. Ri da forma que ela me confortou, trouxe até a disposição que eu precisava para, pelo menos, me alimentar melhor. Taeyeon disse que a tour estava ocorrendo normalmente, que as pessoas dos outros países a receberam bem e que ela sentia a minha falta sempre que cantava a sua versão solo de "Pink Ways", nossa música como dupla que fez mais sucesso. Ah se ela soubesse o quão precisava dela naquela época...

Já minha irmã, quando me ligou, conversou mais sobre ela (e, de alguma forma, me distraiu bastante por uma tarde inteira). A pequena orgulhou muito a mim, suas notas estavam cada vez melhores e isso vale muito quando está numa escola de sistema meritocrático. Mas ela também me deixou muito abatido quando disse que sentia minha falta e que queria desabafar sobre sua vida comigo, mas eu nunca estava disponível e não voltava para casa há muito tempo, principalmente pelo fato dos meus pais terem desconfiado que eu deveria ter sido preso.

Ouvir a Minyoung, no início de sua adolescência, dizer que precisava de mim, não do artista Heaven, mas do irmão Yunho, simplesmente partiu meu coração e me preencheu de angústia. Chorar por algo que não fosse para me lamentar pela minha situação era novidade naquele caótico ano de 2016 e isso também me ajudou a entender que eu precisava andar por conta própria.

Eu sentia falta da minha família. Sentia falta de acordar cedo pela manhã, comer algo de frente para a minha irmã, ao lado da minha mãe e do meu pai. Eu sentia falta até dos meus colegas de classe para quem, diversas vezes, tentei agradar, mesmo quando me sentia desconfortável, para que não me fizessem mal. A verdade é essa: eu sempre temia que as pessoas me odiassem, mas eu não pensei que, se todos me amassem, eu poderia aprender a me odiar.

Minyoung disse que estava numa situação difícil, ela estava a ponto de explodir de tanto dever de casa e obrigações escolares. Ela não estava bem também. Eu não sabia bem o que dizer, não frequentava a escola há tempos. Quando olho para o meu eu do passado, fico com pena, porque eu era inofensivo demais e tinha tantos medos... eu fiquei muito incomodado ao perceber que se quer conseguia ajudar minha irmãzinha. Tenho certeza de que não poderia resolver seu problema, independentemente do que eu dissesse, então, invés de dar soluções, aconselhei que escrevesse uma espécie de diário como que estava fazendo (mesmo que fosse apenas para escrever "Eu odeio a escola" em todas as páginas). Naquele telefonema, ela me disse algo que ficou eternizado na minha memória: "Obrigada por me ouvir, mesmo que eu seja uma criança na cabeça dos outros. Obrigada por fazer com que meus problemas pareçam ter importância".

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