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A onda tupiguarani
A DENOMINAÇÃO "TUPIGUARANI", utilizada pelos arqueólogos para designar uma
Tradição caracterizada essencialmente por um tipo de cerâmica, presta-se a confusão e
precisa ser explicada. "Tupi" e "Guarani" são termos aplicados desde o século XIX pelos
pesquisadores a populações que falam línguas aparentadas; fazem parte de um "tronco"
linguístico comum, chamado "tupi-guarani" (escrito com hífen), da mesma forma que as
línguas neolatinas atuais derivam do latim. As línguas tupi (encontradas ao norte do estado
de São Paulo) e as línguas guarani (ao sul do rio Paranapanema) são muito próximas entre si
- como o são espanhol e o português. Por isso são chamadas Guarani as populações
meridionais (que vivem hoje no Paraguai, no Rio Grande do Sul e até no litoral de São
Paulo), e Tupi as populações do norte, embora elas usem outros termos para designar a si
mesmas.
Muitas das tribos tupi ou guarani que existiam no século XVI estão extintas (como os
Tupinambá do litoral carioca, os Tamoio de Santa Catarina, os Mundurucu da Amazônia),
enquanto outras ainda povoam o Paraguai ou espalham-se pela Bolívia (Siriono), Brasil
(Kaapor, Tapirapé, Kamayura, Araweté etc.) e chegam até aGuiana Francesa. No século XVI,
os primeiros colonos e missionários europeus notaram a existência de hábitos e crenças
comuns entre as populações que falavam essas línguas aparentadas. Por outro lado,
mencionam as vasilhas cerâmicas de forma e decoração muito peculiares fabricadas pelas
mulheres - sobretudo tupinambá. Por isso, os arqueólogos passaram a considerar que os
restos arqueológicos de potes parecidos na sua forma e decoração com as vasilhas
tupiguarani teriam sido deixados por ancestrais desses povos, possivelmente de fala tupi-
guarani.
No entanto, não podendo se aɹrmar com certeza que línguas falavam os homens pré-
históricos, criaram um termo ambíguo que sugeria uma relação entre os membros de um
tronco linguístico (tupi-guarani), etnias reconhecidas pelos europeus (os Tupi e os Guarani)
e os fabricantes e usuários pré-históricos da cerâmica policroma, sem aɹrmar que se trataria
de uma identidade. Esse termo é tupiguarani (sem hífen). A palavra se aplica, portanto,
exclusivamente aos achados ligados a um tipo de cerâmica, não implicando homogeneidade
automática na língua e nos costumes dos seus portadores.
Mesmo assim, os vestígios tupiguarani mais tardios são datados do contato com os
europeus e podem ser atribuídos com certeza aos Tupinambá, Tupiniquim ou Carijó.
Entramos assim no domínio da proto-história, e seria ridículo recusar a priori a utilização das
informações fornecidas pelos cronistas e etnólogos, com a condição de não esquecermos que
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A Pré-história do Brasil
Non-FictionLivro de André Prous (só tá aqui pq fica mais fácil pra eu ler, mas não é minha autoria)