33 - Fermata

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Existem várias coisas que não podemos controlar, mesmo se quiséssemos, no máximo, é possível ficar do lado de quem precisa nos momentos difíceis e comemorar cada pequena vitória dessas pessoas. Nada como o tempo para entorpecer a gente e nos fazer acostumar com coisas que não deveriam ser normais.

Uma coisa estava estranha desde que tínhamos voltado da turnê e era a saúde e resistência do Haru. Como foi combinado desde antes da nossa estreia no K.O.K, o japonês seria um dos nossos dançarinos principais, porque aprendia as danças com facilidade e era muito flexível. Essa posição também pede muito esforço físico e constância, porque, quando em palco, precisa evitar mostrar a respiração pesada. Mesmo quando estávamos fazendo shows e precisávamos cantar e dançar por horas com pausas rápidas demais apenas para beber água e trocar de roupa. Nós mal começamos a ensaiar coreografias futuras na tentativa de formar um banco de dados com passos ou ideias e Haru já estava com um ritmo reduzido, até pedia tempo para descansar, coisa que nunca partia dele. Certo, quando éramos mais jovens, cansávamos com mais dificuldade, porém estava óbvio que Haru não parecia estar dando tudo de si. Não porque não queria, afinal era dedicado com tudo, mas porque não conseguia.

Durante esse treino, Haru pediu alguns minutos para relaxar e eu saí puxando os outros membros para encurralarmos o garoto. Ele olhou nós quatro sentado no chão, o que o fazia parecer ainda menor diante de todos nós em pé.

- Tem alguma coisa acontecendo? – Perguntei sendo intrometido como sempre.

- O que foi? – Ele falou uma expressão típica de quando estava escondendo algo. Uma cara inocente e com olhos esbugalhados.

- Sabe do que estou falando, Haru. Tudo bem se não estiver se sentindo bem, mas precisa nos contar – Insisti imaginando que algo havia o chateado.

- Você andou passando mal no dormitório várias vezes, não dá para esconder isso – Chansung revelou e Haru o olhou ligeiramente assustado, como se aquele fosse seu maior segredo. De repente, isso ganhou uma dimensão maior, não esperava que eles entendessem tão bem o motivo de eu querer conversar com Haru.

- O que está acontecendo, irmão? – Nian agachou do lado dele.

O garoto passou o olhar por todos nós atordoado e bufou, não de raiva, acho que era de aflição. Não demorou nem um segundo para seus olhos começarem a brilhar e seus lábios formarem uma linha, estava tentando segurar o choro. Tinha algo que eu estava desesperado para fazer, por isso pedi para Chansung procurar Seunggi e dizer que precisávamos dele urgentemente. Sentei-me no outro lado do Haru para conversar e Danny buscou água para o garoto, assim ele começou a chorar de verdade, mesmo que não tivéssemos dito mais nada. Era assustador ver Haru soluçando, já era adulto, no entanto, mesmo quando pequeno, não o via chorar daquele jeito.

Derramar algumas lágrimas por causa de um mangá era até usual, mas ele fazia isso rindo da situação. Dessa vez, Haru chorou sem se conter e, nem eu, nem Nian, nem Danny, sabíamos o que fazer. Sem falar nada, só esperamos Haru acalmar um pouco. Isso demorou tanto que deu tempo do gerente Seunggi chegar no lugar sendo arrastado pelo Chansung, acho que ele não achava que era de fato algo sério. Quando o mais velho avistou nós em volta do menino, sua expressão mudou de uma de deboche (cara usual dele) para uma de preocupação. O gerente se apressou até nós e se sentou de frente para Haru.

- Haru... O que aconteceu? – Seunggi perguntou diretamente para mim.

- Fomos conversar sobre ele estar passando mal esses dias e... – Não me dei o trabalho de completar o evidente.

- Ei, Haru, vamos, se quiser pode conversar só comigo ou com eles, só não mantenha as coisas para si, tudo bem? – Seunggi combinou e Haru afirmou com a cabeça.

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