35 - A pergunta que ficou no meu coração

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Olhando os vídeos da velha máquina que usávamos para gravar coreografias, completamente esgotado e querendo qualquer coisa diferente na minha vida que não fosse treinar para o Impossible Challenge, sabe mais o que eu encontrei? Algo que eu nem mesmo me lembrava. A gravação da dança que eu fiz com Han Seungjae, aquele garotinho que foi intimidado durante uma das aulas em que fui tutor. Ele já devia ser um jovem mais ciente de seus objetivos agora que já tinha uns 16 anos. Como eu poderia lembrar de alguém que eu conheci tão pouco? Perguntei casualmente ao gerente Seunggi, enquanto estávamos numa pausa no refeitório, se ele ainda tinha notícias do garoto, sem expectativa de que ele soubesse.

- O garotinho daquela época? Como assim nunca mais soube dele?

- Hum... Digamos que nunca mais me perguntei onde ele estava. Queria saber se ele desistiu de ser cantor por minha culpa.

- Mas ele não tinha feito aquela carta para você? – Ele perguntou.

- Carta? Como assim?

- Aquela... Eu não te entreguei? Acho que recebi ano passado, devo ter me esquecido. Ele foi bem meticuloso, esperou a oportunidade para poder entregar nas minhas mãos. Só assim para eu me lembrar dele. Deve ser o destino.

- Onde ela está? – Perguntei animado.

- Boa pergunta, se eu não tiver jogado fora sem querer, deve estar em um dos armários da minha sala. Não me diga que você vai mesmo procurar esse negócio quando eu fui bem claro que a sua única preocupação deveria ser o Impossible Challenge... Espera, eu acho para você, não quero ninguém bagunçando meus documentos - Seunggi falou enquanto eu já me distanciava indo para a sala dele.

O homem olhou ao redor o próprio escritório como se tentasse se lembrar de onde deixou, desistiu de contar com a memória e nós dois começamos a fuçar as gavetas em busca da tal carta. Seunggi era até mais organizado do que eu imaginava com todos os documentos. Pelo fato de ele sempre ser muito despojado e esperto, não achava que fosse tão cauteloso em manter tudo separado em setores. Alguns tinham datas, outros possuíam títulos como "Contratos dos membros", "Realitys" e "Futuros projetos". Havia muitas folhas na área dos próximos eventos em negociação.

O homem encontrou o envelope no meio das suas coisas pessoais em um armário pequeno no canto do cômodo e me entregou. Agradeci imensamente por ele ainda ter se lembrado daquilo e me despedi dele, porém o gerente pediu para que eu lesse na frente dele. Não questionei e abri o envelope. Havia uma folha com um texto feito em uma caligrafia muito clara de uma lauda que dizia:

"Heaven, provavelmente não se lembra de mim, por isso me considere como apenas mais um estranho te entregando uma carta. Pensei muito se devia escrever algo, acabei fazendo isto porque minha amiga insistiu que eu o fizesse. Eu não espero que recorde, mas anos atrás você me aconselhou a deixar a empresa para focar na escola durante uma aula que estava dando para nós de uma subsidiária da Highlight Enterteriment. Eu não sei porque fui te ouvir."

- Meu Deus, o menino vai te xingar por uma carta – Seunggi riu alto e eu só ri de nervoso.

"É sério, eu era jovem, tinha muitos sonhos e estava com sangue nos olhos por isso... Por que eu te escutei? Na verdade, você me lembrou muito essa minha amiga que me incentivou a escrever isto. Eu era só uma criança e, agora, sei que a indústria da música não é exatamente o que eu imaginava. Se eu não tivesse ficado na escola, não teria conhecido algumas das poucas pessoas que já mostraram zelo por mim. Eu também me perguntei muito sobre porque você me tratou bem. Cheguei a achar que queria o meu mal, depois que queria me proteger. Eu não consigo esquecer de fato das coisas que aconteceram de ruim comigo quando treinei durante aquele ano para ser cantor e dançarino, porém agora essa memória está sendo abafada com muitas outras melhores. Era disso que queria me proteger? Queria que eu vivesse como uma criança normal? A minha amiga disse que você fez isso comigo exatamente pelo motivo de você mesmo não ter sido um jovem normal, não ter conseguido viver a adolescência sem se sentir pressionado pelas câmeras e pela empresa.

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